À semelhança do que aconteceu na época dourada do comércio da laranja para Inglaterra, é fundamental reflectir sobre a necessidade de diversificar a actividade económica da ilha, assim como, os mercados que servimos e o que exportamos.
Centrar todo o peso da economia do arquipélago - na pastagem, no bife, no queijo e na manteiga, pode até, no curto prazo, ser (muito) rentável. Mas, como já nos foi dado a conhecer, os hábitos dos consumidores estão em profunda mutação, seja pela maior sensibilidade da opinião pública para as questões ambientais provocadas pela produção (intensiva), quer, inclusive, para uma maior atenção em torno de uma alimentação mais saudável e que passará, forçosamente, por um menor consumo de proteína animal.
Esta é uma tendência global (ocidental) e uma evidência científica, ignorar a questão pode resultar num grave prejuízo colectivo.
Neste processo de diversificação também não faz sentido que se abandone, radicalmente, o modelo de produção vigente, substituindo-o por outro, para o qual a cadeia de valor transfere todo o seu capital gerando, apenas, um novo ciclo de monocultura.
Assistimos, localmente, não raras vezes, à ausência da inovação para se corporizar algum seguidismo no investimento (económico). Pausa para um exemplo. Se em determinada rua abre uma pizzaria, nessa mesma artéria irão abrir, com toda a certeza, mais dois ou três estabelecimentos idênticos. É uma questão de fazer as contas. Numa escala como a que existe na(s) ilha(s), a complementaridade e as parcerias deviam fazer parte da genética do nosso modelo económico. Infelizmente, não é isto que se verifica.
Neste momento, a actividade turística é o motor da economia, arrastando uma forte dinâmica de investimento e que passa, na sua esmagadora maioria, por um forte incremento da reabilitação urbana (transversal a muitas freguesias destas ilhas). Na inexistência de políticas publicas dirigidas ou capazes de revitalizar ‘per si’ a reabilitação (urgente) do património construído, em detrimento de conjuntos arquitectónicos de pouco valor acrescentado, muitos têm sido os proprietários que têm apostado em recuperar imóveis devolutos e degradados, alterando, sobremaneira, a paisagem urbana e rural.
O mérito desta corrente (iniciativa privada) não pode ser executada sem o cuidado acompanhamento das entidades públicas, com risco de caminharmos em sentido único e de chegarmos, inevitavelmente, a um beco sem saída.
Isto porque, a proliferação de empreendimento turísticos (em formato AL mas não só) faz com que haja o risco (crescente) de não existirem lençóis (e turistas) para tantas camas.
O passado (recente) devia servir-nos como aviso (e metáfora) para a necessidade imperiosa de implementarmos um planeamento estratégico (e sim, verdadeiramente sustentável), de olhar a realidade com pragmatismo e não nos deixarmos cair na mão de uma nova classe de ilusionistas.
Termino com uma passagem de Maria Filomena Mónica (“Os Cantos”, Alêtheia 2010), na qual interpreta um texto crítico de José do Canto dirigido aos seus conterrâneos (acerca do desenvolvimento de São Miguel na segunda metade do século XIX): “Não eram apenas os trabalhadores que causavam o atraso da ilha; eram-no também, e por culpa maior, os proprietários. Por muitos progressos que se tivessem verificado, poder-se-ia produzir melhor. A ilha deveria tentar emular os campos ingleses e não ficar parada na contemplação das benesses obtidas.”
* Publicado na edição de 08/04/19 do Açoriano Oriental
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