O turista que opta por vir aos Açores não o faz (na sua maioria) pela nossa matriz cultural (patrimonial e identitária) mas pela exuberância natural (ambiental) associada ao arquipélago.
Este é um destino recente na rota do turismo contemporâneo, isto se o compararmos com outros destinos amplamente consolidados em território nacional, como, por exemplo, o Algarve e a Madeira.
As peculiaridades do arquipélago, e a sua pequena escala, fazem com que a oferta não seja, tendencialmente, massificada (pelo menos é esse o entendimento estratégico, exemplos recentes têm revelado sinais em sentido contrário).
A curiosidade e o trabalho de promoção (dos últimos dez anos) fazem com que o destino Açores cresça, hoje, a dois dígitos.
Neste período (de transição) convém não negligenciarmos que os efeitos do incremento da actividade turística (e económica) não se distribui de forma homogénea pelo todo arquipelágico, pelo facto de sermos uma região multifacetada (um dos nossos maiores activos) alicerçada em múltiplas realidades (de ilha para ilha e de outras “ilhas” no interior da própria ilha).
Apesar de não existirem dados exaustivos (e detalhados) daquilo que o turista procura ver (e fazer), podemos socorrer-nos do trabalho realizado pelo Observatório de Turismo dos Açores (OTA), nomeadamente, o mais recente inquérito de “Satisfação do Turista que Visita os Açores” (dados de 2017), do qual realço alguns parâmetros que nos podem ajudar a (melhor) compreender o perfil e a opinião do turista que anda por aí: 67% apresenta elevadas habilitações académicas (licenciatura, mestrado e doutoramento); 50% programa a sua viagem com uma antecedência até 3 meses e 60% não viaja com pacote turístico. E terminam, este inquérito, com a sua opinião quanto ao que temos (ainda e muito) a aperfeiçoar (indicadores que não são, espero, novidade para ninguém): melhorar a preservação ambiental; a divulgação e os horários dos transportes públicos e, inevitavelmente, a divulgação dos eventos culturais.
Permitam-me que faça uma extrapolação (porventura abusiva) na correlação destes dados com a tendência crescente para o designado “turismo cultural”, o qual, na interpretação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD), está orientado segundo um determinado conjunto de factores: aumento do interesse pela cultura, como um fator de identidade e diferenciação face à globalização; níveis elevados de capital cultural, estimulados por crescentes níveis de educação; envelhecimento das populações nos países desenvolvidos; o estilo de consumo moderno, o qual dá prioridade ao desenvolvimento pessoal; a crescente importância da cultura imaterial e a crescente mobilidade, facilitando o acesso a outras culturas.
A relação dos turistas com a actividade cultural nos Açores é, maioritariamente, acidental mas pode e deve ser objecto de atenção e incentivo.
Existem, naturalmente, excepções e algumas organizações, face ao conteúdo que oferecem, apelam e comunicam de forma especializada para o público que pretendem atingir.
Cultura e Turismo estão condenados à correlação.
Para que desta interdependência possam surtir resultados, existem questões que importa colocar: a cultura deve estar ao serviço do turismo mas será que deve ser transformada num “produto turístico”? E aqui chegados será que corremos o risco de perder “autenticidade”? Temos recursos humanos capazes de responder à exigência deste(s) público(s)? A população está preparada para o acolhimento pretendido? Falamos de cultura ou de entretenimento/animação turística?
A resposta à pertinência e complexidade deste assunto fica para uma próxima entrada.
* Publicado na edição de 17/06/19 do Açoriano Oriental
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