quarta-feira, 11 de março de 2009

Criatividade reprodutiva

Em tempos conturbados e de incerteza é sempre mais fácil destruir do que construir. A maledicência – é, à falta de melhor, um dos desportos preferidos dos portugueses.

Esta introdução vem a propósito da notícia que coloca dois jovens açorianos - Rodolfo Botelho Vieira, de 28 anos, e Maria Beatriz Oliveira, de 24 - num grupo “restrito” de 100 jovens talentos criativos europeus que vão participar em Bruxelas, de 21 a 22 Abril, no Fórum sobre as Regiões e Municípios Criativos da Europa, numa candidatura promovida pelo Governo dos Açores.

Temos assistido, por desconhecimento ou apenas para cumprir agenda, a uma ladainha miserabilista que tudo cronometra a Zero. As oportunidades profissionais e curriculares da juventude açoriana não se encerram na geografia das ilhas, sendo salutar que a maturação da sua progressão seja efectuada no arquipélago. Não obstante, e havendo disponibilidade para o exercer no exterior, esse facto constitui-se como uma mais valia, não invalidando, obviamente, um retorno futuro, sempre que isso for possível, ao ponto de origem. Para isso são necessárias condições. E o trabalho efectuado tem sido contínuo e tem permitido algumas conquistas, se bem que as oportunidades não surgem, e temos de abordar este assunto de forma pragmática, de forma harmoniosa no todo arquipelágico. Para isso temos todos de contribuir - sector público e privado - na prossecução de mais e melhores alternativas de empregabilidade e de progressão profissional. O mundo não é nem tenta ser rosa, também não é a negritude com que alguns tentam pintá-lo.

Desenvolver uma carreira de âmbito artístico nos Açores tem óbvias limitações sendo que a barreira do local tem cada vez menos expressão no global. Mas há cada vez mais, menos impossíveis e esta participação é um bom exemplo daquilo que é possível produzir nas ilhas, posicionando-nos numa dimensão comparável com outras que são à partida incomparáveis com a realidade açoriana.

O Governo deve concretizar de forma estratégica a sua política de incentivo ao desenvolvimento das indústrias e dos mercados ligados à Cultura, como um meio privilegiado de promoção do emprego, nesta área, e como forma de consolidar valor acrescentado às ilhas.

Por esta e por outras vias é que digo que a Cultura é um instrumento reprodutivo.


* edição de 03/03/09 do AO
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*** Imagem X Teatro Micaelense/Fernando Resendes

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