O que é ainda tradição, identidade e memória deu lugar ao que hoje, num acto de modernidade provinciana, se designa por Festival (e outras designações equiparadas).
O ano eleitoral autárquico, apenas, veio conferir uma áurea, ainda, mais difusa à balbúrdia instalada.
Nada disto acontece por livre e espontânea vontade, existe, por regra, um apoio público que viabiliza o investimento privado.
O que parece não existir, para além de uma total ausência de critérios e objectivos programáticos em torno de uma pretensa agenda de animação turística, para a totalidade do território arquipelágico, é a responsabilidade de quem promove estes supostos (in)ventos sob a égide da promoção do destino (Açores).
Actualmente, a profusão de entidades promotoras é absurda, e já perdi a conta ao número de associações, cooperativas, e restantes organizações, que concorrem aos apoios disponíveis.
Se há uma ilação a retirar da crónica destes “anos de chumbo” (Eduardo Paz Ferreira), é a de que os recursos são escassos e devem ser utilizados com enorme parcimónia.
Os últimos meses provaram o seu contrário.
Que sentido é que faz apostar na divulgação de iniciativas concentradas em três meses do ano, num período que já se encontra vendido e que já não tem capacidade de resposta à solicitação presente?
Os problemas estão amplamente diagnosticados mas tarda em chegar uma resposta consentânea para um conjunto de questões prementes.
Embora se considere que a sazonalidade já não é o que era, o facto é que ela não desapareceu e é, porventura, por estes dias e nos que se avizinham, ainda mais vincada perante o aumento exponencial da oferta (de serviços).
Daí que considere fundamental (tal como foi, e bem, anunciado pelo Governo Regional) que se introduzam critérios rigorosos na atribuição de apoios públicos para iniciativas que tenham um retorno, real e efectivo, para os Açores. E que não estejam assentes num cálculo especulativo de visibilidade mediática, em meios que não têm a repercussão adequada às características do destino, nem são compagináveis com o perfil do turista que procura e visita estas ilhas.
O pior que nos poderá acontecer é cairmos na tentação de promover uma amálgama de animação indiferenciada (e desqualificada), sem qualquer valor acrescentado, mascarada pela partilha (promovida) nas redes sociais.
A mantermos o nível da oferta a que assistimos este verão, o risco está bem mais próximo do que possamos imaginar.
Do mesmo modo, continuaremos a ter uma escassez de recursos para o funcionamento de instituições e instalações basilares à prossecução de actividades culturais/ambientais. Assim como, para a materialização de iniciativas fundamentais à qualificação presente e futura das comunidades locais.
Este é o tempo de afirmamos, de uma vez por todas, o que queremos para o desenvolvimento da animação turística e da própria actividade turística nos Açores.
É altura de agir, deixemo-nos de (in)ventos sem sentido, nem expressão.
* Publicado na edição de 16/10/17 do Açoriano Oriental
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