segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Nada acontece por acaso

O fim de Agosto dita, em princípio, o fim das férias para muitos. Por cá, e com a proximidade do oceano, podemos prolongar o prazer de mergulhar por mais algumas semanas. Assim, pelo menos, o espero.

Este havia sido anunciado, por um canal francês, como o Verão mais frio dos últimos 200 anos. Não quero fazer nenhum juízo precipitado sobre os meteorologistas de serviço mas o facto é que, se este foi o pior, não quero imaginar se fosse o melhor. Há já alguns anos que não tenho memória, nos Açores, de uma infinidade de dias consecutivos com bom tempo, de sol quase imaculado e com uma temperatura de mar a condizer.

E não foi só o tempo que esteve a nosso favor. Mesmo sem conhecer a totalidade dos números do turismo para este Verão é fácil comprovarmos que tivemos (temos!) mais turistas entre nós.

Assim, e com base nos números oficiais disponibilizados pelo Serviço Regional de Estatística referentes ao mês de Junho deste ano, as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros dos Açores registaram um crescimento de 13%. Para os primeiros seis meses de 2013, os residentes em Portugal totalizaram 168,9 mil dormidas, o que corresponde a uma quebra relativamente ao período homólogo na ordem dos 10%, ao mesmo tempo que os residentes no estrangeiro atingiram as 240,3 mil dormidas, significando um aumento face ao período homólogo de 19,5%. As ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial obtiveram maior peso nos proveitos totais, perfazendo, respectivamente, 65,5%, 15,3% e 9,7%.

Esta evolução é, mesmo e apesar da crise que atravessamos, um sinal positivo. Não devemos entrar em euforia(s) e julgo que a leitura deste resultado deve ser profusamente analisada para percebermos o que resultou, o que falhou e o que não pode, nem deve, ser repetido.

No entanto, e a comprovar-se o que escreve o director do Açoriano Oriental no seu editorial de 25/08/13, não devemos olhar para o curto prazo, nem cometermos os erros do passado.

Segundo Paulo Simões, "alguns dos nossos hoteleiros parece que ainda não aprenderam a lição e, deslumbrados com a intensidade da procura, rapidamente esqueceram as agruras de ontem e voltam aos mesmos erros de sempre, em busca de mais uns trocos fáceis. Ainda há dias era possível encontrar num dos sites de reservas online mais conhecidos um hotel açoriano a alugar quartos pela módica quantia de 600 euros por noite! Gralha? É possível, mas não é admissível. Tal como não é admissível que hotéis com quartos por alugar neguem esses lugares às agências para os poderem vender de forma isolada aos preços que entenderem, e aqui estamos a falar de valores claramente acima do que pode ser considerado razoável (…) e com este tipo de comportamento esses hoteleiros não só colocam em risco o seu negócio na época baixa, como comprometem todo o setor na Região".

Não sei se este exemplo é real mas a sê-lo pode ter, na minha perspectiva, várias leituras e não apenas esta, mais restritiva e negativa. Julgo que não é mau que hajam quartos nos Açores a €600 e que possam ser efectivamente vendidos. Era bom que o nosso turismo fosse mais qualitativo e menos quantitativo. Mas para isso é necessário operar uma mudança significativa ao nível dos comportamentos, senão mesmo uma revolução, transversal a todo o sector do turismo e à qual os políticos (governantes e autarcas) não estão imunes.

Mais: ninguém julgue que pode efectuar mudanças neste sector económico sem que haja uma predisposição de toda a população, além daqueles que vivem do turismo, para uma melhoria significativa dos serviços prestados.

E nada, mesmo nada, acontece por acaso.


* Publicado na edição de 02/09/13 do AO
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