sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Leituras destes dias

O mundo tal como o conhecíamos escapasse-nos entre os dedos, a mudança faz-se a todos os níveis. Tal como refere Miguel Esteves Cardoso, numa das suas crónicas diárias, algumas destas paisagens (sociais, políticas e culturais) “ainda não sabem que estão a morrer” mas esta inevitabilidade já faz parte do seu quotidiano, na medida em que “todas as mortes são anunciadas” mas “nós é que não sabemos ler os anúncios.”

Por estes dias, o diálogo (político) parece acontecer de forma unilateral, num exercício de forma em que o debate não mais é do que “uma batalha verbal” (Mariano Sigman) perene de (pre)conceitos, mentira(s) e pouca noção do real.

Nesta era da exacerbação niilista (de egos e de extremos), as redes sociais representam um papel primordial, porquanto enfurecem e inflamam as pessoas, fazendo com que sejamos “cada vez menos capazes de nos ouvirmos uns aos outros” (Michael Sandel).

A somar a tudo isto há quem intente “passar a mentira por verdade ou difame a verdade como mentira” (Byung-Chul Han).

Estes serão, muito provavelmente, alguns dos problemas mais urgentes com que a democracia está confrontada. Eles andam por aí…e alguns por aqui.

[+] publicado na edição de 23 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Ambivalentes

O ruído noticioso (e falacioso) contamina tudo e todos, com particular disseminação nas redes sociais, conduzindo a uma maior polarização da sociedade, a um sentimento de desesperança e ao descontentamento generalizado. Território fértil para os populistas.  

A integridade e a ética não podem ser úteis apenas quando nos são favoráveis. Parte do descrédito associado aos políticos (da actualidade) deriva das suas posições ambivalentes.

As investigações criminais insulares (recentes) são, a este respeito, um bom exemplo de como o entendimento partidário acaba por exigir uma coisa em território continental e defender o inverso quando se trata de um membro da nossa família política.

Ao contrário dos que defendem (irresponsavelmente) a generalização da corrupção (que mais não é um reflexo do que somos como sociedade), há que aplaudir as investigações judiciais e o maior escrutínio da gestão da coisa pública.

Existirá, igualmente, quem considere que o ministério público não respeita o calendário político. Em que medida será ele, alguma vez que seja, oportuno? E, neste âmbito, qual a leitura (política) às recomendações do Tribunal de Contas no rescaldo eleitoral (nos Açores)?

[+] publicado na edição de 9 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental