O espaço na agenda cultural conferido aos artistas locais tem sido alimentado de forma gradual e tem beneficiado do confronto com outras linguagens/artistas que, felizmente, têm pisado os palcos das ilhas (Faial, Terceira e São Miguel, em particular). O que temos vindo a assistir é bastante gratificante, na medida em que as produções locais têm “evoluído” no confronto directo com a denominada - e mais que fundamental - “importação cultural”. Neste ponto, não faço uma análise às opções estéticas, mas apenas e somente à dinamização da agenda programática.
Nos últimos dias, a Direcção Regional da Cultura anunciou a recuperação da temporada regional através do estender do festival Musicatlântico a uma lógica pluridisciplinar e transversal a todo o ano, um acto maior que teve um grau de exposição relativo, para não lhe chamar menor. Que critérios presidem à cobertura noticiosa em torno da cultura?! A manutenção da ignorância?! Não me parece. Contudo, o trabalho jornalístico recente tem sido assimétrico. Público, criadores e agentes merecem melhor.
Nesta óptica, recupero uma crítica recorrente e amplamente difundida na comunicação social regional escrita - a não aposta nos chamados “valores da terra”. Um facto que me causa estranheza. Pois tenho assistido, recentemente, a um alheamento ou mesmo omissão, não quero falar de esquecimento, em torno de alguns nomes regionais que, de algum modo, têm sido ostracizados, primordialmente, pela imprensa escrita. Há excepções obviamente. Mas goste-se ou não do estilo ou do protagonista de serviço o facto é que o serviço público de rádio e televisão tem feito esse papel - o da promoção. Posso estar a ser injusto, de forma consciente, convém referir, mas, nos últimos meses, passaram por Ponta Delgada: Luís G. Bettencourt com um concerto de retrospectiva; Milagres Paz apresentou uma nova criação e Rodolfo e Marta Vieira apresentaram-se com os seus professores - um deles, o virtuoso violinista Gerardo Ribeiro, passou por mero acompanhante (!). E que exposição é que tiveram?! A nota de imprensa circunstancial. É pouco!
A importância da informação escrita é sobremaneira importante para passar ao largo. A cultura não pode apenas servir de “tapa-buracos"!
* edição de 31/03/09 do AO
** Email Reporter X
*** Imagem X Fernando Resendes/TM
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