O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor celebra-se a 23 abril, foi comemorado, em São Miguel, com várias iniciativas, das quais destacaria a inauguração da exposição “Fumo do Meu Cachimbo” de Dias de Melo, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, e a “Festa do Livro” na livraria (e editora) Letras Lavadas.
Simbolicamente, o MOVA - Movimento Cívico pela Cultura dosAçores deu, também, a conhecer a sua proposta para a criação de uma Política Integrada Regional para o Livro e Leitura, a qual recomenda a implementação e
adopção de um amplo conjunto de acções, entendidas como essenciais para “a
redução de desigualdades sociais” e “para construir uma sociedade mais educada,
justa e inclusiva.”
O comunicado do MOVA é mais uma tomada de posição pública
(coerente), assumindo a dianteira da representação do sector cultural e
criativo dos Açores, junto dos poderes instituídos, neste particular, no
recentrar da importância do livro junto do papel que representa (e pode significar)
no desenvolvimento económico e social deste território.
Os problemas estão amplamente diagnosticados e carecem
somente de uma estratégia que permita uma ágil actuação no terreno, coadjuvada
pelos recursos necessários, e consentânea com a missão das instituições associativas,
privadas e públicas (que lutam todos os dias por uma gritante falta de meios).
Considero esta recomendação muito pertinente, em múltiplas
dimensões, até porque vivemos num momento paradoxal, onde assistimos à
proliferação de pequenas editoras, cada vez mais especializadas e de nicho, e
ao crescimento do consumo do livro por parte de um público mais juvenil (segundo
o estudo da Nielsen/GFK para a Associação Portuguesa de Editores e
Livreiros (APEL) sobre os hábitos de compra e de leitura dos portugueses).
Curiosamente, o programa cheque-livro no valor de 20 euros,
pelos jovens nascidos em 2005 e 2006, num universo estimado de 220 mil
potenciais beneficiários, foi prolongado até 15 de Julho porque a sua
utilização ficou abaixo das expectativas. Segundo os dados partilhados pela
Direcção-Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), até 21 abril,
véspera do fim do prazo, tinham sido emitidos 44.959 cheques-livro, tendo sido
utilizados 34.442, o que na prática significa que mais de 185 mil destes cheques
ficaram por utilizar. Existem várias razões apontadas, como o valor da medida
ou os procedimentos administrativos para a sua emissão.
Desconheço os dados da medida regional, ou mesmo a adesão
dos jovens leitores açorianos à iniciativa nacional, mas seria útil uma
disponibilização para a sua melhor análise.
Termino com a leitura crítica de Mário Vargas Llosa,
falecido recentemente, na qual explicita (na sua obra “A Civilização doEspetáculo”) que “o escritor pode prestar um serviço aos seus contemporâneos e
salvar o seu ofício da deliquescência em que às vezes parece estar a cair. Se
se tratar apenas de entreter, de fazer o ser humano passar um bocado agradável,
mergulhado na irrealidade, desligado da sordidez quotidiana, do inferno
doméstico ou da angústia económica, numa relaxada indolência espiritual, as
ficções da literatura não podem competir com as que fornecem os ecrãs, grandes
ou pequenos. As ilusões forjadas com a palavra exigem uma participação ativa do
leitor, um esforço de imaginação e, às vezes, tratando-se de literatura
moderna, complicadas operações de memória, associação e criação, algo de que as
imagens do cinema e da televisão dispensam os espectadores. E estes, em parte
por causa disso, tornam-se a cada dia mais preguiçosos, mais alérgicos a um
entretenimento que seja intelectualmente exigente.”
Os desafios do presente, convocam-nos a todos (sociedade
civil), pelo que não podemos remeter as responsabilidades (apenas) para quem
decide, os quais devem ser impelidos, isso sim, a melhor governar.
[+] publicado na edição de 29 abril 2025 do Açoriano Oriental
[++] imagem Quetzal