sexta-feira, 22 de abril de 2016

Virar a página: desafios da imprensa escrita num tempo digital

Os jornais estão hoje confrontados com desafios adicionais.

As novas tecnologias fizeram com que os meios tradicionais fossem engolidos pelo enorme fluxo informativo disponibilizado pelos ‘social media’.

Hoje a informação chega, em simultâneo, a mais pessoas e essa possibilidade passou a ser uma arma poderosa.

O impacto destes novos media no jornalismo mundial tem tido muito mais repercussões do que aquelas provocadas pela chegada do online.

Neste processo há um aparente paradoxo: se, por um lado, a “internet e as redes sociais permitem aos jornalistas fazer um trabalho poderoso”, por outro “contribuem para fazerem das edições de jornais em papel um investimento não-rentável” (Emily Bell, EJO 13/04/16).

Os custos destas organizações passaram a ser outros e a rentabilidade da publicidade passou a ser outra.

Este novo paradigma, que é transversal a vários sectores da economia e das sociedades contemporâneas, discorre a uma velocidade estonteante e as mudanças que provoca são implacáveis ante qualquer período de adaptação.

Andamos tão inebriados com as maravilhas que a tecnologia nos oferece que nem nos damos ao trabalho de nos questionar sobre como flui muita da informação que hoje chega até nós.

O poder das grandes empresas de ‘social media’ é cada vez maior e a competição entre os gigantes - Google, Facebook, Apple e Microsoft - pelo controle da informação, pela inovação tecnológica e pelo domínio das mais diversas plataformas digitais é feroz.

Passamos todos, sem excepção, mais tempo do que nunca focados nos nossos dispositivos móveis.

As inovações introduzidas fizeram dos ‘smartphones’ objectos muito mais sedutores que a televisão e as suas aplicações fazem do seu carácter utilitário uma verdadeira revolução ao nível comportamental, elevando o individualismo e a personalização a uma dimensão sem paralelo.

Perante toda uma nova categoria de signos, não é possível mantermo-nos alheados da transformação em curso.

Apesar de estarmos afastamos geograficamente dos grandes centros, estas alterações acontecem a um nível global. Aliás, a questão será precisamente essa: descentralizámos os outrora centros. Pelo que a afirmação da pertinência da imprensa escrita é, hoje, mais que nunca, absolutamente fundamental.

Nos Açores, naturalmente, não somos incólumes às mudanças operadas no sector da comunicação, onde importa reposicionar o tipo de jornalismo que se faz perante uma audiência cada vez mais atenta, mais instruída e mais exigente.

As dificuldades não são de agora, e parte desta batalha pelo acesso à informação se trava, talvez, noutro tabuleiro que não apenas o da impressa escrita.

A coexistência e a complementaridade entre ambos passou a ter diferentes leituras.

Este é também um caminho que o Açoriano Oriental tem e terá de fazer, neste e noutros aniversários.


Alexandre Pascoal
PCA Teatro Micaelense

* Texto publicado a 18/04/2016 na edição do 181º aniversário do Açoriano Oriental

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