segunda-feira, 3 de maio de 2010

A política virada para dentro *

«Nos últimos dias, o Grupo Parlamentar do PS/Açores apresentou três iniciativas direccionadas para as áreas agrícola, social e cultural, que dão corpo a questões do quotidiano dos Açores e que pretendem ser contributos válidos e úteis para a melhoria dos respectivos sectores.

Refiro-me, concretamente, à criação de um grupo de trabalho interno que vai estudar as implicações do anunciado fim das quotas de produção de leite, a constituição de uma comissão parlamentar eventual para aperfeiçoar a aplicação do Rendimento Social de Inserção e uma iniciativa legislativa para que sejam criados roteiros culturais em torno dos grandes vultos da Cultura dos Açores.

Pode-se concordar ou não com estas medidas, o que é obviamente legítimo, mas a verdade é que todas elas, nas suas devidas áreas, demonstram a atenção do Grupo Parlamentar do PS/Açores para com o pulsar da sociedade açoriana, ou seja, com os desafios presentes e futuros dos seus vários sectores.

Permitam-me, ainda, que faça o contraponto com a iniciativa apresentada, também esta semana, pelo maior partido da oposição, que pretende maiores poderes para as comissões parlamentares de inquérito. Não se trata de desmerecer as próprias propostas, que são importantes na perspectiva da fiscalização democrática e política. Trata-se, sim, de comparar o foco da atenção política que move os dois partidos.

Enquanto o Grupo Parlamentar PS/Açores está preocupado com os açorianos, em dar respostas aos seus problemas e aos anseios, a atenção da bancada do PSD está centrada em conseguir instrumentos regimentais e políticos fiscalizadores, os quais - sendo importantes, reafirmo - não contribuem para as soluções que os Açores necessitam para o seu futuro.

É esta espécie de política virada para dentro que o PSD/Açores faz constantemente, apesar das declarações públicas no sentido contrário, que ficou provada, mais uma vez, nas decisões da sua Comissão Política Regional.

Refiro-me, obviamente, ao apelo que a Presidente do PSD/Açores fez à recandidatura presidencial de Cavaco Silva. Numa fase inicial, ainda pensei que fosse uma gafe ou, na melhor das hipóteses, uma ironia mal conseguida. Mas não. Rapidamente percebi que a Presidente do PSD/Açores estava a falar a sério, apesar de ter a certeza que são seria para levar a sério.

Afirmar que a reeleição de Cavaco Silva é uma "oportunidade a favor dos Açores" demonstra uma total falta de sintonia e de respeito para com os princípios e os objectivos autonómicos que o próprio PSD/Açores, há décadas atrás, foi um fiel defensor.

Defender que o actual Presidente da República é, dos candidatos presidenciais, o "único que garante uma leitura adequada e segura do quadro constitucional em função das movimentações político-partidárias que possam ocorrer na República e na Região" é a confirmação objectiva – finalmente - de que lado esteve o PSD/Açores aquando do debate nacional sobre o nosso Estatuto da Autonomia.

Neste importante momento da História recente da nossa Autonomia, Cavaco Silva fez questão de mostrar que, para si, a Autonomia é um empecilho constitucional. A estrutura regional do PSD/Açores, que nunca se comprometeu nas recentes eleições directas nacionais com nenhum candidato, não tem, agora, qualquer problema em apoiar e incentivar um Presidente da República que foi, manifestamente, o instigador de desconfianças relativas à Autonomia Regional.

Cavaco Silva acha a Autonomia um embaraço. Manuel Alegre faz questão de lançar a sua candidatura presidencial, nos próximos dias, em Ponta Delgada. São duas formas distintas de ver e interpretar os Açores
».

Por aqui se vê quem é que está, realmente, de "costas voltadas" para os açorianos, contrariamente àquilo que é dito pela líder do PSD/A.

* artigo de opinião de Hélder Silva - líder do grupo parlamentar do PS, publicado no Açoriano Oriental de 02.05.2010

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