terça-feira, 5 de setembro de 2017

(V)ir e voltar

Chegados ao início de Setembro, ao fim das férias e ao regresso às aulas, o momento é de balanço turístico após o mês mais quente do turismo nos Açores.

Durante o mês de Agosto podemos todos experienciar a profunda transformação gerada na(s) ilha(s), sendo simplista quem reduz o crescimento turístico apenas à liberalização do espaço aéreo.

Este facto significa que temos todos, sem excepção, de nos adaptar a esta nova condição, não vale a pena ignorá-lo. Exigindo, a cada um de nós, residentes, (in)evitáveis concessões ou simplesmente a (re)criação de novos hábitos, e rotinas, devido ao maior aglomerado de pessoas nos locais e espaços mais populares, sujeitos, neste período, a outra densidade e pressão.


É óbvio que, para quem nos visita, o destino seja pacato, sobretudo se for alguém oriundo de um grande centro urbano. São realidades distintas, onde qualquer comparação não tem razão de o ser.


Aliás, parece-me sempre obtuso querer comparar hábitos e vivências de realidades tão diferenciadas. O que temos para oferecer não é um modo equiparado desses destinos em formato reduzido mas, sim, algo completamente singular, distante e diferente, com um carácter sustentado, de um tempo mais distendido e em equilíbrio com o meio ambiente que o rodeia.


Não devemos fazer do Turismo a panaceia para todos os males mas não podemos escamotear a sua importância, nem minorar a dinâmica que o mesmo introduziu. Um caso concreto: não fosse o crescimento turístico presente, o centro histórico de Ponta Delgada continuaria decrépito e abandonado. Não tenhamos qualquer dúvida quanto a isto.


Ao contrário do que possam pensar, não faço a diabolização do turismo, considero que o mesmo apresenta novos desafios cujas soluções implicam, forçosamente, respostas mais imaginativas e criativas. No entanto, devemos aproveitar esta movida mais positiva para repensar e agir sobre um conjunto de problemas - habitação nos centros históricos, transportes públicos, animação turística, recolha do lixo, sinalética, acesso automóvel em zonas ambientalmente sensíveis, apenas para nomear alguns - que não têm tido a resposta adequada das entidades competentes.


Noutro âmbito, e a propósito de uma reportagem recente na RTP/Açores sobre um simulacro para avaliar as medidas de socorro nas zonas balneares (!), parece-me estranho que num período em que o número de turistas (famílias, incluídas) é muito superior ao que tínhamos no passado, a resposta dos meios disponíveis seja a mesma e, em alguns casos, menor ou mesmo inexistente.


Este é apenas um exemplo daquilo que, entre nós, não muda apesar de tudo o resto se ter alterado.


Em todo o arquipélago deparamo-nos com avisos de zonas balneares que não estão sob vigilância, o que representa um perigo, acrescido, para os banhistas. 


Acredito que não seja possível monitorizar todas as zonas balneares dos Açores mas já é tempo de olhar para os nadadores salvadores como um recurso permanente, profissional, e associado, por exemplo, à Proteção Civil.


De igual modo, não faz sentido que a limpeza das praias esteja circunscrita apenas à época balnear. 
Se queremos turismo de qualidade parte da equação passará pela manutenção contínua destes locais, por forma ao seu usufruto durante a maior parte do ano.

A tão propalada sustentabilidade futura - da denominada fileira do turismo - passa pelo regresso de muitos daqueles que agora nos visitam.


É preciso (v)ir mas é imperioso voltar.


* Publicado na edição de 04/09/17 do AO
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