No rescaldo da primeira vaga da pandemia regressamos à rotina (possível) com a (necessária) responsabilidade individual (e colectiva), por forma a superar os enormes desafios com que nos confrontamos.
O mundo continua pandémico mas, ao contrário das primeiras semanas de confinamento, as notícias sobre o desenvolvimento das investigações sobre tratamentos e o progresso no caminho para uma vacina são, actualmente, ruído envolto em polémica e contradição.
Num período em que muitos contestam as rigorosas medidas de confinamento devido à Covid-19, ficamos a saber que um estudo do Imperial College (Inglaterra) afirma que podem ter sido evitadas 3,1 milhões de mortes em 11 países europeus, na medida em que o “fique em casa” teve um “efeito substancial” e ajudou a baixar a taxa de transmissão da infeção (Rt). O estudo não inclui Portugal mas não será por isso que deixa de ser credível.
A crise económica que entretanto se instalou leva (previsivelmente) a que o clima contestatário suba de tom. No entanto, importa ressalvar que perante a inexistência de dados esta é, foi e continua a ser a melhor arma para travar o vírus. E se, entre nós, a mortalidade associada ao Covid-19 tivesse tido números mais expressivos (com todo o respeito por todos aqueles que perderam a sua vida), qual seria o discurso de quem contesta as restrições do confinamento, a morte do Governo? Provavelmente.
A procura por uma causa externa que justifique o que se passou, ou a imputação da culpabilidade para um organismo tangível, é um argumento tão disseminado como a própria pandemia.
Neste capítulo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a ser arma de arremesso para justificar a impotência das nações na luta contra um inimigo invisível para o qual não há cura.
O discurso populista (reacionário e xenófobo) tomou conta da realidade (virtual e concreta). Mas se há algo positivo neste vírus, permitam-me a ironia, é a de ter feito cair a máscara a muita gente.
A desigualdade (social e económica) não é (apenas) aparente, por estes dias a contingência sanitária tornou-a saliente, veio para a rua e está à flor da pele.
Desenganem-se aqueles que consideram que a resolução económica para os problemas gerados pelo confinamento está circunscrita a estes nove calhaus, como por vezes se ouve por aí. O incremento do turismo, como dos restantes sectores económicos, será gradual e dependerá, em larga medida, da confiança dos países emissores/consumidores.
A resposta à crise depende (inexoravelmente) da nossa resiliência e do nosso sentido de comunidade, pois “sem compaixão e fraternidade fortalecem-se apenas os muros e aliena-se a possibilidade de lançar raízes” (José Tolentino de Mendonça, 10 junho 2020).
Paralelamente, temos de garantir os meios financeiros necessários (e fundamentais) para a retoma consolidada da actividade económica, por intermédio, como já foi noticiado, de uma intervenção substancial da União Europeia. A Região tem feito o que lhe compete no complemento (e reforço) às medidas de apoio nacionais mas o tecido económico (e social) exige um reforço dos recursos que temos ao nosso dispor.
A pandemia é global mas as diferenças (culturais e geográficas) não se dissiparam, apenas o problema aparenta ser partilhado.
Nesta semana, voltamos a identificar mais um caso positivo entre nós. Pelas razões que todos conhecemos, selar o espaço aéreo não é uma opção.
Nem me vou dar ao trabalho de esgrimir argumentos sobre o conceito de (des)continuidade territorial, nem sobre a urgência da discussão constitucional (e da extensão dos poderes da Autonomia que nos assiste). Não deprecio a relevância da matéria, apenas considero que há prioridades.
Esta é a prova que evidencia a importância de testar quem aterra. Não vale a pena diabolizar a coisa, e como já todos percebemos, vamos ter de aprender a lidar com isto (dentro da normalidade possível). E sim, estamos (melhor) preparados, não podemos é continuar paralisados. Não é (nem será) bom (para ninguém).
* Publicado na edição de 12/06/20 do Açoriano Oriental
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