quinta-feira, 28 de junho de 2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Faz o que te digo, não faças o que eu faço

A capacidade de fruição cultural é coisa que não se adquire de um momento para o outro. É necessário gerar um hábito regular e sustentado no acesso a espaços de cultura (bibliotecas, cinemas, galerias de arte, livrarias, museus, salas de espectáculos) ou através da participação directa nas actividades de uma determinada colectividade (associação juvenil, grupo de teatro, filarmónica), por forma a alimentar e consolidar o interesse, o conhecimento e o gosto.

A prática do actual Governo da República tem ditado outra coisa, ao reduzir a importância da Cultura, mesmo que simbólica, pela supressão do Ministério da Cultura para dar lugar a uma Secretaria de Estado à sombra do Ministro-adjunto (e não do 1º Ministro como nos dizem ser), deixando o sector cultural diminuído, num estado calamitoso, estagnado e com o futuro (próximo) seriamente comprometido. Por cá, apregoa-se um mundo de oportunidades de forma dúbia, assegurada e difundida pela multifuncionalidade institucional e querendo fazer passar uma coisa por outra, quando num ciclo de conferências - de última hora - se debita que "não se pode continuar a encarar a cultura como área menor na acção governativa" nem poderá confundir-se a política cultural "com uma simples concessão de subsídios ou apoios aos agentes culturais". Perante mais este ditame, o que dizer desta notícia: "A Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada assinou hoje protocolos de cooperação com cerca de meia centena de instituições do concelho ligadas à cultura e ao desporto"?! Apenas me ocorre um provérbio popular para desmascarar esta súbita deriva cultural: 'faz o que te digo, não faças o que eu faço'.

A verborreia inconsequente com a realidade dos factos e preenchida de lugares comuns como se fossem dados irrefutáveis, que, ditos repetidamente, passam a constar como verdade insofismável é, ou têm sido, apanágio da candidata à presidência do governo do maior partido da oposição.

Da Região Económica agora passamos a Região Cultural – e o que é isto significa?! Nada! Muito se diz sobre o que Ponta Delgada conquistou ou fez nos últimos anos, mas a cidade não construiu um evento 'âncora' de referência em termos culturais. Pelo menos não o conseguiu por mérito da autarquia. Felizmente, os agentes locais e as instituições governamentais têm contribuído para o engrandecimento da agenda cultural da cidade. Entidades que são todas, sem excepção, 'ignoradas' pelo município. Dizer o contrário é desconhecer a realidade de quem assiste incrédulo à plêiade de articulistas e notas de imprensa profusamente divulgadas sem critério nem rigor, cuja pretensa 'sapiência' tem dado lugar a tiradas deste tipo: "É preciso deixar de levar pela mão aqueles que podem ir pelo seu pé!" – será este o nível de coloquialismo que a candidata pretende 'promover'?! Nada de novo aqui, pois tem sido este o timbre e a bitola aplicada a Ponta Delgada.

Está bem patente, neste tipo de discurso, uma forte questão ideológica que perpassa o Governo da República e granjeia seguidores na região. Para quem o argumento que: "não há outra alternativa", esta é a "hora da verdade" e dá 'graças' à "livre iniciativa", colhe. Quem agora diz que não quer uma "cultura de estado" (!) agiu de forma contrária ao longo da última década. Confunde-se tudo e todos. Fala-se de questões que pouco têm a ver com a criação artística, nivelando tudo pelo mesmo e sem fazer repercutir as necessidades, as qualidades e o actual panorama artístico regional.

Nos tempos que correm, e contrariamente àquilo que tem sido apanágio das políticas recentes do Governo da República e da SEC, a Cultura precisa de ser ainda mais apoiada, mas por quem sabe do que fala. Não precisamos do recurso a 'lugares comuns' para lutar por melhores condições à criação e divulgação dos criadores açorianos, nem mesmo como forma de 'distinguirmos' a singularidade das nossas tradições, pois quem diz não agir por "preconceitos" assinala-os como de estigmas se tratassem.

* Publicado na edição de 18/06/12 do AO
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domingo, 24 de junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

Weekend Postcards





















«(...) Tenho de tratar da vida mas aguento, estou na minha hora da poesia (...)»
+ na Companhia das Ilhas.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A crise quando nasce é para todos

A crise veio para ficar, dirão alguns. O certo é que ela tem permanecido mais do que seria desejável e irá continuar a condicionar o nosso quotidiano até final do corrente ano e, muito provavelmente, durante o próximo.

Para o distinto economista Daniel Bessa só agora é que estamos a chegar aos "momentos mais duros". Ainda mais?! A questão que se coloca é: qual o corte que se segue?!

Para fazer cumprir as metas estabelecidas e com a derrapagem na receita fiscal a gorar as previsões do Estado, o grau de exigência irá aumentar. Não existindo um aumento do prazo de ajustamento, terá de ser tudo aplicado e conseguido durante o próximo ano. E, neste processo de consolidação, será muito difícil a economia crescer (nas palavras 'insuspeitas' de Manuela Ferreira Leite) e será utópica a ideia de que as exportações são o único motor de alavancagem de toda a economia nacional. Apesar de ser o sector que melhor desempenho tem tido, a sua intensidade já foi menor no 1º trimestre deste ano, fruto do desaceleramento de toda a economia europeia e sobretudo dos países para os quais exportamos, que, salvo a Alemanha (e não será por muito tempo), estagnaram.

O erro alemão (para não dizer europeu) passou por considerar "que a crise era apenas dos outros, dos gregos, dos portugueses, dos espanhóis e dos italianos". Por esta hora, isso "já não é uma opção", pela simples razão de que hoje, "a política económica não pode fazer-se nos limites exclusivos das fronteiras nacionais" (in Spiegel Online).

Mas a (in)tranquilidade alemã fez despertar a Europa. E o discurso da 'austeridade absoluta' passou a dar lugar à receita do 'crescimento obrigatório'. Somam-se os planos para reduzir os assustadores números do desemprego e devolver (!) a confiança aos consumidores. Mas tal não se vislumbra tarefa fácil e agora são também aqueles que mais induziram ao consumo os que mais sofrem com ele - os bancos. E são, também eles, os que mais desconfianças geram no sector financeiro, que é quem, no fundo, balança todo o sistema económico onde nos inserimos.

Enquanto escrevo estas linhas discute-se se irá haver ou não resgaste à Espanha, a maioria parlamentar na Assembleia da República chumba a descida do IVA na restauração, comenta-se a perda dos feriados nos próximos anos e o quão absurdo esta decisão é (pelo menos nos propósitos que consubstanciam esta interrupção) e Batista Bastos assinala com a sua habitual acutilância a 'miséria moral' das declarações de António Borges, conselheiro do governo da República para as privatizações, ao afirmar sem dó nem complacência que "a diminuição de salários, em Portugal, não é uma política, é uma urgência e uma emergência." A indignação foi a que foi e teve a anuência e patrocínio do 1º Ministro, cuja acção irracional está, nas palavras do Prof. Viriato Soromenho-Marques, «a rasgar todos os limites» da nossa dignidade.

E antes mesmo de terminar, a agência de notação financeira Fitch lança um relatório (mais um!) onde 'acredita' que a Europa vai sair da actual crise, mas, para isso, precisa de mais medidas de austeridade. Os cenários são mais ou menos catastróficos e incluem 5 possibilidades para um futuro próximo: "a saída da Grécia; uma quase-união orçamental; um euro-marco (onde os países mais fortes, como a Alemanha, deixariam o euro); uns Estados Unidos da Europa; o fim da união monetária" (in Agência Financeira).

Nada que faça perder a tranquilidade de um país à beira de um campeonato europeu de futebol. Por cá, os tempos não são menos conturbados, mas assistimos à renovação e à projecção do futuro e do património comum com responsabilidade e confiança.

* Publicado na edição de 11/06/12 do AO
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segunda-feira, 11 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Está?!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Os Açores não estão a saque
















Esta semana fomos confrontados com um conjunto de notícias reveladoras de uma perigosa "hemorragia" que, se não for estancada em tempo devido, corre o risco de imobilizar um número significativo de serviços do Estado na Região Autónoma dos Açores.

Desde o início desta "ordem para cortar", os Açores têm agido com responsabilidade perante as exigências do desígnio orçamental. Porém, parte da aplicação que nos é imposta tem sido feita em surdina, sem olhar às idiossincrasias de um espaço geograficamente descontinuado, e sem articulação, ou com deficits de atenção, para com as entidades regionais - que nunca, e isso convém que seja dito, se colocaram à margem das consequências dos ajustamentos aplicados aos serviços do Estado, cujo emagrecimento tem reflexos imediatos na qualidade dos serviços prestados às populações.

Aliás, temos assistido exactamente ao oposto. Ou seja, o Governo Regional tem agido cirurgicamente, com os pouco meios financeiros que tem ao dispor, quer para tentar suprir a falta de condições, em alguns casos mínimas, de funcionamento de algumas instituições nacionais, ou tentando atenuar os cortes orçamentais com que foram contempladas, quer assinalando o "desmantelamento das funções de soberania e da sua representação na Região", que se verifica ao nível do encerramento de Tribunais, da acção da Polícia de Segurança Pública, da Universidade dos Açores, da fibra óptica para as Flores e Corvo, das obrigações de serviço público no transporte aéreo, do aparente fecho de Serviços de Finanças e do anúncio da redução da emissão e passagem efectiva a "janela" da RTP/A.

Nada disto tem sido feito com parcimónia. O que me espanta é que a indignação de ontem tenha dado lugar a uma passividade generalizada e ao dislate oficial - se estás mal, emigra! O receio da população adensa-se, como ontem afirmou o antigo presidente Jorge Sampaio, pois «no centro da crise estão pessoas - pessoas que temem pelos seus empregos, que receiam pelo seu futuro; no centro da crise estão cidadãos que começam a ficar dominados pelo medo, pela desconfiança e pelo ressentimento, uma mistura explosiva a que há que saber dar resposta».

O actual Governo da República tem tido poucas respostas e tem pautado a sua acção de modo fortuito, confundindo rigor com cortes cegos, agindo de forma arrogante e desculpando-se com os "erros do passado", fazendo tábua rasa do que havia dito em campanha eleitoral.

Não queremos exigir mais da República e temos todos de contribuir para um esforço nacional de eficiência e racionalização de meios. Mas temos o direito de chamar o Estado a cumprir as responsabilidades que exerce em território regional. Não podemos desistir de reivindicar, nem aceitar a alienação do património autonómico sob as promessas da resolução desse deficit por via demagógica e populista e com anúncios de ocasião para tudo aquilo que são funções e obrigações do Estado. A não ser que sejamos adeptos do "estado mínimo", com todas as implicações que isso comporta. Será que quem preconiza esta agenda tem como único objectivo obrigar a região a pedir um resgate financeiro como o da Madeira? Ou quererá entregar a Autonomia Regional ao Terreiro do Paço?! "Os Açores não estão a saque", como afirmou responsavelmente (e bem) Vasco Cordeiro em São Jorge.

* Publicado na edição de 04/06/12 do AO
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Tuning


Portas da Cidade, Ponta Delgada, Maio'2012