O aumento (exponencial) da actividade turística (no país e na região) atenuou os efeitos devastadores da crise financeira de 2008, gerou emprego e, concomitantemente, riqueza.
Nestes últimos cinco anos, assistimos ao incremento (sem paralelo) de um sector estigmatizado pela sazonalidade, cuja evolução (recente) averbou o inimaginável: dores de crescimento perante o fluxo (incondicional) da oferta.
Fruto do investimento realizado na promoção (externa), o arquipélago passou a ser referência em múltiplas publicações internacionais e o exemplo para as melhores práticas de gestão ambiental.
Nem tudo será perfeito, como nada o é. Contudo, será importante valorizar o que outros sinalizam como diferenciador, na medida em que nos flagelamos com as nossas insuficiências (à espera que alguém nos resolva o problema), revelando alguma relutância em dar boa nota daquilo que temos de positivo.
O investimento externo é (hoje) premente, através do qual assistimos à multiplicação de projectos qualificadores da oferta turística, um pouco por todas as ilhas dos Açores.
Se antes da pandemia discutíamos o aumento da carga turística em locais sensíveis, ou a nidificação de projectos hoteleiros sobredimensionados e descontextualizados da realidade geográfica, social e económica, no momento actual, o dilema reside no reduzido número de turistas que aporta à região, com tudo o que isto implica, a começar pela dificuldade em resistir ao inverno, sem que haja um verão que o compense.
Este é um tempo extraordinário e paradoxal, o que hoje é verdade, amanhã será desmentido.
O confinamento à luz do(s) ecrã(s) fez as pessoas acreditar num mundo melhor, mais justo e solidário.
O regresso à realidade suplantou a intenção, no qual voltamos à(s) rotina(s) e à determinação em manter tudo como era dantes.
A cada dia que passa verificamos que não é, nem será assim. A inevitabilidade das evidências leva-nos a resistir (e a ignorar a mudança).
Neste processo de transição, o estado e as instituições públicas são vitais para a manutenção de sectores importantes da nossa vida colectiva (Cultura, inclusivamente). E para - no meio deste mar de incerteza(s) - transmitir confiança às populações, garantindo “medidas de emergência” e um programa que “garanta a estabilidade e sobrevivência futuras” (Gonçalo Riscado, 08.07.20).
E porque no dia em que existir um tratamento (ou uma vacina) e retornarmos, de facto, a uma coexistência normal (sem ser higienizada), queremos que tudo fique à nossa disposição e daqueles que nos procuram como destino turístico.
O que não pode acontecer é a desvinculação unilateral de uma entidade pública, nomeadamente, a Câmara Municipal de Ponta Delgada que reduziu, de forma inqualificável, os apoios concedidos aos agentes culturais do concelho, retirando o tapete a muitos projetos que subsistem por intermédio da previsibilidade veiculada (e aprovada) pelo Regulamento Municipal de Apoio a Atividades Culturais.
Esta atitude não é compaginável com um período do qual se exige cooperação e responsabilidade dos gestores da coisa pública.
Desvirtuar as pessoas que dependem (quase em exclusivo) deste sector de atividade, é não compreender que existem pessoas e empregos depois do espectáculo acabar.
Será este um passo no processo de candidatura a Capital Europeia da Cultura?
* Publicado na edição de 24/07/20 do Açoriano Oriental
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