O painel foi moderado por João Vieira Pereira, diretor-adjunto do Expresso, e teve como convidados Filipe Macedo, director regional do Turismo dos Açores; Isabel Barata, vogal executiva da SATA; Jan de Pooter, CEO da Tranquilidade/Açoreana; João Welsh, administrador do grupo CBK; e Miguel Muñoz Duarte, professor da Nova School of Business.
O arquipélago está no centro de todas as atenções, sobretudo, devido ao fenómeno, recente, do crescimento turístico.
Este tipo de discussões são bem-vindas e gosto, particularmente, de observar a forma como são recebidas entre portas, oscilando entre o entusiasmo incontido e a desconfiança, na medida em que há quem não concorde (e aceite) que outros falem de nós.
Mais do que qualquer avaliação da prestação (de quem olha de fora para dentro), considero fundamental a prossecução deste tipo de iniciativas, como impulso à reflexão, que se impõe, sobre a realidade que nos rodeia. Esta tem sido uma incapacidade endógena. A resposta não pode ser reactiva. Importa, primeiro, conhecer e aprofundar os nossos pontos fortes e as nossas fraquezas. Temos, inclusive, uma dificuldade em rir de nós próprios, sendo que já me disseram que, por cá, não há espaço para ironia. Sintomático?
Deste painel, retive várias leituras mas sublinhei o que disse João Welsh, madeirense, quando referiu a importância estratégica que a SATA/Azores Airlines tem para os Açores. Já não é a primeira vez que uma individualidade do “arquipélago irmão” realça esta questão, reveladora de alguma mágoa, o facto de não deterem este capital - uma companhia aérea regional. E o que dizem (e têm dito) os açorianos a este respeito?
O orgulho açoriano é passivo/reactivo, em particular, e quase sempre, devido uma crítica proferida por uma entidade externa. Contudo, somos filhos pródigos em depreciar muito do que temos, estabelecendo comparativos irrealistas e procurando culpar, não raras vezes, os outros, por algo que (só) depende de nós.
Para ilustrar o que aqui escrevo, e a título superlativo, quando estamos num restaurante na Madeira e pedimos uma cerveja, quais as opções que nos apresentam? Uma, a cerveja regional. E se pedirmos outra marca? O empregado faz por insistir (orgulhosamente) nos adjectivos qualitativos, até que nos convença que é a melhor cerveja do mundo. E por cá? A marca regional já nem sequer é opção na maior parte dos locais, sendo que passou a ser uma epopeia beber, nos Açores, uma Melo Abreu. Simbólico?
Antes dos outros, temos de ser nós a valorizar, a promover e a consumir o que produzimos.
Isto já para não falar da “dinâmica” do mercado interno, no qual todas as ilhas querem “exportar” para São Miguel mas em que a presença dos produtos da ilha verde em determinadas ilhas, é o que sabemos. Assim, não vamos lá, enquanto se mantiver o bairrismo ilhéu, em que cada ilha copia a do lado, como revindicação de um (falacioso) desenvolvimento harmonioso.
Transpondo esta leitura para o período consumista que se avizinha, existe um factor que, na minha opinião, tem sido profusamente negligenciado: a saída exponencial de recursos da região, com um impacto económico significativo no tecido empresarial local. Se é verdade que temos mais visitantes, e que há sectores da economia que estão a beneficiar com isto (hotelaria, restauração e aluguer de automóveis, por exemplo), noutros sectores, reféns dos gastos de quem cá habita, estamos a assistir a uma transferência desse consumo para o exterior, consubstanciado por viagens mais frequentes e pelo incremento das compras online. Seria interessante analisar estes dados. Alguém?
E aqui, será difícil empurrar a(s) culpa(s) para o Governo. E daí, talvez não, dirão os mesmos, já que este ousou aumentar o rendimento disponível das famílias.
O orgulho por aquilo que é “nosso”, também, se (des)materializa, por (in)acções como esta(s).
* Publicado na edição de 04/12/17 do Açoriano Oriental
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