quarta-feira, 30 de maio de 2012

Singularidade Qualificada














Apesar da austeridade e da falta de oportunidades para todos, existem ainda boas notícias. O Açoriano Oriental deu destaque à utilização de rendas do Pico por parte da mais internacional das artistas nacionais – Joana Vasconcelos. A artista prepara uma exposição em Versailles, França, que, desde 2008, convida artistas contemporâneos a exporem no espaço. A estratégia visa captar mais público para um local inscrito no roteiro do turismo cultural mundial, mas que necessita de se reinventar.

Outra notícia que merece ser realçada tem a ver com os prémios de Museu Europeu do Ano, em que o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos foi finalista. Não ganhou, mas apenas o facto de constar da lista de seleccionados é per si uma vitória. Quer o projecto de arquitectura, quer a produção de conteúdos valorizam este projecto e tornam-no distinto, posicionando-nos de forma qualitativa numa rede europeia. A selecção do Centro de Interpretação evidencia o valor dos programas que visam potenciar aquilo que nos distingue, em vez das propostas de cópia de modelos falidos ou de réplica do que não se aplica à nossa realidade.

A este propósito, recordo o que escreveu António Pinto Ribeiro sobre os mitos do Turismo Cultural (Público/Ípsilon de 11/05/12) e sobre outros mitos que por cá se têm propagandeado. Primeiro, porque a depressão colectiva causada pela inevitabilidade da austeridade (agravada por irmos para além da Troika) deu lugar a uma retórica do crescimento, no seguimento da vitória de François Hollande, que até aqui tinha sido amplamente criticada por quase todos e que agora passou a 'solução' para todas as nossas maleitas. Segundo, também a subida dos impostos directos ao sector turístico e cultural, com o IVA à cabeça, fez com que o governo da república conseguisse atrofiar «(...) uma actividade que é uma fonte de receitas importante para o país», sem que importem «os custos sociais e ambientais que tal pode provocar», bem como «conduziu à criação de mais uma mítica solução económica para o país».

Neste sentido, também a notoriedade e a valorização do destino Açores não se faz apenas com a possibilidade de turistas e residentes viajarem de forma mais acessível, isto apesar das passagens estarem, actualmente, a valores médios mais baixos com preços de combustíveis mais altos. Não obstante, esta é uma revindicação legítima e que é de todos. O que se estranha é que quem faz bandeira disto, não fale da necessária qualificação dos diversos sectores associados ao Turismo. Mais estranho, ainda, é que dois ex-presidentes da SATA não saibam como baixar as tarifas aéreas, nem apontar um valor para tal redução e que não o tenham feito no tempo devido. Felizmente, há quem o saiba fazer sem onerar as obrigações de serviço público.

Nos Açores não devemos «encenar a História» nem fazer dela um «espectáculo» e muito menos aderir a uma «lógica da espectacularidade populista», por muito que nos digam que isso é o está a dar. Devemos, isso sim, pugnar pela qualificação e pela singularidade que nos distinguem, como fazem as rendas do Pico nas obras de Joana Vasconcelos ou o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.

* Publicado na edição de 28/05/12 do AO
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terça-feira, 29 de maio de 2012

É d' Homem!

«(...) Ainda hoje é possível ver como tudo o que depende da administração central anda mais devagar e tudo quanto somos chamados a fazer por nós anda mais depressa. (...)
O último discurso de Carlos César, ontem, nas comemorações do Dia dos Açores, é revelador do Homem que é e tem sido como Presidente do Governo. Ninguém ficou indiferente às palavras que proferiu. Sobretudo quem não o aplaudiu.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Parar é Morrer

RX, Abril 2012





















O encerramento do Festival Panazorean ficou marcado pela estreia, entre nós, de "É na Terra não é na Lua" o multipremiado filme/documentário do realizador Gonçalo Tocha.

As cerca de 400 pessoas que assistiram às 3 horas de exibição não saíram defraudadas. Se a duração podia, à partida, ser um entrave à mobilização de público, tal não se veio a verificar. A duração pouco conta neste filme, o tempo sim. São 3 horas de exibição pública, mas foram muitas mais as que ficaram em arquivo, como nos confidenciou o realizador na breve conversa que se seguiu à projecção de "É na Terra…". O mais difícil foi o tempo de montagem, o de construir um filme com base num 'arquivo' de 160 horas recolhidas ao longo de semanas e meses. O registo é de intimidade. A câmara não é um estranho, um intruso. Passou, sim, a ter o estatuto de mais um elemento na 'imensa família' que habita o Corvo. A deambulação inicial dá lugar à partilha dos momentos mais íntimos, do acompanhar das rotinas quotidianas, do abrir do baú da(s) memória(s), como se estivéssemos na presença de um parente distante de visita às raízes familiares. O sentido de partilha e de generosidade da população do Corvo com o Gonçalo e do Gonçalo com o público resulta em algo especial. E esse facto não tem passado despercebido a quem vê o filme, seja em Locarno, em São Francisco, Madrid ou Buenos Aires, lugares por onde tem passado e amealhado prémios. Há uma partilha de identidade(s) sem recurso a uma localização geográfica pré-determinada.

Vem esta entrada a propósito de 2 situações. A primeira tem a ver com a displicência com que, localmente, ignoramos acontecimentos culturais ímpares, que passam entre nós, com a agravante de atribuirmos notoriedade a quem ostensivamente não a tem - situação que urge alterar. Não podemos balizar tudo pelo mesmo diapasão. E esta discussão não tem nada a ver com o que é popular ou erudito. Isso é 'entretenimento' para quem não sabe ou não tem nada para dizer.

A segunda está intimamente associada ao Gonçalo, nomeadamente, no que concerne ao reconhecimento internacional que a jovem cinematografia portuguesa tem tido, nos tempos mais recentes, e do quão mal estamos em termos de Cultura na República. A falta de meios não explica tudo e não colhe. Ninguém está indiferente à redução de meios e à contenção a que estamos, todos, sujeitos (dificuldades com que o sector cultural sempre se deparou e com as quais sempre trabalhou). Estamos, sim, a falar do corte total e absoluto de verbas por opção ideológica. Uma acção que motivou a ida à Comissão de Educação, Ciência e Cultura, da Assembleia da República, dos realizadores Miguel Gomes, João Salaviza e Gonçalo Tocha, para «(...) deixaram bem vincado o paradoxo. Num momento em que uma nova geração de cineastas acumula prémios em festivais internacionais de renome, o cinema em Portugal corre o risco de desaparecer (...)».

Esta e outras situações são reveladoras do estado de espírito em que vive o país, quando pequenas conquistas, da Cultura ao Estado Social, são colocadas em causa pela ausência de políticas com critérios bem definidos e, de momento, são deixadas à mercê da "livre iniciativa".

Ao contrário da ideologia vigente "o valor da Cultura não se mede pelo montante da sua conta no Orçamento" (nas palavras do escritor João Ricardo Pedro). O olhar íntimo de Gonçalo Tocha sobre a realidade de um pequeno universo de ilha é, ou permitam-me que o leia deste modo, o repositório de uma humanidade e esperança perdidas na voragem destes dias e do clima suicidário que se instalou na Europa. "Parar é morrer" disse Manoel de Oliveira na sua mensagem aos deputados da Assembleia da República. Faço minha a lucidez das suas palavras.

* Publicado na edição de 21/05/12 do AO
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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Álvaro, a quanto obrigas!

O que ontem era verdade hoje pouco importa.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Encerrado à circulação





















Por altura das maiores festas religiosas dos Açores os WC’s públicos, na cidade que as acolhe, estão fechados (o 'Metro' na Av. Infante D. Henrique estava ontem, pelas 20h00, encerrado à circulação). Convém referir que a menos de 100 metros estão instaladas as chamadas 'barracas' de comes e bebes que, anualmente, juntam muitas centenas, para não falar de milhares de pessoas, que não têm acesso a instalações sanitárias em número (e condições) suficientes. O que por si já é condenável e reprovável.

Passam os anos mas esta chaga não se altera. Será esta visão cosmopolita da autarquia?! Ou estará, também ela (a visão, entenda-se), fechada por imposição da troika?!!

terça-feira, 15 de maio de 2012

No comments

Proposta prevê redução superior a 40% nas passagens aéreas

O silêncio de Lisboa diz quase tudo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mau tempo

Estrada » Feteiras » Vista do Rei, São Miguel













O mau tempo que se tem feito sentir nos últimos dias, no arquipélago, já provocou inúmeros prejuízos materiais e alguns insólitos. Felizmente, e até ao momento, sem vítimas a registar.

sábado, 12 de maio de 2012

Desiquilibrado?!

Marcelo Rebelo de Sousa diz que declaração de Passos Coelho foi "desequilibrada"
O país passa a vida a tentar interpretar o que dizem os mais altos magistrados da nação. Será um problema das massas ou um desiquilíbrio de poder(es)?!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Penoso

Viegas diz que Europa Criativa libertará entidades culturais da dependência de subsídios
A postura do SEC revela, a cada dia que passa, um enorme desconhecimento do sector que ele, supostamente, governa.

Confesso que, sem grande surpresas, isto já começa a ser penoso.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O dia seguinte

"Hollande: austeridade não é uma fatalidade"
Infelizmente, o entendimento dos mercados é outro.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Haja 'esperança'!

Esperança, Campo de São Francisco, Abril 2005
















«(...) A 18 de Abril deste ano a "Google" prestou homenagem com logótipo personalizado ao poeta açoriano Antero de Quental, assinalando os 170 anos do seu nascimento. Antero de Quental suicidou-se em 1891, em Ponta Delgada, deixando o seu nome inscrito na Poesia e Cultura portuguesas.

Com o aproximar das Festas do Senhor Santo Cristo lá estão (mais uma vez) as barraquinhas a tapar o banco onde se matou o poeta e a âncora com a palavra “esperança” inscrita.


Não era já tempo da Câmara Municipal de Ponta Delgada ter protegido aquele local? Era. (...)


O Governo dos Açores já fez a sua parte: criou o "Roteiro Cultural Antero de Quental", permitindo assim convidar os locais e visitantes a fazerem parte da história desta cidade, vivendo-a.


Um povo sem história (sabemos todos) é um povo sem memória. E Antero de Quental merece maior respeito do poder municipal… (...)»
Entrada pertinente de Mariana Matos hoje com o AO.