sexta-feira, 8 de março de 2024

É fazer as contas

A terminar a campanha eleitoral para as legislativas, o tempo de antena da Cultura foi reduzido a uma pequena nota de rodapé, na qual, todos os partidos, quase sem excepção, garantiram aumentos (uns mais generosos do que outros) para o futuro orçamento do sector artístico e cultural. Nada de novo aqui, vamos a factos.

O caminho percorrido nestes anos de governação (do partido socialista) demonstrou quem passa das palavras aos actos, no qual foi interrompido um ciclo de irrelevância, materializado por um aumento real do orçamento (+174%) passando, em 2015, dos 189 para os 518 milhões de euros em 2024 (sem contabilizar a RTP).

As estruturas sediadas no arquipélago passaram a ter (desde 2018) acesso aos apoios nacionais promovidos pela Direção-Geral das Artes, a variação do investimento público nacional (na região) nos ciclos de apoio sustentado, entre 2018/2021 e 2023/2026, foi de 505% (€500.000 para 3.1 milhões de euros, e a soma total de todos os apoios tutelados pelo Governo da República ascendeu aos 5ME).

Nos Açores, este incremento é um exemplo incontornável e tem sido crucial para a visibilidade, profissionalização e desenvolvimento do território (e de quem nele trabalha).

É (só) fazer as contas!

[+] publicado na edição de 08 março 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Leituras destes dias

O mundo tal como o conhecíamos escapasse-nos entre os dedos, a mudança faz-se a todos os níveis. Tal como refere Miguel Esteves Cardoso, numa das suas crónicas diárias, algumas destas paisagens (sociais, políticas e culturais) “ainda não sabem que estão a morrer” mas esta inevitabilidade já faz parte do seu quotidiano, na medida em que “todas as mortes são anunciadas” mas “nós é que não sabemos ler os anúncios.”

Por estes dias, o diálogo (político) parece acontecer de forma unilateral, num exercício de forma em que o debate não mais é do que “uma batalha verbal” (Mariano Sigman) perene de (pre)conceitos, mentira(s) e pouca noção do real.

Nesta era da exacerbação niilista (de egos e de extremos), as redes sociais representam um papel primordial, porquanto enfurecem e inflamam as pessoas, fazendo com que sejamos “cada vez menos capazes de nos ouvirmos uns aos outros” (Michael Sandel).

A somar a tudo isto há quem intente “passar a mentira por verdade ou difame a verdade como mentira” (Byung-Chul Han).

Estes serão, muito provavelmente, alguns dos problemas mais urgentes com que a democracia está confrontada. Eles andam por aí…e alguns por aqui.

[+] publicado na edição de 23 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Ambivalentes

O ruído noticioso (e falacioso) contamina tudo e todos, com particular disseminação nas redes sociais, conduzindo a uma maior polarização da sociedade, a um sentimento de desesperança e ao descontentamento generalizado. Território fértil para os populistas.  

A integridade e a ética não podem ser úteis apenas quando nos são favoráveis. Parte do descrédito associado aos políticos (da actualidade) deriva das suas posições ambivalentes.

As investigações criminais insulares (recentes) são, a este respeito, um bom exemplo de como o entendimento partidário acaba por exigir uma coisa em território continental e defender o inverso quando se trata de um membro da nossa família política.

Ao contrário dos que defendem (irresponsavelmente) a generalização da corrupção (que mais não é um reflexo do que somos como sociedade), há que aplaudir as investigações judiciais e o maior escrutínio da gestão da coisa pública.

Existirá, igualmente, quem considere que o ministério público não respeita o calendário político. Em que medida será ele, alguma vez que seja, oportuno? E, neste âmbito, qual a leitura (política) às recomendações do Tribunal de Contas no rescaldo eleitoral (nos Açores)?

[+] publicado na edição de 9 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Responsabilidade

Estes três anos de (des)governo da coligação de direita (de)mostraram a falta de competência de quem tem dirigido os destinos dos Açores.

A comprová-lo estão os números e indicadores de inúmeros organismos insuspeitos, os alertas de académicos, empresas e instituições, mas sobretudo a realidade com que somos confrontados quotidianamente nas ruas das nossas vilas e cidades.

A 10 dias das eleições não se conhece o programa eleitoral da coligação. Nas palavras do filósofo José Gil, a escrita é um “instrumento essencial de poder” e esta será, apenas, mais uma prova da normalização do desrespeito pelo acto eleitoral, pelas instituições e, em última instância, pelos eleitores.

Nesta campanha eleitoral há quem evite o debate de ideias (se as detivermos, evidentemente), apenas releve o ruído, as meias-verdades e o incitamento ao ódio (pelos mais frágeis).

Vasco Cordeiro é a única personalidade com a capacidade de liderar o futuro com responsabilidade, sem ingerências e um discurso titubeante, assumindo (frontalmente) compromissos concretos para o desenvolvimento dos Açores. O Presidente de Confiança!

[+] publicado na edição de 26 janeiro 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Verdade










Nos últimos 15 anos estas ilhas foram dotadas de espaços de fruição propícios ao melhor desenvolvimento da produção e da criação cultural.

Acredito que o futuro passa, inexoravelmente, pela criação de um percurso profissionalizante para as instituições (e criadores regionais) e por garantir a circulação, dentro e fora de portas, da Cultura que aqui se faz. Fazer crescer cultural e socialmente uma comunidade requer investimento e continuidade num trabalho em parceria, na partilha e na prossecução de objectivos comuns.

No encontro promovido, esta semana, pelo Partido Socialista, com um grupo de agentes e artistas açorianos, ficou evidente o compromisso de Vasco Cordeiro, no estabelecimento de uma relação de confiança e que fale verdade com e para o sector cultural e criativo.

Nas palavras de Nicholas Serota (ex-director da TATE e presidente do Arts Council England), “o Estado tem a responsabilidade de investir no futuro, o que quer dizer gastar dinheiro no presente.”

Os desafios são mais que muitos. É essencial pensar a cultura como desenvolvimento estratégico, um investimento e não como um gasto supérfluo.

 [+] publicado na edição de 12 janeiro 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Dignidade

Em tempo de balanço do ano que agora finda, recupero as palavras de indignação dos agentes culturais açorianos a propósito do atraso dos pagamentos do regime de apoios às atividades culturais: “Nunca, mas nunca, em tempo algum, houve um atraso tão prolongado para saírem os resultados e com consequências tão nefastas para os agentes culturais” (…) “Há muita gente que não recebeu rigorosamente nada” (…) “No caso das estruturas profissionais, se não fosse o Governo central não havia trabalho feito, porque não havia como as sustentar” (…) “Normalizou-se um discurso de que um atraso não é um problema, que não é tão mau, que foi apenas mais tarde um mês ou dois do que no ano anterior. Isto é ridículo, é uma ofensa” (…) “É o pior ano de que há memória e não vale a pena negar”. 

Os desafios sempre existiram, mas nunca a sobranceria e o desinteresse (da tutela governamental) foram tão evidentes (e gravosos). 

No próximo ano existe a oportunidade de alterar este estado de coisas e conferir à Cultura, e a quem nela trabalha, a dignidade que merecem, como um pilar de desenvolvimento (social e económico) e de afirmação identitária.

[+] publicado na edição de 29 dezembro 2023 do Açoriano Oriental