Num mundo cada vez mais globalizado (massificado e homogeneizado) assistimos tendencialmente, e paradoxalmente, talvez, a fenómenos mais conectados com o local, em contrapondo com o global.
Pode até parecer uma contradição mas num tempo em que o discurso é preenchido com megabytes, fibra óptica e wifi, são cada vez mais os exemplos dos que regressam ao campo, na procura de um modo de vida mais tranquilo, reabilitando usos e costumes que se julgavam (irremediavelmente) perdidos, na voragem de um tempo pleno de insatisfação, saciado, apenas, pela alienação consumista (de preferência online).
Estes são dias de transição, inconstância e desigualdade, liderados por egos desmedidos, mascarados de benevolência nacionalista e populismo a la carte.
Coincidentemente, ou não, há uma maior consciência colectiva para a necessidade de reduzirmos a nossa pegada ecológica, quer pelos sinais que o planeta nos transmite, de forma cada vez mais devastadora, quer por aquilo que consumirmos e, por consequência, pelos resíduos que produzimos.
É neste sentido que se verifica uma crescente atenção pelo que é artesanal, seja pela reciclagem de uma peça de mobiliário ou pela produção/aquisição de um produto hortícola. Concomitantemente, existe uma maior sensibilidade para a importância de adquirirmos produtos locais, com reduzido impacto ambiental e de importância fundamental para a manutenção e progresso das comunidades, sobretudo, em meio rural.
A ilusão simbólica da voracidade contemporânea faz com que tudo aparente estar próximo, acessível e descartável, “não há abrandamentos, nem paragens, nem sequer pausas, senão aquelas que são obrigatórias por regulamento, pressão, convenção ou vaidade. Vivemos sempre com o telemóvel na mão (…).” (José Manuel dos Santos e António Soares, Editorial, Revista Electra nº3).
E aqui chegados, sublinho o artigo que a revista Forbes publicou, recentemente, onde identifica os 10 países mais “cool” para visitar em 2019.
Portugal lidera este restrito Top10, única e exclusivamente, por referência aos Açores.
Este é, muito provavelmente, o culminar de um trabalho em prol da notoriedade do destino Açores (num processo há muito iniciado).
Pode até parecer ambíguo e contraditório o momento em que nos encontramos, na medida em que necessitamos do crescimento turístico mas sem que este coloque em risco a sustentabilidade ambiental do arquipélago (sendo que o crescimento da actividade turística é vital para recapacitar a economia).
Como é que podemos (e devemos) concretizar este (ténue) equilíbrio? Nunca pelo incremento quantitativo de reduzido valor acrescentado mas, sim, pelo aumento qualitativo da receita associada ao produto disponibilizado.
É neste capítulo que devemos activar a notoriedade obtida em publicações com a importância da Forbes, e de outras suas congéneres, com ênfase na riqueza da autenticidade do local. Devemos evitar, a todo o custo, a vertigem pelo facilitismo e pelo lucro a qualquer preço.
Mais do que palavras, importa agir de forma concreta e substantiva, num tempo em “a velocidade, ao anular as distâncias, anulará também as diferenças entre os lugares, por toda a parte arrastando os peregrinos do prazer para os mesmos sons e as mesmas luzes factícios, os mesmos monumentos tão ameaçados nos nosso dias como os elefantes ou as baleias (…)” (Marguerite Yourcenar, “O Labirinto do Mundo”).
Este é hoje um desafio com que muitos destinos turísticos se digladiam, pois “de tudo e com tudo se faz turismo”, o qual implica, forçosamente, planeamento, monitorização e decisão, naquela que é uma “viagem sem fim, a não ser o nosso.”
* Publicado na edição de 14/01/19 do Açoriano Oriental
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