segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

(Melhores) conteúdos

Nesta página, e nas que se seguem, os assuntos são múltiplos mas versam, na sua maioria, quase, sempre, o mesmo: a política e os seus protagonistas.

Muitos dos que aqui colaboram, escrevem (gratuitamente) por prazer, por vaidade, como terapia, para o colega do lado ou para um núcleo muito restrito daqueles que, ainda, lêem jornais e, estão familiarizados, em pagar por eles.


Por estes dias (difusos) são cada vez menos os que pagam pela assinatura de uma publicação, sendo que muitos migraram para o digital ou acabam por aceder aos jornais no café (que por cá os disponibiliza gratuitamente).


Contrariamente ao que alguns possam supor, este não é um problema, eminentemente, local, é um desafio global. A questão local acarreta outros contornos, em que a dispersão geográfica e a reduzida escala, destes calhaus, agravam, sobremaneira, as opções editoriais e, por consequência, as económicas.


De um modo generalizado, as empresas de comunicação estão a atravessar por um tempo de enormes constrangimentos, provocados, em grande parte, pela perda de receitas (mas não de leitores). O custo da publicidade desceu drasticamente, o investimento publicitário não desapareceu, migrou, isto sim, para outras plataformas, onde hoje é possível definir, com enorme rigor, o público-alvo que queremos atingir, seja por área geográfica, por idade ou, simplesmente, pelos seus hábitos de consumo.


Neste sentido, os meios tradicionais, jornais, rádios e, inclusive, televisão, estão imensamente pressionados para conseguir ultrapassar este estado de coisas.


A posição dos gestores tem sido a de cortar (cegamente) os custos, para reduzir brutalmente a despesa, não raras vezes naqueles sectores que são primordiais para manter a existência (ou a qualidade) de um determinando serviço. Existem mais-valias que não são mensuráveis, pelo que a resposta a um corte, são novos cortes, até a uma degradação generalizada.


Parte da solução passa(rá) por responder de forma diferente e não através de soluções passadas para desafios do presente (e do futuro). A questão está, acredito, na disponibilização de melhores conteúdos e na forma (meios) como estes chegam às pessoas. Tal como em outros serviços, a imagem e o preço contam, o cliente está mais exigente (e já não compra tudo o que lhe oferecem, opta e faz escolhas).


E por hipótese, no caso de não exis
tirem consumidores para o produto que disponibilizamos, fará sentido falarmos da prestação de um serviço público sem destinatário(s)?

Para que isto não seja mais gravoso, é necessário perceber quem são os receptores, sendo que os Açores de hoje, por mais incrível que isto possa parecer a alguns, já não são os mesmos daqueles que conhecemos na década de oitenta.

O tempo é de especialização, do trabalho para nichos (de mercado) e para comunidades singulares. 
O desafio do presente é o de produzir conteúdos complementares aos que estão acessíveis na box lá de casa. E, compreender, de uma vez por todas, que o jornal (local e nacional), a rádio e a televisão pública já não são os nossos (únicos) canais de ligação ao mundo.

* Publicado na edição de 11/02/19 do Açoriano Oriental
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Notoriedade e ambiguidade (cool)


Num mundo cada vez mais globalizado (massificado e homogeneizado) assistimos tendencialmente, e paradoxalmente, talvez, a fenómenos mais conectados com o local, em contrapondo com o global.

Pode até parecer uma contradição mas num tempo em que o discurso é preenchido com megabytes, fibra óptica e wifi, são cada vez mais os exemplos dos que regressam ao campo, na procura de um modo de vida mais tranquilo, reabilitando usos e costumes que se julgavam (irremediavelmente) perdidos, na voragem de um tempo pleno de insatisfação, saciado, apenas, pela alienação consumista (de preferência online).

Estes são dias de transição, inconstância e desigualdade, liderados por egos desmedidos, mascarados de benevolência nacionalista e populismo a la carte.

Coincidentemente, ou não, há uma maior consciência colectiva para a necessidade de reduzirmos a nossa pegada ecológica, quer pelos sinais que o planeta nos transmite, de forma cada vez mais devastadora, quer por aquilo que consumirmos e, por consequência, pelos resíduos que produzimos.

É neste sentido que se verifica uma crescente atenção pelo que é artesanal, seja pela reciclagem de uma peça de mobiliário ou pela produção/aquisição de um produto hortícola. Concomitantemente, existe uma maior sensibilidade para a importância de adquirirmos produtos locais, com reduzido impacto ambiental e de importância fundamental para a manutenção e progresso das comunidades, sobretudo, em meio rural.

A ilusão simbólica da voracidade contemporânea faz com que tudo aparente estar próximo, acessível e descartável, “não há abrandamentos, nem paragens, nem sequer pausas, senão aquelas que são obrigatórias por regulamento, pressão, convenção ou vaidade. Vivemos sempre com o telemóvel na mão (…).” (José Manuel dos Santos e António Soares, Editorial, Revista Electra nº3).

E aqui chegados, sublinho o artigo que a revista Forbes publicou, recentemente, onde identifica os 10 países mais “cool” para visitar em 2019.

Portugal lidera este restrito Top10, única e exclusivamente, por referência aos Açores.

Este é, muito provavelmente, o culminar de um trabalho em prol da notoriedade do destino Açores (num processo há muito iniciado).

Pode até parecer ambíguo e contraditório o momento em que nos encontramos, na medida em que necessitamos do crescimento turístico mas sem que este coloque em risco a sustentabilidade ambiental do arquipélago (sendo que o crescimento da actividade turística é vital para recapacitar a economia).

Como é que podemos (e devemos) concretizar este (ténue) equilíbrio? Nunca pelo incremento quantitativo de reduzido valor acrescentado mas, sim, pelo aumento qualitativo da receita associada ao produto disponibilizado.

É neste capítulo que devemos activar a notoriedade obtida em publicações com a importância da Forbes, e de outras suas congéneres, com ênfase na riqueza da autenticidade do local. Devemos evitar, a todo o custo, a vertigem pelo facilitismo e pelo lucro a qualquer preço.

Mais do que palavras, importa agir de forma concreta e substantiva, num tempo em “a velocidade, ao anular as distâncias, anulará também as diferenças entre os lugares, por toda a parte arrastando os peregrinos do prazer para os mesmos sons e as mesmas luzes factícios, os mesmos monumentos tão ameaçados nos nosso dias como os elefantes ou as baleias (…)” (Marguerite Yourcenar, “O Labirinto do Mundo”).

Este é hoje um desafio com que muitos destinos turísticos se digladiam, pois “de tudo e com tudo se faz turismo”, o qual implica, forçosamente, planeamento, monitorização e decisão, naquela que é uma “viagem sem fim, a não ser o nosso.”

* Publicado na edição de 14/01/19 do Açoriano Oriental
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