segunda-feira, 30 de setembro de 2013

É Preciso Ir

A exibição regular de cinema comercial voltou a estar disponível em São Miguel e em Ponta Delgada, em particular.

A interrupção das sessões regulares de cinema apanhou todos ou quase todos desprevenidos. Não faltaram vozes a exigir a reposição do cinema. Não faltaram também aqueles que se colocaram em bicos de pés a tentar marcar uma posição ou a esgrimir argumentos sobre uma actividade cujo funcionamento desconheciam (e pela qual nunca se interessaram). De um momento para outro a maior cidade dos Açores ficou sem exibição regular de cinema comercial. Esta foi, até à passada 5ª feira, uma situação incontornável. Na base deste problema esteve o pedido de insolvência da segunda maior distribuidora de cinema em Portugal, a Socorama - Cinemas, detentora da marca Castello-Lopes que encerrou 49 salas nos centros comerciais da Sonae Sierra, entre as quais as 4 de Ponta Delgada.

Mas esta história do fecho de salas de cinema não começou aqui. Primeiro foi o São Pedro Triplex que encerrou, e logo depois as 2 salas do Centro Comercial Solmar tiveram o mesmo desfecho. A abertura do Parque Atlântico, com um complexo de lojas associado, bem como 4 novas salas com condições de projecção e conforto superiores às existentes e uma programação ao sabor do gosto maioritário, foi determinante no destino daquelas salas. Mais: neste mesmo período foi retomada e descontinuada a exibição de cinema em vários pontos da ilha, nomeadamente, na Lagoa, Ribeira Grande (2 salas), Nordeste ou na Vila de Rabo de Peixe, por exemplo. Além disso, a oferta terá sido desproporcional ao público cinéfilo residente, com custos agravados na gestão corrente em termos de oferta e da procura. O declínio e as salas vazias ditaram o encerramento de quase todas elas.

Nos últimos anos a inovação tecnológica facilitou os custos da operação, mesmo e apesar do investimento necessário para a exibição digital, mas tornou tudo ainda mais difícil para os que não puderam acompanhar este processo. Hoje em dia, o número de filmes disponíveis em película (35mm) é residual. Os filmes da grande distribuição existem, na sua esmagadora maioria, em formato digital. Quem não dispor deste equipamento fica fora das grandes estreias, do 3D, e dos filmes que a maioria da população procura ver.

Contudo, não basta lamentar a perda do cinema. Como não basta lamentar o encerramento de algumas instituições e actividades associadas àquilo que agora se convencionou chamar indústrias culturais e criativas. Se o cinema encerrou em Ponta Delgada é porque eram poucos aqueles que lá iam. Os hábitos de fruição estão em profunda mutação. Mas não quero parecer um dinossauro a defender algo cujo fim é inevitável. Para que tal não volte a acontecer não basta o muro de lamentações na timeline das redes sociais, é preciso ir!


* Publicado na edição de 09/09/13 do AO
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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Pior, é possível!



Não consigo entender em que qualidade fala Pires de Lima nesta visita relâmpago à ilha de São Jorge: Ministro, dirigente do CDS/PP ou CEO da UNICER?!

Foi a um comício do seu partido mas não teve tempo para reunir com o Governo dos Açores sobre um tema de importância fulcral para o arquipélago.

A arrogância do Governo da República e a sobranceria com que olha os Açores começa a ser algo difícil de tolerar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Word on the streets

Fotografia RX, Ponta Delgada, Set'2013





















Hoje uma coisa, amanhã outra. A credibilidade deste ministro é chão que já deu uvas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Nada acontece por acaso

O fim de Agosto dita, em princípio, o fim das férias para muitos. Por cá, e com a proximidade do oceano, podemos prolongar o prazer de mergulhar por mais algumas semanas. Assim, pelo menos, o espero.

Este havia sido anunciado, por um canal francês, como o Verão mais frio dos últimos 200 anos. Não quero fazer nenhum juízo precipitado sobre os meteorologistas de serviço mas o facto é que, se este foi o pior, não quero imaginar se fosse o melhor. Há já alguns anos que não tenho memória, nos Açores, de uma infinidade de dias consecutivos com bom tempo, de sol quase imaculado e com uma temperatura de mar a condizer.

E não foi só o tempo que esteve a nosso favor. Mesmo sem conhecer a totalidade dos números do turismo para este Verão é fácil comprovarmos que tivemos (temos!) mais turistas entre nós.

Assim, e com base nos números oficiais disponibilizados pelo Serviço Regional de Estatística referentes ao mês de Junho deste ano, as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros dos Açores registaram um crescimento de 13%. Para os primeiros seis meses de 2013, os residentes em Portugal totalizaram 168,9 mil dormidas, o que corresponde a uma quebra relativamente ao período homólogo na ordem dos 10%, ao mesmo tempo que os residentes no estrangeiro atingiram as 240,3 mil dormidas, significando um aumento face ao período homólogo de 19,5%. As ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial obtiveram maior peso nos proveitos totais, perfazendo, respectivamente, 65,5%, 15,3% e 9,7%.

Esta evolução é, mesmo e apesar da crise que atravessamos, um sinal positivo. Não devemos entrar em euforia(s) e julgo que a leitura deste resultado deve ser profusamente analisada para percebermos o que resultou, o que falhou e o que não pode, nem deve, ser repetido.

No entanto, e a comprovar-se o que escreve o director do Açoriano Oriental no seu editorial de 25/08/13, não devemos olhar para o curto prazo, nem cometermos os erros do passado.

Segundo Paulo Simões, "alguns dos nossos hoteleiros parece que ainda não aprenderam a lição e, deslumbrados com a intensidade da procura, rapidamente esqueceram as agruras de ontem e voltam aos mesmos erros de sempre, em busca de mais uns trocos fáceis. Ainda há dias era possível encontrar num dos sites de reservas online mais conhecidos um hotel açoriano a alugar quartos pela módica quantia de 600 euros por noite! Gralha? É possível, mas não é admissível. Tal como não é admissível que hotéis com quartos por alugar neguem esses lugares às agências para os poderem vender de forma isolada aos preços que entenderem, e aqui estamos a falar de valores claramente acima do que pode ser considerado razoável (…) e com este tipo de comportamento esses hoteleiros não só colocam em risco o seu negócio na época baixa, como comprometem todo o setor na Região".

Não sei se este exemplo é real mas a sê-lo pode ter, na minha perspectiva, várias leituras e não apenas esta, mais restritiva e negativa. Julgo que não é mau que hajam quartos nos Açores a €600 e que possam ser efectivamente vendidos. Era bom que o nosso turismo fosse mais qualitativo e menos quantitativo. Mas para isso é necessário operar uma mudança significativa ao nível dos comportamentos, senão mesmo uma revolução, transversal a todo o sector do turismo e à qual os políticos (governantes e autarcas) não estão imunes.

Mais: ninguém julgue que pode efectuar mudanças neste sector económico sem que haja uma predisposição de toda a população, além daqueles que vivem do turismo, para uma melhoria significativa dos serviços prestados.

E nada, mesmo nada, acontece por acaso.


* Publicado na edição de 02/09/13 do AO
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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Razão (ou da falta dela)

Regresso à agenda política para olhar as eleições autárquicas do próximo dia 29 de Setembro.

O ruído visual passou a ser uma constante. Julgo que poucos farão a sua opção com base no cartaz do seu candidato. A proximidade com os eleitores e o passar da mensagem faz-se através de múltiplas plataformas que hoje existem ao dispor das chamadas máquinas partidárias ou de campanha. Não obstante isso, a multiplicidade de cartazes, mupis, outdoors, autocolantes e bandeiras suspensas e afixadas em postes e árvores, e em todo o espaço público disponível ou à mercê desta actividade, é alvo de uma sinalização partidária. E aqui ela não escolhe cor.

Não sou contra, é-me indiferente. E neste tempo considero que parte desta forma de comunicação é obsoleta. Há sectores económicos que dependem do frenesim das campanhas eleitorais? Sim, claro que há. A minha opinião não vai no sentido do denominador populista em torno do despesismo e do desperdício dos dinheiros públicos. Esse discurso existe e é, na sua essência, risível e contraditório perante os actos públicos de alguns dos candidatos. Contudo, considero que será muito mais vantajosa uma opção em torno da promoção de fóruns de discussão, nos quais exista um encontro directo com a população e uma troca efectiva de ideias em torno da cidade, da freguesia ou mesmo da ilha, no caso dos Açores.

O ambiente político que o país experiencia não é motivador, nem propicia uma participação massiva dos eleitores. Mas não deveria ser exactamente o contrário? Perante o cenário que existe, não devíamos - todos - demonstrar o poder que temos nas mesas de voto? Ou o modelo de cidadania dos portugueses está circunscrito à mesa do café ou às redes sociais? As altas taxas de abstenção que ano após ano teimam em não baixar deviam constituir motivo de preocupação acrescida para todos e não apenas dos políticos. É uma questão de sociedade ou da falta dela.

Passando ao cenário nacional, transcrevo uma passagem de um texto de António Guerreiro publicado no Ípsilon de 09 de Agosto, onde este sintetiza com particular acutilância alguns exemplos recentes da vida política em Portugal, em que vários políticos vieram a público dizer que agiram dentro da legalidade. Na sua perspectiva, "quando um político evoca a seu favor a estrita legalidade, quase sempre se colocou fora da legitimidade, isto é, à margem do próprio princípio que funda e legitima o exercício do poder político, as suas regras e as suas modalidades. (…) Por isso, querer resolver certas questões (como a da possibilidade de os presidentes de câmara se poderem candidatar a outra câmara quando já cumpriram o número limite de mandatos) através do direito, levando às últimas consequências a interpretação da legalidade formal, é entrar na perda irreparável de toda a legitimidade substancial".

No seguimento desta leitura, José Manuel Fernandes na edição de 23 de Agosto do jornal Público, diz o seguinte: "As eleições autárquicas deste ano podiam ser muito interessantes pelas melhores razões. (…) Infelizmente estão a ser interessantes pelas piores razões, e não apenas pela balbúrdia instalada em torno da interpretação da lei (…)".

A crise não será apenas económica, extravasou largamente os índices bolsistas e disseminou-se por toda a sociedade. No meio do caos civilizacional em que nos encontramos, teremos perdido a razão?


* Publicado na edição de 26/08/13 do AO
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