Após anos de “chumbo” (e “encostados à parede”), os governos (da república) liderados pelo Partido Socialista (PS), entre 2015 e 2023, deram à Cultura a centralidade que ela merece, um assento à mesa do conselho de ministros e a implementação de uma estratégia de reforço orçamental (gradual e continuado).
A Direção-Geral das Artes (DGARTES), um dos principais
organismos do Ministério da Cultura (MC), teve (e tem tido) um papel
fundamental na implementação de políticas públicas que visam responder às
naturais expectativas de profissionais e das estruturas do sector das artes em todo
o território nacional.
Contudo, pela primeira vez, em oito anos de concursos, a
Declaração Anual 2025 da DGARTES, na qual são publicitados os concursos a
abrir, contrariou a tendência de crescimento das dotações alocadas a cada
modalidade de apoio.
O valor do programa de Apoio a Projetos (concursos para Artes
Visuais, Criação e Edição, Internacionalização, Música e Ópera, Programação e Procedimento
Simplificado) foi o mesmo de 2024 (ainda aprovado pelo PS), outros programas de
apoio foram revistos em baixa (Apoio Complementar Europa Criativa) e os
concursos - Arte e Coesão Territorial (destinado aos territórios de baixa
densidade cultural) e o Arte pela Democracia (uma parceria entre a DGARTES e a
Estrutura de Missão para as Comemorações do 50.º aniversário da Revolução de 25
de Abril de 1974), foram, simplesmente, obliterados.
Estamos longe da promessa de aumentar em 50% o orçamento do
Ministério da Cultura (MC), e estes 11 meses de (des)governação, demonstraram o
seu contrário, nos quais (não) fomos surpreendidos pelo rol de decisões
persecutórias, medidas inócuas e opções erráticas. Exemplo(s) flagrantes da
falta de estratégia e do profundo desconhecimento da diversidade (e
complexidade) das estruturas tuteladas (pelo MC) e do tecido artístico
português.
As enormes assimetrias territoriais implicam a necessidade
imperiosa de continuar a investir em políticas de coesão territorial, daí os
incentivos à Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses (RTCP) e à RedePortuguesa de Arte Contemporânea (RPAC), instrumentos fundamentais para prosseguir
a missão de fomentar (e descentralizar) o acesso às artes, mas cujo novo ciclo
de concursos à programação não acompanha a inflação, nem a dinâmica crescente. O
que na prática é mais uma evidência do retrocesso anunciado.
A campanha eleitoral termina na próxima sexta-feira e,
infelizmente, a Cultura é sistematicamente ignorada no roteiro eleitoral. No
entanto, honra seja feita à esquerda, em particular, ao Partido Socialista, que
tem chamado à atenção para a importância dos apoios nacionais na sedimentação
da actividade artística nos Açores e como isto tem contribuído (ou poderá estimular)
à fixação, profissionalização e valorização de recursos humanos especializados.
Para melhor atendermos à dimensão alcançada, o montante
anual de apoios da DGARTES injectado no arquipélago é (hoje) superior a 1.5
milhões de euros. E esta possibilidade só foi tornada possível com um governo
do Partido Socialista, o qual, desde 2018, viabilizou o acesso aos artistas e
instituições regionais às linhas de financiamento nacional (e é, actualmente, o
garante de parte substantiva da criação artística na região, do funcionamento
de várias estruturas e da segurança laboral dos seus profissionais).
Perante o “fosso ético” para o qual o primeiro-ministro arrastou o governo e o país, a 18 maio, a nossa opção de futuro recai, inexoravelmente, por um caminho que não se constitua como uma desvalorização, um entrave ou, até mesmo, uma estagnação (por tudo aquilo que tem sido arduamente conquistado).
[+] publicado na edição de 13 maio 2025 do Açoriano Oriental e online no Diário da Lagoa
[++] imagem Cães do Mar
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