quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Confiança, excesso (ou a falta dela)

Os cartazes já por aí andam, de rotunda em rotunda, entre a amizade, a confiança e o apoio geriátrico, todos tentam sinalizar a atenção de quem passa.

Importa salientar que a participação cívica não se esgota no momento em que depositamos o voto no nosso candidato de eleição.


O período de campanha leitoral é um momento fulcral para o debate, para a apresentação dos candidatos (e dos seus projectos), com vista ao esclarecimento dos eleitores.


Desvalorizar estes momentos é afastar, ainda mais, as pessoas dos políticos e, consequentemente, a perpetuação do aparente desinteresse de uns perante os outros.


Os políticos não se podem limitar ao contacto com as populações (apenas) nestes períodos. Assim como, os cidadãos não se podem desvincular de participar nos actos eleitorais, engrossando os números da abstenção, e delegando em terceiros a opção sobre decisões que irão afectar a sua vida quotidiana.


Quantas vezes já não ouvimos alguém reiterar (de forma displicente) que não se interessa pela política, de que os políticos são todos iguais e que não vai votar?


Este tipo de comportamentos deve ser condenado, mas não pode, nem deve ser negligenciado, carecendo de um profundo trabalho de esclarecimento sócio-cultural.


Por estes dias, o escrutínio da actividade pública (ou da gestão da coisa pública) está sujeito a uma malha muito apertada, sendo certo que o rigor e a transparência são factores determinantes na escolha dos eleitos.


Nesta medida, os candidatos devem privilegiar (de forma clara e inequívoca) a aclaração juntos dos eleitores, revelando aquilo que pretendem realizar ou corrigir.


Passar um cheque em branco a um candidato que apenas baliza a sua acção pela sua (in)capacidade de gerir, na vã tentativa de contentar tudo e todos, num exercício de procrastinação, num confrangedor falhanço da projecção da cidade (e do concelho) para os seus desafios de futuro (e que não se fixam apenas no turismo), não é opção.


Ponta Delgada anda à deriva há mais de duas décadas, o tempo assim o comprova.


No final de três mandatos cabeludos, cujo objectivo permitiu canibalizar os fundos europeus concelhios em investimentos de retorno duvidoso, os quais hipotecaram o destino presente e futuro da autarquia, numa gestão que apenas cumpriu os desideratos de um projecto pessoal, o actual inquilino da Praça do Município clama por confiança (!) na renovação da sua candidatura.


Mas que confiança podemos nós ter em alguém que renovou (quase) a 100% o elenco camarário que conduziu os destinos autárquicos de Ponta Delgada nos últimos quatro anos, não será esta a prova (maior) do seu falhanço como gestor autárquico?


E o que dizer da gestão do espaço público concelhio, relativamente: à recolha dos resíduos sólidos urbanos; na limpeza da cidade, em particular, no combate e controle na propagação de roedores; na circulação e estacionamento automóvel; no alargamento dos transportes públicos municipais ao perímetro suburbano; na ausência de planos de pormenor para a cidade e principais núcleos de freguesia do concelho; na fundamental revisão do PDM; e na falta de uma estratégia coerente quanto ao calendário de eventos e à agenda cultural do município.


Será possível realizar uma campanha eleitoral (autárquica) sem que haja a discussão de um programa (ou de, simplesmente, uma ideia)? Aparentemente, há quem acredite nisso.


Por tudo isto, e muito mais, Ponta Delgada merece melhor, merece uma equipa, e não apenas um só candidato. 


* Publicado na edição de 11/09/17 do AO
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