Assisti no Teatro Faialense, na passada 5ª feira, à apresentação itinerante do telefilme
Anthero - O Palácio da Ventura, a nova produção da
RTP/Açores e do realizador José Medeiros. No intervalo que antecedeu a exibição houve tempo para uma breve apresentação, a cargo do realizador, que explicou à plateia que
Anthero não era “o” filme mas “um” filme, o dele, sobre a vida de um dos açorianos mais ilustres que a região deu ao país.
Não me cabe a mim dissertar sobre os dois “objectos”. Acompanho o trabalho do realizador micaelense, como de resto a grande maioria do público açoriano, e como em tudo há coisas com as quais me identifico mais, outras nem tanto e outras às quais sou omisso.
Anthero não é um objecto telegénico no sentido da linguagem voraz destes tempos que correm, mas é um ideário ficcional da vida e obra de
Antero de Quental. Numa primeira leitura esta obra pode despoletar, pelas inúmeras referências que encerra, o pretexto para a descoberta do brilhante intelectual. Pode e deve! Na medida em que existe porventura um défice de exposição pública nacional e regional de Antero em detrimento de outros nomes de época, seus contemporâneos e com os quais privou, tais como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão.
Anthero vive sob a sombra do suicídio de Antero o que é, para mim, apenas o desfecho e não o corpo principal da sua obra, mas isso é apenas uma opinião. E que no fundo sintetiza o que diz Eduardo Lourenço no prefácio das «
Causas da Decadência dos Povos Peninsulares», editado pela Tinta da China: “
O que tem predominado é o interesse doentio pela sua morte e também pela vida, que a devoção dos amigos transformou em fantasiosa biografia. Mas o verdadeiro Antero está na obra em prosa e verso que nos deixou”. E mais não digo.
Ao olhar
Anthero vi nele muito de José Medeiros - o lado obsessivo, boémio e musical (?!). E tal como o próprio disse, estamos perante uma visão pessoal, mas, e apesar de tudo, transmissível. E que estará por estes dias num teatro perto de si, brevemente em DVD e na emissão da RTP/Açores. Este esforço de proximidade é uma iniciativa maior do canal regional, que desta forma não se resigna a dirigir-se apenas a quem fica em casa. Gostaria aqui de endereçar uma palavra de apreço a todos os profissionais envolvidos nesta produção, em particular ao Raul Resendes, pela transposição fiel e realista do poeta da Geração de 70.
Faltam exemplos destes, independentemente da forma ou dos recursos estilísticos, que nos façam reflectir sobre aquilo que fomos, somos e queremos ser. Antero foi, tal como disse
José Medeiros, um “homem extraordinário”.
* edição de 17/03/09 do
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