Em dia de reflexão nos Açores e em véspera da apresentação do Orçamento de Estado para 2013, o Presidente da República resolveu dar a cara ao país na rede social da moda, para dizer o contrário do que o governo tem anunciado, nas últimas semanas, e para se demarcar do mesmo, afirmando: "(…) Nas presentes circunstâncias, não é correcto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objectivo de défice público fixado em termos nominais", na medida em que "Se o crescimento da economia se revelar menor do que o esperado, o défice nominal será maior do que o objectivo inicialmente fixado, porque a receita dos impostos é inferior ao previsto e as despesas de apoio ao desemprego superiores" (!). E acaba a sua entrada na página do Facebook a citar o economista chefe do FMI, Olivier Blanchard, que diz: não se deve "impor a adopção de medidas orçamentais adicionais, o que tornaria a situação ainda pior".
Estes avisos à navegação não são novos e a responsável do FMI, Christine Lagarde, já havia referido o mesmo. Em Portugal, já provámos que a receita aplicada não resulta, com as consequências gravosas que se conhecem. A pergunta é simples e óbvia para quase todos: porque é que insistimos no erro?! Perante as medidas conhecidas para o próximo ano, e com a rejeição com que foram recebidas, a resposta transcende-me.
Perante estas posições titubeantes, quer do Governo, quer agora do Presidente da República, está instalado um clima de grande descontentamento e de grande instabilidade em Portugal.
Esta declaração não é inocente e ocorre no mesmo dia em que assistimos a mais uma grande manifestação em Lisboa e em vários pontos do país contra o desemprego, bem como uma "manifestação cultural" para protestar contra o estado calamitoso (e silencioso) com que este Governo ignora o sector e os profissionais que vivem da Cultura. Na rua, a palavra de ordem fez-se ouvir: "Matar a Cultura é matar a alma de um povo". Se o governo mantiver o seu modus operandi o povo arrisca-se a morrer preventivamente.
O mal-estar na coligação governamental PSD/CDS-PP, apesar de todos afirmarem o contrário, não augura nada de bom. Abandonará Paulo Portas o Governo após a aprovação do Orçamento de Estado? O Presidente da República tem um plano B ou já estará a preparar um "Governo de Salvação Nacional" ou de "Iniciativa Presidencial"?!
O nível de incógnitas desta equação é elevado e os riscos associados tremendos. Numa altura em que precisamos de quem saiba para onde vamos, assistimos, infelizmente, a uma penosa prestação das mais altas individualidades do país que se refugiam em retórica circunstancial e a ignorar óbvio.
Os Avisos já deixaram de ser apenas uma questão marginal e tomaram conta do espaço público. Os sinais são por demais evidentes. Só não os vê quem não quer. E o Governo de Passos Coelho já provou que não os sabe ler e entrou em negação.
Parafraseando Ferreira Fernandes, ontem no DN: «(…) Mau analista político que eu sabia ser, refugiei-me no bom senso e escrevi a crónica a 6 de Junho de 2011. Errei foi na última frase: "Pensem nisso, antes que os factos obriguem a pensá-lo daqui a seis meses." Fui totalmente otimista. Precisámos de um ano e quatro meses.» De quanto tempo mais necessitará o Ministro das Finanças?! Se for demasiado, pode ser tarde demais…
* Publicado na edição de 15/10/12 do AO
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