Numa altura em que estamos a viver um momento particularmente trágico, o fim da pandemia fez regressar a normalidade (possível) à indústria, que vive do turismo.
O incremento turístico no arquipélago é fruto de anos de
investimento e de posicionamento do destino em mercados internacionais. Validado,
sobretudo, por marketing, eventos e a certificação de boas políticas ambientais.
O discurso oficial procura legitimação através dos indicadores
quantitativos, negligenciando riscos qualitativos agravados, em períodos de
maior pressão, apenas, para os actuais níveis de procura, mesmo sabendo que nem
todas as ilhas têm o mesmo grau de resposta (e atractividade).
No ecossistema regional, as dinâmicas turísticas não são
idênticas, nem lineares, pelo que importaria analisar, como é que os residentes
encaram o impacto dos sobrecustos inerentes ao incremento turístico no seu
orçamento familiar (e qualidade de vida).
A tão propalada sustentabilidade, económica e ambiental, só se verifica se o Turismo “for bom para os locais e para os residentes.” Citando o filósofo francês Frédéric Neyrat, “temos de ser utópicos, não de forma ingénua, mas para revelar a sociedade em que vivemos e para revelar o que nos falta.”
[+] publicado na edição de 12 maio 2023 do Açoriano Oriental