segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Energia (uma mudança de paradigma)

As alterações climáticas estão no topo da agenda, não apenas pelo número crescente de fenómenos climáticos extremos mas, também, por aqueles que negam a existência do problema.

O modelo de desenvolvimento contemporâneo, assente no crescimento infinito da produção industrial e do consumo, é, como sabemos, insustentável.

O planeta já não produz, nem tem os recursos naturais disponíveis, para garantir as condições básicas para um conjunto significativo da população mundial.

Assistimos a uma clivagem cada vez maior entre ricos e pobres, com um aumento vertiginoso das tensões sociais, cujas repercussões têm, em muitos casos, um desfecho previsível (e violento).

Nos Açores, ano após ano, os efeitos das alterações climáticas fazem-se sentir com mais intensidade. Nesta medida, necessitamos aperfeiçoar o consumo e a produção da energia, reduzindo, substancialmente, a nossa dependência energética com o exterior.

Este é um dado incontornável, e deve ser assumido de forma transversal, consubstanciando a estratégia elencada pelo arquipélago, conducente à sua sustentabilidade ambiental e ao inerente equilíbrio com a actividade económica.

Seguindo este princípio, foi apresentado um documento com vista à discussão pública da Estratégia Açoriana para a Energia 2030.

Este documento reflecte um quadro conceptual, no qual a energia apresenta-se “como vetor essencial do desenvolvimento sustentável da Região Autónoma dos Açores e como fator de inovação social.”

Os sobrecustos energéticos numa região arquipelágica, como a nossa, são significativos, consumindo recursos (fundamentais) que podiam ser canalizados para outros sectores.

O caminho para a “descarbonização da economia” passará, forçosamente, por uma crescente racionalização, pela redução e eficiência do consumo, alicerçada nos recursos energéticos naturais (sol, vento, água e geotermia).

De igual modo, pretende-se que esta transição para a economia de baixo carbono possa constituir “uma oportunidade para o crescimento económico”, nomeadamente, pelo surgimento de novas empresas “na área das chamadas tecnologias limpas.”

No entanto, e por estes dias, o parlamento regional discute uma petição sobre a carga fiscal e a formulação do valor máximo de venda ao público do preço dos combustíveis nos Açores.

O que é curioso é que não se questione como é isto possível, de que modo é que o preço dos combustíveis no arquipélago é o mais baixo do país?

Este valor é mais baixo porque alguém, naturalmente, paga o diferencial, sendo que o preço não difere de ilha para ilha. No garante da coesão e da solidariedade regional, e para ninguém seja prejudicado face ao local onde habita, o preço praticado é idêntico para as nove ilhas. Uma posição inquestionável, parece-me.

Contudo, mais do que baixar o preço dos combustíveis devemos caminhar no sentido de reduzir o seu consumo e efectuarmos, na medida das nossas possibilidades, uma mudança de paradigma rumo à nossa autonomia energética. É isto que este documento, agora apresentado, pretende alcançar.

A título de exemplo, deixo-vos aqui esta questão: sabem quanto custa (fazer chegar) uma botija de gás ao Corvo?

Mais do que fazer (e saber) as contas, importa traçar uma linha de futuro e ter consciência de que temos, todos, neste processo, um papel a desempenhar.

* Publicado na edição de 05/11/18 do Açoriano Oriental
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