Complementarmente, a abertura do espaço aéreo da região terá originado um efeito de contágio associado à sua localização geoestratégica, a meio caminho entre a europa e o continente norte-americano, a uma distância relativamente próxima (curta) deste mercado turístico.
Parte deste sucesso deriva, igualmente, da instabilidade política mundial, dos recentes desastres naturais nas Caraíbas e ao contínuo devir turístico contemporâneo, na procura incessante por lugares remotos, intocados e, paradoxalmente, como refere recentemente a Airbnb, num vídeo promocional aos Açores, por destinos “Not Yet Trending”. Realço o Yet, porque a intenção é torná-lo, a breve trecho, Not.
Estes são sinais evidentes da reformulação do turismo à escala mundial, num processo dinâmico e em curso, no qual passamos de (ilustres) desconhecidos a (notáveis) emergentes.
Apesar de existir uma consciência, entre nós, dos particularismos deste fenómeno, o mesmo acarreta, sem margem para grandes dúvidas, uma responsabilidade acrescida, na medida em que não nos podemos deixar cair num processo de “Disneylização”.
Para tal, temos de implementar (ontem, já era tarde) um sem número de opções para melhor responder a estes fluxos, cada vez menos sazonais e com um carácter mais permanente (e intenso). Contudo, receio que, este fenómeno, já está para além de qualquer controle ou delimitação.
Em parte, porque estamos a sair de uma crise económica, com efeitos mais ou menos visíveis, e que tem no crescimento da actividade turística, um dos aspectos mais evidentes da nova dinâmica presente na economia regional.
Ninguém o ignora, e perante o cepticismo inicial, assistimos a um movimento de sentido único, em que tudo converge - numa espiral acéfala - para o turismo. No passado recente, já testemunhamos os efeitos da concentração do investimento (colectivo) num único sector económico, com os resultados que se conhecem.
Outro aspecto - amplamente discutido mas imensamente ignorado - é a qualidade da oferta dos serviços que prestamos a quem nos visita. A qualidade do destino não está em causa. Contudo, o perfil de cliente a bordo da Delta Airlines não se compadece com uma parte significativa do que temos para oferecer, não só em termos de restauração mas em todos os serviços complementares, incluindo, o alojamento e animação. A exigência e a disponibilidade terá de ser, forçosamente, outra.
A este respeito, socorro-me de um exemplo corriqueiro, em tempo de eleições autárquicas, para demonstrar o muito que há por fazer (e que não foi feito, nem foi acautelado).
Para o candidato que pretende renovar o mandato à frente dos destinos daquele que considera ser: “o motor de desenvolvimento dos Açores, a porta de entrada do turismo, o novo pilar de desenvolvimento do concelho, da ilha de São Miguel e do arquipélago”, não existe espaço na agenda cultural do município para os eventos, e para as instituições, que não fazem parte do perímetro municipal.
Alguém imagina, por exemplo, que um turista ao chegar a Lisboa não tenha acesso à informação cultural relativa ao Centro Cultural de Belém, ao Museu de Arte Antiga ou à Fundação Gulbenkian?
Em Ponta Delgada, nos últimos quatro anos, foi o que aconteceu. Será esta postura compaginável com um discurso aparentemente conciliatório?
A par de outras medidas fundamentais, importa implementar “uma agenda cultural anual que agregue toda a informação da oferta disponível no concelho e que não promova apenas os eventos municipais.”
Os desafios deste tempo (e dos que se adivinham) não são solúveis com estados de alma, requerem determinação e um projecto afirmativo para a cidade e para o concelho.
Ponta Delgada, como um todo, merece mudar para melhor.
* Publicado na edição de 25/09/17 do Açoriano Oriental
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