Uma montra nacional, dividida entre uma componente dedicada a profissionais e outra dirigida ao público que acorre ao Parque das Nações, durante o fim-de-semana, na expectativa de aceder às inúmeras provas de produtos regionais (queijos, vinhos e enchidos) ou participar num sorteio para ganhar uma viagem aérea para o destino da moda.
Todos os anos há uma polémica associada à representação açoriana, este ano não foi excepção.
Apesar do sucesso dos anos recentes, os Açores necessitam de se afirmar, de forma consistente, como um destino creditado e não apenas como uma moda passageira.
O arquipélago é, ainda, um ilustre desconhecido. Isto constitui, no meu entender, uma vantagem. Mas para tal, é necessário garantir a promoção do destino como um todo, e não de nove partes distintas, como alguns parecem querer acreditar.
Ao contrário de outras regiões, os Açores estiveram (re)partidos no complexo da Feira Internacional de Lisboa (FIL) pelo pavilhão 1, onde esteve o stand oficial dos Açores (organizado pela Associação Turismo dos Açores - ATA), e pelo pavilhão 2, onde estiveram a Associação de Municípios da Ilha de São Miguel (AMISM), a Associação de Municípios do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge) e os municípios das Flores e Corvo.
Esta luta de protagonistas (e de protagonismo) dita que não importa a (pretensa) escassez de recursos, sendo que a racionalidade dos gastos, neste como em outros casos, não é tida em linha de conta, inclusive, na eficácia associada a uma acção promocional concertada, em que, infelizmente, todos lutam, apenas, por um lugar na fotografia.
Relativamente a esta questão, a dispersão verificada nesta representação, os responsáveis pela promoção turística falam de um “retrocesso”.
Contudo, convém não esquecer que esta proliferação de meios não se extingue apenas na presença na BTL, ela também se verifica nos múltiplos canais (sobretudo online) em que cada qual tenta promover a sua região, seja ela uma ilha (Terceira) ou grupo de ilhas (Triângulo).
Paralelamente à realização da BTL, em que os intervenientes parecem querer investir todas as fichas num única e determinada aposta, parece-me contraproducente que, à semelhança da inexistência de um verdadeiro sentido de união em torno da promoção do destino, todos os eventos e iniciativas de animação turística estejam concentrados na época alta, período que já está, antecipadamente, vendido e que já não dá resposta à procura que, actualmente, tem.
Na ausência de uma estratégia articulada, cada município promove, até à exaustão, as suas festas concelhias e os seus “eventos âncora”, ignorando, na maioria dos casos, que o público-alvo, destas iniciativas, se esgota localmente e não constitui um cartaz suficientemente apelativo, nem seja a razão primordial pela qual os turistas se deslocam aos Açores.
Como é óbvio, existem honrosas excepções, mas continuamos a negligenciar a sazonalidade (novembro a março), pelo que, complementarmente à natureza, disponível todo o ano, é necessário investir nas actividades dentro de portas, nomeadamente, através de uma melhor dinamização da multiplicidade de espaços culturais (ao nosso dispor).
Para tal não basta edificá-los, importa dotar-lhes de meios (sobretudo financeiros), para que os mesmos possam desenvolver, capazmente, a missão que lhes foi confiada. A este propósito destacaria a comunicação da professora Susana Goulart Costa, na conferência de abertura dos III Encontros Daniel de Sá, na qual sinalizou a importância que deve ser dada à valorização do património cultural dos Açores.
Outro aspecto a destacar na experiência turística local, é a necessidade de afirmação da nossa identidade, naquilo que nos diferencia e distingue de outros destinos, recusando qualquer tentativa de homogeneização (e carácter indiferenciado) da oferta. Importa ter isto bem presente, no garante de uma actividade económica que queremos afirmar de forma duradoura (e que não tenha somente um carácter transitório).
Essa garantia começa e termina “cá dentro”, só depende de nós e de mais ninguém.
* Publicado na edição de 05/03/18 do Açoriano Oriental
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