Em paralelo, somos confrontados com indicadores que nos dão contam que os números não estabilizaram em território nacional e que existem várias cadeias de transmissão activas (do vírus), sobretudo, na região da Grande Lisboa.
O desconfinamento era (e é) uma inevitabilidade, já todos o sabíamos. Mas o mesmo não é dizer que o pior já passou quando são mais as dúvidas do que as certezas. E todos os dias, a nível global, são registados recordes de mortes e novos infectados.
Parte do problema está na percepção (pela população) da mensagem transmitida pelas entidades oficiais, a qual tem sido, repetidamente, desacreditada, na medida em que, por exemplo, no início do período de confinamento não era preciso usar máscara, para mais tarde ser assumido que sim.
A intenção tal como foi comunicada, pareceu errática. Os efeitos não se fizeram esperar e, neste momento, passamos da categoria ‘exemplar’, na contenção e no combate à pandemia, para o nível ‘indesejado’ (e impedidos de viajar para diversos países europeus).
No caso dos Açores, temos sido mais cautelosos neste processo de ‘regresso à normalidade’, o qual tem vindo a efectivar-se a um ritmo próprio e desfasado do calendário nacional.
Não dispondo de toda a informação relativa à complexidade da execução, e aplicabilidade, de um plano sanitário, num território disperso e fragmentado, em que os meios disponíveis são díspares, parece-me que esta tem sido uma atitude previdente e tem surtido bom efeito (mesmo e apesar de todas as questões que possam ter corrido menos bem).
Este tempo tem demonstrado o quão importante significa ter um estado forte e com capacidade de resposta.
As instituições públicas (da Saúde à Cultura) implicam um investimento continuado. Não podemos partir do princípio que está tudo feito e que não é necessário investir novamente, sendo que parte deste (re)investimento não é (exclusivamente) material. A (melhor) capacitação do sector público requer meios humanos motivados e com recursos ao seu dispor.
Nada tenho contra a iniciativa privada e concordo, em absoluto, com os incentivos públicos atribuídos às empresas (do pequeno investidor ao grande grupo económico).
Contudo, este apoio não pode ser realizado às custas de um desinvestimento na administração pública, nem pela depreciação dos seus quadros e das suas condições de trabalho.
O absurdo da situação que todos experienciamos, tem sido a prova irrefutável de que necessitamos de um Sistema Nacional (Regional) de Saúde eficaz e com elevado sentido de compromisso.
A este respeito, li uma entrevista ao médico Roberto Roncon, coordenador do Centro de Referência de ECMO do Centro Hospitalar Universitário de São João, o qual está a trabalhar há três meses consecutivos, sem folgas, e que vai ter, finalmente, quatro dias de férias com a família (mas sem desligar o telefone).
Retive esta passagem. “Dizer que o SNS é muito importante mas fazer declarações que dão a entender que o que nós fizemos não foi mais do que a nossa obrigação não é verdade. O que nós fizemos não é normal, está para lá do que é previsível. O que nós estávamos à espera era de um mínimo reconhecimento” (Expresso, 24 junho 2020).
Ninguém é negligenciável, em particular, todos os profissionais que todos os dias se confrontam com uma doença da qual pouco ou nada se sabe e que, ao contrário do que se possa pensar, não desapareceu.
Pede-se, responsabilidade e bom senso.
* Publicado na edição de 26/06/20 do Açoriano Oriental
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