O (recente) aumento do turístico fez esbater a sazonalidade, sendo que esta continua a fazer-se sentir, com intensidade, nestes frios meses de inverno.
Este aumento regenerou o sector da construção civil, um dos que mais sofreu com a crise, o qual, perante o inusitado aumento de obras de reabilitação, reclama por falta de mão-de-obra especializada. Não deixa de ser curioso a ironia que tudo isto comporta.
Neste momento, uma das áreas que mais emprega é a dos serviços associados à actividade turística, seja na restauração, na hotelaria ou na animação.
Afirmamos não querer entrar em euforia(s) mas o que experienciamos é um devir colectivo em torno deste sector, para o qual convergimos em sentido único. O incremento do turismo é, tendencialmente, sazonal e muito concentrado num determinado período do ano. Será muito difícil alterar este estado de coisas. E devemos assumir que há respostas que têm um carácter associado à sazonalidade e que apenas, desta forma, poderão garantir a sua sustentabilidade (palavra que passei a odiar).
Para atenuar esta ocorrência, devemos apostar em eventos distintivos e no turismo de congressos, sendo que aqui a concorrência de outros destinos é muito eficaz (e não vamos lá apenas pelos nossos lindos olhos). Esta opção implica investimento. Não vale a pena escamoteá-lo. Se não o fizermos, serão outros a garanti-lo.
O crescimento turístico tem uma expressão mais acentuada em São Miguel e, de forma mais desigual, nas restantes ilhas dos Açores. Com destaque, permitam-me dizê-lo, para a ilha do Pico que se afirma a cada ano que passa, alicerçada no seu amplo território e numa enorme riqueza patrimonial natural/cultural que reforça a sua singularidade.
Cada ilha é uma ilha, é um erro querer promovê-las de forma igual. E é um erro querer que sejam todas iguais, quando não o são. A começar pelas gentes que as habitam e pela forma como expressam a sua matriz identitária (que embora comum, é distinta).
A riqueza deste arquipélago, já o referi por diversas vezes, está aqui, nesta diversidade.
Para tal importa respeitá-la, a começar por todos (nós) e, em particular, por quem tem o dever de nos representar, na defesa, intransigente, do bem comum.
O fantasioso conceito de “desenvolvimento harmónico” não significa o mesmo para todas as ilhas, tem de ser adaptado à realidade (de cada uma delas).
Viver em Ponta Delgada, nunca será o mesmo que habitar Santa Cruz da Graciosa. Afirmar o seu contrário é querer, deliberadamente, ludibriar o (seu) próximo.
O desenvolvimento (presente e futuro) do arquipélago deverá basear-se no equilíbrio do investimento público, baseado nas suas necessidades reais e não pela criação de distopias com carácter ilusório (incapazes de responder a anseios reais e de efeito imediato).
Mas afinal que “moda” é esta?
Em entrevista ao Correio dos Açores (31.01.18), o fotógrafo Daniel Blaufuks (que tem patente a exposição “O Monte dos Vendavais” na Galeria Fonseca Macedo) sinaliza a voragem deste fenómeno: «A paisagem e a vegetação aqui são incríveis (…), assusta-me que as viagens low cost não só venham trazer mais pessoas, que trazem, mas que tragam também um progresso low cost. Se olhar para Lisboa, que é o que me está mais próximo, essa transformação é terrível e está a descaracterizar completamente uma cidade que tinha uma cultura fortíssima. (…) Tenho pouca esperança e tenho medo que isso em São Miguel também aconteça. E já se vêem sinais disso. Acho que isso é triste porque o que estamos a visitar é uma imagem. (…) O turismo em que todos participamos é o problema porque tem o seu lado económico bom, sem dúvida, mas é avassalador como um exército de ocupação.»
Opiniões como esta são, comumente, desvalorizadas e encaradas como fatalistas (e inimigas do “progresso”).
Saibamos ler os sinais (de que fala o artista).
* Publicado na edição de 05/02/18 do Açoriano Oriental
** Blog X
*** Twitter X
**** Email X
Sem comentários:
Enviar um comentário