A importância da Revolução dos Cravos nas Artes e na Cultura é profunda e multifacetada, reflectindo-se em diversas manifestações artísticas e expressões culturais ao longo das décadas seguintes.
A queda do regime ditatorial abriu caminho para uma renovação cultural sem precedentes. Artistas, escritores, músicos e cineastas passaram a ter liberdade para explorar temas proibidos, que subsistiam na clandestinidade, ou no exílio.
A transição para a democracia culminou em novas possibilidades e desafios para os artistas, que passaram a explorar uma ampla plêiade de questões sociais, políticas e culturais nas suas obras (em particular no período revolucionário), constituindo-se naquilo a que José Pacheco Pereira definiu como “uma verdadeira explosão da arte gráfica.”
Na euforia experienciada na primeira pessoa, emergiram artistas como Cruzeiro Seixas, João Cutileiro, José de Guimarães, Júlio Pomar, Mário Cesariny, Nikias Skapinakis, Paula Rego ou Vieira da Silva, assumindo um papel de intervenção, na medida em que o “ambiente revolucionário fomentou a renovação da participação cultural, num encontro fusional entre os artistas e o povo, a arte não só saiu à rua como se lhe colou às paredes” (Maria Isabel Roque).
A Revolução de Abril simboliza não apenas a transformação do sistema político, significa a capacitação das Artes e da Cultura em Portugal, permitindo a emergência de uma expressão artística mais livre, plural e engajada com a história do país.
Parafraseando o escritor Mário Dionísio, numa interpretação que pode e deve ser levada à letra: “sem cultura não pode haver liberdade, mas só um perigoso simulacro”.
Alexandre
Pascoal, Santa Cruz, Lagoa, Abril 2024 *
* Intervenção comunitária "Os Cravos saem à Rua" promovida pela Câmara Municipal da Lagoa (presente na Praça Nossa Senhora do Rosário)