sexta-feira, 12 de julho de 2024

CulturAçores

A revista “CulturAçores – Revista de Cultura” comemora, este ano, 10 anos com a publicação da sua 15ª edição e de um caderno especial com a recolha de múltiplos testemunhos sobre o “Pensar a Cultura d(n)os Açores.”

Este tem sido um espaço de divulgação privilegiado dos serviços externos da Direcção Regional da Cultura e das entidades com as quais colabora, evidenciando o importante trabalho desenvolvido por técnicos e especialistas, nem sempre reconhecido, e vezes demais, não nas melhores condições, materiais e financeiras.

No espaço de uma década assistimos a um conjunto impressivo de alterações na dinâmica artística e organizacional dos agentes criativos e culturais do arquipélago.

Contudo, há questões que não perdem actualidade, nomeadamente, aquelas que significam incremento orçamental, objectivos estratégicos e uma visão de futuro (que não implique pensar a cultura como um bibelot ou a guardiã das tradições e do património).

No estado (actual) das coisas, a geografia (cultural) da(s) ilha(s) passou a ser a que nós lhe quisermos (saber) dar.

PS: A propósito da intenção da JSD em criar a marca “Cultura Açores”, informa-se que a mesma está registada desde Abril de 2011, pela Região, com o nº 478805.

[+] publicado na edição de 12 julho 2024 do Açoriano Oriental

sábado, 6 de julho de 2024

Insólito

Exemplo concreto (e insólito) de uma região assimétrica. Este anúncio foi publicado hoje no Diário Insular. Em São Miguel, como em todas as outras ilhas, procura-se quem procure mas tem sido difícil...encontrar.

sábado, 22 de junho de 2024

Impacto (futuro)

Os actuais movimentos migratórios foram tema para um debate recente, alicerçado nos anseios dos que nos procuram e nos receios de quem acolhe.

A deriva securitária que assola as democracias ocidentais face aos “novos invasores” é campo fértil para quem visa capitalizar dividendos políticos, no exacerbar de posições conservadoras, identitárias e populistas.

No passado domingo, o jornal Público publicou uma reportagem sobre os efeitos da redução do Rendimento Social de Inserção (RSI) e o aumento dos indicadores de desigualdade no arquipélago. Segundo o INE, os Açores são a região mais desigual do país e foram a única zona, a par com Lisboa, onde a pobreza se agravou entre 2021 e 2022.

Estes dois assuntos, aparentemente distintos, estão intimamente interligados, porquanto nos convocam para a importância de bem acolher quem aqui chega de novo, sem negligenciar (menosprezar ou depreciar) os que menos têm e que aqui residem, como não poucas vezes acontece.

Independentemente do nosso lado da barricada, importa promover, entre nós, a discussão e a reflexão públicas, com impacto futuro, de temas do presente.

[+] publicado na edição de 21 junho 2024 do Açoriano Oriental

terça-feira, 18 de junho de 2024

Pobreza: quatro anos depois, os relatos de quem vivia do RSI













Leituras destes dias: "Nos Açores, contudo, o aumento da pobreza e a diminuição do RSI podem estar relacionados com os critérios do próprio apoio e com a forma como é atribuído, segundo Fernando Diogo. O coordenador do estudo A Pobreza em Portugal: Trajetos e Quotidianos, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), lembra que o RSI “não é para as pessoas em situação de pobreza”, uma expressão que pode parecer inesperada, mas que se explica pelo universo limitado de indivíduos a quem se dirige o subsídio. “O RSI é só para os mais pobres entre os pobres. A maior parte das pessoas em situação de pobreza não tem direito ao RSI, quer no país em geral, quer nos Açores em particular” (...) O também professor da Universidade dos Açores faz a ressalva de que a extensão da cobertura da acção social nos Açores dificilmente deixa escapar alguém que tenha direito ao RSI, ao contrário do que acontece em outras regiões, mas também levanta uma hipótese para a redução do número de beneficiários relacionada com a “margem de manobra” que a lei permite. “No caso dos Açores, o que pode ajudar a explicar a pobreza a aumentar e o RSI a diminuir também pode ter a ver com uma interpretação mais restritiva da lei”. (...) Para a inserção é preciso travar outra batalha. O professor universitário mostra-se “céptico” em relação à formação do Instituto do Emprego e Formação Profissional, que muitas vezes não procura ajustar a oferta aos formandos. Fernando Diogo evoca um exemplo citado no estudo da FFMS em que um imigrante angolano de 55 anos, trabalhador de construção civil, foi obrigado a frequentar um curso de corte e costura. “Faz-se a formação porque é preciso executar verbas europeias e apresentar resultados."

terça-feira, 11 de junho de 2024

Atlântico (europeu)

A Europa vive um dos momentos mais tensos da sua história, no ano em que se comemoram 80 anos do dia D, que ditou o fim da 2.ª Guerra Mundial e de um dos episódios mais negros da humanidade.

Os desafios gerados pela invasão da Ucrânia não constituem uma oportunidade (palavra que devia ser banida do léxico político), mas sim uma necessidade de afirmação da união do projecto europeu em torno de uma (forte) política externa comum.

A campanha eleitoral para as eleições europeias, que se realizam no próximo domingo, termina esta sexta-feira, preenchida por simulacros em forma de candidatos, plena de ruído (mediático) e de assuntos (locais), que nada têm a ver com o que está em jogo.

Nos últimos 5 anos, a região ficou sem a sua representação parlamentar na Europa, devido ao infortúnio causado pela morte precoce de André Bradford, um dos melhores activos políticos e intelectuais que os Açores conheceram (e que muito falta faz no presente).

Para o próximo ciclo político, só um partido dá o devido destaque aos interesses da região, colocando-os à frente dos interesses partidários, pelo que voltaremos (expectavelmente) a ter uma voz na defesa intransigente do atlântico europeu.

[+] publicado na edição de 7 junho 2024 do Açoriano Oriental

domingo, 2 de junho de 2024

Vamos trocar umas ideias sobre o assunto…

A editora Artes e Letras Artes e Letras lançou a 2 de maio, na livraria Solmar livraria Solmar, em Ponta Delgada, o nº 5 da “Avenida Marginal”.

Nessa quinta-feira, à mesma hora, aconteciam, várias iniciativas culturais. O problema não é que ocorram todas em simultâneo, esta é uma questão antiga, mas não será a fundamental. O que importa expor é que somos (demasiado poucos), e vezes demais, sempre os mesmos.

Este será, provavelmente, um dos maiores desafios do presente, agravado na pandemia, a necessidade de renovação dos públicos da Cultura. Em particular, nas áreas artísticas tradicionais, face aos desafios gerados pelos novos formatos, especialmente, os digitais, e no impacto gerado junto dos mais novos. Um problema que nos deve convocar a encontrar soluções que permitam uma salutar coexistência (e complementaridade).

Apesar disto, assistimos, paralelamente, ao revivalismo (artístico e comercial) em torno dos formatos ‘analógicos’, no ressurgimento do vinil, das K7s e até mesmo dos CDs, no caso da música, do VHS no cinema (ou nas artes visuais), tanto como apropriação cultural, simples inspiração ou numa abordagem a referências que possibilitem outras (re)leituras.

Em Portugal, por exemplo, no circuito das livrarias independentes, as quais têm contribuído para uma maior diversidade (de propostas e conteúdos) no panorama editorial português, existe um fenómeno crescente da actividade alfarrabista, no dar uma nova vida aos livros usados, nomeadamente, na procura por edições de livros que já não estão disponíveis no mercado editorial e que agora são motivo de interesse por parte de outras gerações.

Os mais novos chegam aos livros, sobretudo, através das redes sociais (e das suas celebridades), os chamados ‘influencers’, em particular, no TikTok (materializado pelo fenómeno viral dos booktokers), contribuindo para o aumento exponencial da venda de livros por todo o mundo.

No estudo “Mercado do Livro e Hábitos de Compra em Portugal”, apresentado em 2023, pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), ficamos a saber que menos de dois terços dos portugueses compraram livros e que são os jovens quem está a impulsionar as vendas no nosso país, na medida em que os inquiridos, entre os 15 e os 34 anos, já representam 28% do total do mercado. No entanto, Portugal mantém-se como o país que, na Europa, menos lê.

Outro dado que me parece particularmente relevante tem a ver com os pontos de venda dos livros, na medida em que 70% dos livros são, ainda, e felizmente, vendidos em livrarias, mas os hipermercados já ocupam 30% desta cota (sendo que em algumas ilhas do arquipélago só encontramos livros em espaços indiferenciados).

Existem dados desagregados para os Açores (em que as livrarias são uma espécie rara ou em vias de extinção)?

Neste domínio, faltam elementos concretos sobre o sector do livro, tal como faltam para outras áreas artísticas, dados que ajudariam a sistematizar estratégias e políticas culturais.

Esta questão carece de reflexão e merece ser profusamente discutida, envolvendo vários intervenientes, da Educação à Cultura, na medida em que o livro enfrenta desafios muito relevantes que requerem diálogo, discussão e conhecimento.

Outro aspecto que não pode ser descurado é facto de o “consumo cultural ser socialmente estratificado” (ICS, 2020), na medida em que os hábitos de lazer e de consumo de produtos culturais não estão dissociados dos níveis socioeconómicos e de escolaridade.

Neste cenário, o que leva alguém a querer fundar uma editora? É antes de tudo, um acto de enorme coragem e arrojo, especialmente, numa escala como a nossa, onde por vezes parecem existir mais escritores que leitores. Digo isto com todo o respeito, mas os autores (artistas) não podem ser tratados todos por igual, nem é possível comparar o que não é comparável. Não raras vezes, tendemos a balizar tudo pela mesma bitola.

Este não é um problema exclusivo da literatura. Esta é uma problemática que se coloca nas artes visuais, nas artes performativas ou na música. Nos Açores, o caminho de futuro para a Cultura é o da profissionalização (não vale a pena ignorá-lo).

Em regiões como a nossa, a descontinuidade geográfica e os custos agravados pelos transportes (distribuição e logística), aumentam as assimetrias no acesso a bens e a serviços essenciais, relegando, inexoravelmente, a cultura para uma posição secundária, onde a democratização cultural é determinada pelo estatuto social (status), tenazmente agravada pelos índices sociais que detemos.

Importa alterar este estado de coisas, a começar por colocar a educação “no centro das políticas culturais” (Paulo Pires do Vale). Neste sentido, o cheque-livro apresentado pelo Governo da República, agora secundado pelo Governo Regional, é um caminho para o incentivo ao contacto com os livros e com as livrarias.

A par disto importa garantir um conjunto de outras medidas que aproximem a comunidade literária, e as instituições culturais, da população, com iniciativas de mediação para a leitura e para a promoção do livro.

Em termos legislativos, urge rever os apoios à edição e os objectivos das políticas públicas. Não faz sentido apoiar o livro se depois falhamos em toda a restante cadeia de valor, temos o produto, mas não temos distribuição (regional e nacional), nem promovemos, eficazmente, o acesso à leitura.

A região tem que dar o exemplo, investindo nas suas instituições públicas, ano após ano, para que possam prestar o papel que delas se exige, nomeadamente, pela actualização permanente de conteúdos, em particular, das bibliotecas públicas e escolares, no combate incessante aos baixos índices de leitura e literacia.

E não menos importante, promover uma profunda reflexão sobre a necessidade de existir um Plano Regional de Leitura ou, se em alternativa, não devemos pugnar por garantir a presença dos nossos escritores (e editores) no Plano Nacional de Leitura, com acesso a outros recursos e a mais públicos.

A “Avenida Marginal” é um contributo, e um precioso recurso, para desbravar um caminho sinuoso, cuja missão presta um verdadeiro serviço público no estímulo à inovação e na descoberta de novos nomes no ecossistema literário local.

Manter uma livraria e uma editora é hoje um acto de amor (e militância), mas sobretudo de resistência.

Uma última palavra para o impressivo trabalho do João Amado João Amado que ilustra a capa desta edição, na qual reflecte um universo fantástico e surreal (e que nos parece querer dizer que (sobre)viver nas ilhas, também, consegue ser um desafio surrealista). 

Alexandre Pascoal, maio 2024 


[+] Apresentação da Avenida Marginal nº5, 2 maio de 2024, Livraria Solmar, Ponta Delgada (texto revisto e acrescentado)

[+] publicado na edição de 02 junho 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Avenida Marginal

A Avenida Marginal Avenida Marginal não é uma revista, é uma antologia ou um (pequeno grande) livro de contos, publicada, pela primeira vez, no ano anterior àquele em que o mundo parou (2019).

A editora Artes e Letras Artes e Letras (e a livraria Solmar) desempenham um papel fundamental no apoio e na promoção da cultura da cidade, dos seus autores, assumindo-se como referência (dos Açores) no todo nacional.

Este projecto editorial tem proporcionado, desde o primeiro número, um diálogo enriquecedor entre diferentes gerações de escritores e tem apresentado uma diversidade arquipelágica de autores, todos com uma ligação aos Açores, em particular, a São Miguel e a Ponta Delgada, nela: “não cabe somente uma ilha, cabe o mundo” (sintetiza Rui Pedro Paiva).

A Avenida Marginal é um contributo, e um precioso recurso, para desbravar um caminho sinuoso, cuja missão presta um verdadeiro serviço público no estímulo à inovação literária e na descoberta de novos nomes no ecossistema literário local.

Manter uma livraria e uma editora é (hoje) um acto de amor (e militância), mas sobretudo de resistência. 

[+] publicado na edição de 24 maio 2024 do Açoriano Oriental