Os sinais para o que se passou, esta semana, andavam por aí. Ninguém os queria ou quis ver. A demissão de Vítor Gaspar precipitou-se após uma ida ao supermercado, na qual terá sido presenteado com alguns populares mais exaltados. É caso para perguntar: há quanto tempo é que o Ministro não ia às compras? Terá conseguido passar os últimos dois anos longe da realidade ou do país real? A carta de demissão por ele apresentada acaba por ser um mea culpa por assumir o que nos era evidente: a falência das medidas e das previsões de um tecnocrata isolado governamentalmente e de um governo incapaz de honrar os compromissos que assumiu com a Troika. Aliás, será esta a questão que estará na base do episódio novelesco com que Passos e Portas brindaram os portugueses. Ninguém foi capaz de pôr em prática os cortes sociais de 4,7 mil milhões de euros, na já famosa reforma do estado tantas vezes anunciada, outras tantas adiada e que, por razões que todos conhecemos, foi esta semana esquecida e passada para segundo plano.
A imagem pública de Paulo Portas sai muito fragilizada no final desta contenda. Isto apesar de sair reforçado politicamente e ministerialmente da birra que protagonizou. Será que, por uma vez, terá medido as consequências financeiras da sua decisão irrevogável? O nível de irresponsabilidade demonstrada apenas reforça o preconceito popular em relação à classe política. E fica mais uma vez provado o respeito que estes políticos têm pelos sacrifícios dos portugueses, na exacta medida que o nível de danos introduzido por esta crise politica na credibilidade das instituições nacionais, perante a voragem dos mercados e dos credores internacionais, coloca-nos irremediavelmente perante o indesejado segundo resgate. Num só dia a bolsa nacional caiu 5,31% e perdeu 2.650 milhões de euros. Esta é apenas uma pequena parte do custo directo do amuo do actual (ex?) Ministro dos Negócios Estrangeiros. Será que podemos continuar a confiar o comando do país a alguém com este grau de personalidade flutuante?
Aparentemente há uma solução de compromisso no seio da coligação. Segundo Passos Coelho, na leitura da declaração conjunta com o PP do passado Sábado, os dois partidos chegaram a um “acordo sólido e abrangente”, o qual “reúne as condições políticas necessárias para o Governo chegar ao fim da legislatura e assegurar o cumprimento das nossas obrigações internacionais”. Nada disto é plausível. Continuamos no reino da fantasia. E depois de tudo a que assistimos esta semana, e que nos últimos anos foi dito por Vítor Gaspar e pelos ‘iluminados’ técnicos da Troika, nem uma palavra de apreço sobre o obreiro do milagre da contenção do deficit e da salvaguarda das contas públicas. Aliás, é curioso, agora, ouvir muitos dos que profetizaram sobre as benfeitorias da receita de Vítor Gaspar e que, neste momento, negam tudo o que disseram até aqui. O falhanço esteve sempre à vista de todos, apenas negámos o óbvio. E ele chegou pela pior via. Pelo ego cego de políticos egoístas e impreparados, cuja ambição ultrapassa largamente o espectro partidário, transformado em mero instrumento ao dispor de uma birra meticulosamente planeada.
Não quero continuar a ‘bater no ceguinho’, mas é impossível evitá-lo. Amanhã, 3ª feira, o Presidente da República irá reunir com os partidos com assento parlamentar, para depois decidir se convoca eleições antecipadas ou aceita a proposta de renovação governamental de Passos Coelho. Cavaco Silva não é um político de roturas, mas de conveniências, pelo que não tem espaço político para fazer outra coisa que não seja aceitar a proposta que lhe foi comunicada, a qual encerra condições por ele estabelecidas.
Pelo que o desfecho para todo este imbróglio é apenas adiado por tempo indeterminado. A coligação está ferida de morte. A sua continuação é a crónica de uma morte anunciada. Resta saber por quanto tempo mais. E que terá no Presidente da República um, senão mesmo, o principal responsável.
* Publicado na edição de 08/07/13 do AO
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