terça-feira, 3 de julho de 2018

Destempo

A existência de um plano (desenvolvimento estratégico; director municipal ou marketing), concreto e objectivo quanto às decisões que afectam o nosso futuro colectivo, constitui um importante instrumento de gestão na assumpção do compromisso público para com a comunidade e o território a intervir.

Infelizmente nem sempre é assim e, demasiadas vezes, somos confrontados com resoluções que enfermam de uma visão de curto prazo, de contornos pouco claros, na resposta a um anseio populista, local, ou corporativo, o qual, na maioria das situações, não resulta de uma planificação integrada (ou sustentada).

Por estes dias contestar algumas opções de investimento, significa assumir uma posição minoritária face ao que é entendido como um desígnio comum e a necessidade (inadiável) de concretizar as reivindicações de determinada população, município ou ilha.

A democracia não é uma via de sentido único, exige reciprocidade, importa, por isso, que os diferentes interlocutores, em particular, os representantes eleitos, a saibam interpretar e a façam cumprir.

De igual modo, não basta exigir aos outros, nem vale desresponsabilizarmo-nos de cumprir com a nossa acção cívica, delegando-a em terceiros, apontando o dedo aos suspeitos do costume, numa interminável ladainha miserabilista, apanágio destes dias da indignação em tempo real.

Ao contrário do que se possa pensar, existem um número significativo de mecanismos públicos e privados que dão respostas a questões de governança.

Na maioria das vezes não nos socorremos delas, por desconhecimento ou por desleixo ou, muito simplesmente, porque afirmamos não nos interessar por política, na esperança que outros o façam por nós.

A história encarrega-se de demonstrar que sempre procurarmos justificar a nossa incapacidade, ou insucesso, com um bode expiatório, seja ele o árbitro ou a comissão europeia, ou, ainda, na vã tentativa de elencar uma figura messiânica que nos guie, novamente, para no esforço mínimo, obter a renda máxima.

Nestas últimas semanas muito se tem falado da forte probabilidade de existirem cortes nos apoios comunitários, nos quais os Açores seriam, também, naturalmente, afectados.

Contudo, e contrariando as (minhas) expectativas, o Comissário Europeu da Agricultura e do Desenvolvimento Rural em visita ao Presidente do Governo afirmou que, afinal, não haveriam cortes no programa POSEI, no âmbito do próximo quadro financeiro plurianual para o período 2021-2027.

A notícia não podia ser melhor. Não obstante, o lamento manteve-se de forma transversal, pois a intenção é que os apoios fossem aumentados (!). Observei alguns dos comentários com relativa incredulidade, se os apoios tivessem sido reduzidos: estaríamos preparados, que soluções existiriam?

Esperei que durante este período se desse início a uma ampla reflexão quanto às mudanças em curso no seio da União Europeia. Tal não veio a acontecer, no sentido de avançarmos com soluções ou planos alternativos para que se sejam previstos projectos de diversificação agrícola que possam, eventualmente, compensar, ou minimizar, futuras quebras de financiamento comunitário.

Esta parece-me ser uma questão inevitável, tal como o impacto (futuro) das alterações climáticas no nosso modo de vida.

Nesta situação, como em outras, a prevenção será, sempre, mais conveniente do que uma (re)acção a destempo.

* Publicado na edição de 02/07/18 do Açoriano Oriental
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