O calendário foi alternando o mês e a data mas a romaria anual à BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa) não esmoreceu, é marca indelével da temporada pré-estival.
Por estes dias marcar uma reunião (na ilha) será mais fácil em Lisboa, cidade na qual podemos encontrar o(s) nosso(s) player(s) no epicentro do tabuleiro da bolsa turística.
Anos houve em que a atenção estava centrada no número de turistas que vinham para o arquipélago. Agora que os temos, pelo menos em número relativamente profuso em São Miguel, todas as outras ilhas querem beneficiar, em simultâneo, e na mesma ordem de grandeza, deste pretenso desenvolvimento e retorno económico.
Como já aqui referi, em diversas ocasiões, a escala e as múltiplas dimensões ao dispor do turista (na ilha grande) não são replicáveis na oferta da maioria das outras ilhas, cada qual tem de (primeiro) identificar o que a distingue e caracteriza, para depois poder capitalizar o que tem de melhor e não (procurar) mimetizar o que as outras (também) têm.
Só assim poderemos falar de diferenciação e de sustentabilidade (e aqui confesso-vos que começa a ser difícil referenciar esta adjetivação quando ela é, em si, um paradoxo e é dada como exemplo para iniciativas que são tudo, menos aquilo que afirmam ser).
Persistimos em preconizar opções de investimento desajustadas (numa realidade que diz ser, ou quer ser, diferente), tendo presente os erros cometidos no passado (recente), catapultados por um crescimento em que ninguém acreditaria (há apenas cinco anos), e não há, ou tem existido, infelizmente, tempo para planear (e pensar).
Estes são dias reactivos, propensos a dislates e à mercê de quem nos tenta vender com recurso a referências (e a comparações) de outras latitudes.
Algum trabalho de consultadoria (externa) descura a realidade insular, ignora as diferenças e acha que podemos todos agir de forma modelar e uniforme. O resultado? Uma região que não fala a 1 só voz mas que se multiplica por 9 (ilhas), 19 concelhos e 156 freguesias (e que ainda soma um conjunto significativo de paróquias e grupos de interesse).
Ao final de quase duas décadas (de acompanhamento a este ritual associado à BTL), continuamos obcecados em comunicar para dentro quando devíamos, essencialmente, estar em diálogo com o exterior.
E com a Madeira (mesmo ali ao lado), já devíamos ter aprendido com muito da sua participação e postura. O orgulho com que defendem o que é “seu” devia servir-nos de modelo (de como fazer e saber estar). Ao invés, andamos entretidos com diatribes que vão do design do stand ao destaque que cada ilha, e cada concelho, esperaria ter.
Este ano a Cultura foi tema para a promoção de uma “BTL Cultural”, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian que, para além de promover “conteúdos turísticos e ser uma área de promoção junto do grande público”, permitiu discutir “o papel da Cultura no desenvolvimento Económico e Social”. Para falarmos deste impacto importará, primeiro, saber do que está a falar, e segundo, não confundir património, identidade e criação artística com entretenimento. Em terceiro, a Cultura pressupõe investimento. Algo que nem sempre acontece mas cuja relevância simbólica é, na maioria das vezes, referida e destacada.
A este propósito, resgato a opinião de Alfredo Barroso (11/03/19) para ilustrar estes dias: “esta é uma sociedade em que a memória se esfuma num ápice e o prazer narcísico se insinua nos ecrãs dos televisores e dos smartphones. Ambos proporcionam instantes de glória efémera que os narcisistas almejam.”
* Publicado na edição de 18/03/19 do Açoriano Oriental
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