terça-feira, 11 de setembro de 2018

Dar espaço (ao tempo que nos falta)

Nesta(s) ilha(s), o alvoroço provocado pelo crescimento turístico passou a ser o denominador comum de quase todas as conversas, de parte substantiva da acção política e da dinâmica empresarial.

Tudo parece gravitar em torno do turismo, dos seus benefícios, dos (designados) malefícios e da dificuldade que é (ou passou a ser) alugar casa, estacionar ou reservar um restaurante que antes estava vazio (e à nossa espera).

Esta onda de choque não se faz sentir de forma idêntica por todas as ilhas, nem tal seria possível, a começar, como sabemos, pela natureza e dimensão de cada uma delas.

Pese embora esta (óbvia) constatação, há quem considere que este é (apenas e quase sempre) um problema de transportes ou da (in)competência de determinado decisor político.

Na resposta a uma explicação plausível, assistimos, não raras vezes, a uma exigência irrealista para depois surgir a reivindicação (surrealista), sobretudo, junto do governo regional, a exigir a gestão rigorosa dos recursos públicos (no qual se incluem a multiplicidade de serviços públicos que existem e que são necessários à manutenção da coesão social do arquipélago).

A Sata, os transportes marítimos e a saúde são alguns dos maiores exemplos da coesão regional, cujo desempenho é fundamental para garantir a união em torno do projecto autonómico.

A crítica pela crítica, escudada na amplificação de casos particulares, faz denegrir e perigar a existência de empresas e profissionais (fundamentais ao garante ao nosso bem-estar colectivo). E que, na maior partes das situações, é alimentada para fazer face à sobrevivência política de alguns protagonistas, cujo maior contributo consiste em destruir e, não, em construir.

A gestão da coisa pública nem sempre é compaginável com um tempo marcado pela urgência, pelo imediato e pela aceleração, no qual vivemos fascinados pelo fim e pela catástrofe (António Guerreiro).

A actuação política não deve mas é, recorrentemente, ditada pela lógica da reacção e do desagrado promovido, e amplificado, pela irracionalidade que, hoje, vigora nas redes sociais.

Não devemos, nem podemos ignorá-las, temos é, sim, de destrinçar o que é relevante, daquilo que possa ser efabulado.

Apesar de assumirmos que estávamos preparados para a intensificação da actividade turística, nada, nem ninguém, previu a magnitude do impacto do crescimento exponencial que estamos a experienciar.

Da mesma maneira que não devemos entrar em euforias desmedidas, temos de ter consciência que subsistem inúmeros constrangimentos no incremento deste sector, os quais não têm, na maior parte deles, uma resposta imediata.

Neste capítulo, como em tantos outros, o governo é um parceiro, não tem todas as respostas, nem pode ser o catalisador de toda a iniciativa.

Contudo, a “política não tem tempo e tudo aquilo que precisa de tempo encontra hoje imensas dificuldades para subsistir” (António Guerreiro).

Importa dar espaço (ao tempo que nos falta), para o diálogo, reflexão e acção na implementação (responsável e consciente) do projecto de sustentabilidade que se pretende para o destino Açores.


* Publicado na edição de 10/09/18 do Açoriano Oriental
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