terça-feira, 9 de junho de 2009

Especulações



Especular significa observar/estudar no campo teórico e assume no âmbito económico características "inflacionistas", com um claro objectivo de retirar dividendos em benefício próprio (ou pessoal). É isso que faz o partido que mais votos teve no passado domingo. Sim, porque cantar vitória com uma abstenção record é no mínimo obtuso, legitimo, é certo, mas com uma forte índole histriónica.

O nível de abstenção nos Açores foi o mais elevado do todo nacional e isso deve-se a factores vários, que não apenas os relacionados com este acto eleitoral, em particular, mas que podem ser extrapolados a outros níveis de participação cívica. Este facto é algo que nos deve preocupar a todos e não apenas a classe política. E é um dado que deve constituir-se por todas as razões e mais algumas deveras inquietante.

O voto obrigatório tem sido aflorado como uma das soluções possíveis para estancar este fenómeno, não obstante a discussão e o debate que se impõem nesta situação, convém referir o facto de que é possível agir noutros moldes, nomeadamente, através da revisão do acto em si, na medida em que é necessário aproximar o voto às pessoas, sem que com isso se descure a necessidade de intensificar o nível de debate e o esclarecimento público. Esta é uma reflexão que se impõe.

Não comentar uma pretensa especulação disfarçada de realidade incómoda (Ferreira Leite - a candidata presidente) é o mesmo que comemorar resultados idênticos aos de 2004 (o score eleitoral do PSD somando ao do PP, em 2009, é o mesmo se comparado com o da coligação PSD/PP de 2004, 23403 e 23804 votos, respectivamente), acrescida de especulações sobre o objectivo/desempenho eleitoral em 2012. Cada acto eleitoral segue uma cadência de personalização crescente. E em época de crise a direita aumenta tendencialmente (vertente populista e nacionalista), os resultados europeus destas eleições são disso um bom exemplo, ao passo que o voto à esquerda da esquerda absorve o descontentamento popular pela proposição das dificuldades sociais que atravessamos. Estas eleições são disso prova e Sócrates não foi excepção no contexto europeu nem Vital foi mobilizador, esclarecedor nem conciliador, bem pelo contrário. O debate nacional em torno destas eleições foi demasiado centrado nas disputas caseiras e aquém das questões europeias em discussão e cujo desfecho muito nos afecta.

A conclusão que podemos retirar destas eleições é que quem quis foi votar, uma imensa maioria não quis. Ponto. Especular é sempre possível e o populismo de conveniência serve a pretensão das parangonas. Os Açores mantiveram os seus 2 representantes na Europa e no final do dia são essas as contas que importam no âmbito de uma eleição nacional. Os parabéns aos eleitos!


* Edição de 09/06/09 do AO
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