terça-feira, 23 de maio de 2023

O que nos falta

Numa altura em que estamos a viver um momento particularmente trágico, o fim da pandemia fez regressar a normalidade (possível) à indústria, que vive do turismo.

O incremento turístico no arquipélago é fruto de anos de investimento e de posicionamento do destino em mercados internacionais. Validado, sobretudo, por marketing, eventos e a certificação de boas políticas ambientais.

O discurso oficial procura legitimação através dos indicadores quantitativos, negligenciando riscos qualitativos agravados, em períodos de maior pressão, apenas, para os actuais níveis de procura, mesmo sabendo que nem todas as ilhas têm o mesmo grau de resposta (e atractividade).

No ecossistema regional, as dinâmicas turísticas não são idênticas, nem lineares, pelo que importaria analisar, como é que os residentes encaram o impacto dos sobrecustos inerentes ao incremento turístico no seu orçamento familiar (e qualidade de vida).

A tão propalada sustentabilidade, económica e ambiental, só se verifica se o Turismo “for bom para os locais e para os residentes.” Citando o filósofo francês Frédéric Neyrat, “temos de ser utópicos, não de forma ingénua, mas para revelar a sociedade em que vivemos e para revelar o que nos falta.”

[+] publicado na edição de 12 maio 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Igualdade

A discussão sobre a igualdade de género não se resume a uma questão da falta de representatividade em lugares institucionais, e se os mesmos devem, ou não, ser preenchidos por quotas.

As quotas já se provou ser um mal necessário, porquanto não devia sequer existir um recurso para garantir algo basilar, sendo que, obviamente, o mérito extravasará qualquer quota, seja ela de género ou de outra coisa qualquer.

Nos Açores, as mulheres representam 51,2% da população (para um total de 236.413 residentes) e, na última década, assistimos a uma progressão significativa da sua integração na vida activa atingindo as 55.746 (46%) para um universo de 121.164 indivíduos (em 1996 era de apenas 35%).

Apesar das enormes conquistas, da sua centralidade e importância, a secundarização do papel da mulher na sociedade açoriana é, ainda, algo enquistado a que urge dar prioridade.

A este propósito, a Assembleia Legislativa dos Açores tornou pública a lista de agraciados no Dia da Região, das 27 insígnias honoríficas açorianas previstas, 15% destinam-se a mulheres, uma a título póstumo.

Simbolicamente, há homenagens que só devem acontecer em vida.

+ publicado na edição de 28 abril 2023 do Açoriano Oriental