Nos Açores, é rara a semana onde não exista uma apresentação ou um lançamento de um novo livro.
Paradoxalmente, em muitas ilhas não existe uma livraria e as poucas que existem, dignas desse nome, lutam pela sua sobrevivência, face às contingências de um mercado global e de uma concorrência difusa, onde o livro é tratado como uma mercadoria indiferenciada, das grandes superfícies (supermercados e hipermercados) aos portais online (de fácil acesso e com portes de envio gratuitos).
Num mundo em mudança (acelerada), os hábitos dos consumidores privilegiam o imediatismo e menos a personalização do livreiro (e a qualidade do serviço usufruído).
O espaço livraria tende a ser um habitáculo de muitas culturas, sejam elas digitais ou de entretenimento, onde o livro coexiste e resiste (sendo que já não podemos dizer o mesmo, relativamente à música e aos filmes, por exemplo, cujo processo de desmaterialização é por demais evidente).
Contudo, não dispomos de muito dados sobre o mercado editorial português, e menos ainda do regional (se é que podemos tratá-lo como tal), mas é um dado reconhecido, por todos os intervenientes directos, que a “contração do mercado de venda de livros não voltou a registar o volume de vendas dos anos anteriores à crise económica, à qual também não escapou a própria concentração de pequenas e médias editoras em grandes grupos editoriais” (DGLAB).
Paralelamente, e em contraciclo, têm surgido um número significativo de pequenas editoras, propriedade, por exemplo, de profissionais excedentários dos grandes grupos editoriais, cuja atividade prima por uma abordagem inovadora, com títulos especializados, tiragens baixas e arrojo gráfico.
Num território onde os livros são profusamente editados, sejam através de editoras ou por edição de autor, como é que estamos de leitores? E será que todos os livros são merecedores da mesma atenção?
A crítica literária (cultural, teatral, musical e artes plásticas) é, também ela, um objecto raro. Importa esclarecer que não sou contra a pluralidade editorial (e cultural), temos é de perceber que nem tudo o que é editado tem a mesma qualidade, nem pode ser equiparado (esta observação é válida para todas as áreas artísticas). Daí que seja fundamental a existência de um intermediário (crítico), entre produtor e receptor, por forma a identificar uns e outros.
Do mesmo modo que um espectáculo carece de espectadores, um escritor (ou um livro) tem de ser lido para fazer cumprir o seu ideário.
O incentivo à edição não pode estar dissociado de um eficaz plano de leitura, da difusão do livro e no incremento do acesso à extensa rede de bibliotecas (escolares, municipais e públicas) que temos ao dispor (no arquipélago).
A melhoria do nosso ranking, como indivíduos e como sociedade, também passa, muito, por aqui.
* Publicado na edição de 25/02/19 do Açoriano Oriental
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