A terminar o primeiro mês de Agosto sob a influência do acréscimo turístico por via das companhias de baixo custo, já teremos todos dado nota das evidentes diferenças do ‘antes’ e do ‘depois’.
A época alta ainda não terminou e só depois de disponibilizados os números é que podemos aferir com rigor o real impacto destes novos fluxos turísticos.
Contudo, e de forma empírica, é visível o impacto nos serviços e na circulação de pessoas e veículos nas ruas e trilhos destas ilhas.
E nem tudo está, ou estava, de todo preparado para responder a mais solicitações, sejam horários de serviços, seja a recolha de lixo (Ponta Delgada é disso um péssimo exemplo) ou mesmo uma simples resposta em inglês.
Os dados são positivos, a economia agita-se mas não está tudo feito. Havia alguma desconfiança por parte dos empresários e a prova é que há muito por fazer. Não nos iludamos.
Receio alguma euforia incontida e investimentos reactivos, pouco ou nada estruturados, num local pródigo em clonagem - onde abre uma mercearia, abrem logo duas ou três, todas num raio de cinquenta metros. E depois? E depois, apela-se ao governo a ver se alguém nos dá a mão.
Não faltam notícias e reportagens a medir o grau de satisfação de quem nos visita, alguns dos quais são meros exercícios contorcionistas para preencher o vazio daquilo a que se designou “silly season”.
E ela tem estado aí com alguns dos candidatos regionais às eleições legislativas a percorrer as várias ilhas do arquipélago, alguns por vocação, outros por vicissitudes partidárias.
A campanha eleitoral nacional anda em estado letárgico e discute-se tudo menos aquilo que importa. Ninguém parece muito interessado em discutir matérias fundamentais e andamos entretidos, com a preciosa ajuda dos media, com cartazes e debates, descurando completamente o conteúdo.
A coligação que (des)governa o país reproduz uma narrativa infantil que varia entre os bons e os maus e o regresso do bicho-papão. Também aqui não nos iludamos: é eficaz.
O Partido Socialista, como alternativa de poder que é, tem de deixar a opacidade, tem de falar olhos nos olhos dos portugueses e deixar-se de estratégias e campanhas de engano à semelhança do que faz a coligação. Vivemos um tempo de excepção e há, felizmente, vida para além dos sound bites.
A ilustrar o que aqui digo, por estes dias ouvi a cabeça de lista da coligação - que nos Açores não está coligada mas que estará, de futuro, na Assembleia da Republica - pronunciar-se sobre a venda do edifício do antigo Emissor Regional dos Açores com a seguinte preciosidade: “Berta Cabral salientou que o edifício é importante para a memória da rádio pública no arquipélago e deve ser preservado, cabendo essa função às instituições públicas com responsabilidade a nível cultural na Região” (Jornal Terra Nostra, 24/08/15).
Para alguém que, no passado recente, defendeu que a gestão da RTP-Açores devia ser entregue a privados, não deixa de ser curioso que agora venha defender que seja o Governo Regional a gerir um ‘Museu da Rádio’.
Este acto é revelador do que tem sido a política deste Governo da República na sua relação com os Açores, a de suprimir recursos financeiros e a de lhe conferir responsabilidades sem o correspondente cabimento orçamental.
Além de constituir-se como uma declaração de uma inqualificável desfaçatez, a mesma revela que a coligação tem na sua representante alguém que menoriza os órgãos de governo próprio dos Açores num exercício de pura desresponsabilização por quem tutela a RTP, na fuga às suas responsabilidades e que, por princípio, devia ter acautelado o valor simbólico associado à memória da RDP e que, simplesmente, não o fez.
A confiança não se escreve, conquista-se.
* Publicado na edição de 31/08/15 do
AO
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