Speakers' Corner 8
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O Fado do Embuçado
Portugal é prenhe de messianismo. Desde a sua incepção que o país se
constrói na ideia de uma graça divina que longe se estenderá pela...
Há 2 horas
«(...) Portugal’s political turmoil and its urgent need for a rescue will now loom large at an EU summit this week, which may put off a deal to expand the bail-out fund and fail to sign a new “pact for the euro”. If EU leaders have to bail out Portugal, they may find they have already used quite a big chunk of their fund. Judging by experience, the markets will swiftly move on to attack the Spanish. The bail-out fund can quite easily finance Portugal. It is not clear that it could deal with Spain».O problema do défice está, apesar daquilo que é dito, muito para além de ser uma mera questão interna.
«(...) I see also that you are going to change your government in the next couple of months. You will forgive me that I allowed myself a little smile about that. By all means do put a fresh coat of paint over the subsidence cracks in your economy. And by all means enjoy the smell of fresh paint for a while.
We got ourselves a new Government too and it is a nice diversion for a few weeks. What you will find is that the new government will come in amidst a slight euphoria from the people. The new government will have made all kinds of promises during the election campaign about burning bondholders and whatnot and the EU will smile benignly on while all that loose talk goes on.
Then, when your government gets in, they will initially go out to Europe and throw some shapes. You might even win a few sports games against your old enemy, whoever that is, and you may attract visits from foreign dignitaries like the Pope and that. There will be a real feel-good vibe in the air as everyone takes refuge in a bit of delusion for a while.
And enjoy all that while you can, Portugal. Because reality will be waiting to intrude again when all the fun dies down. (...)»Um Chá servido quente e com sabor irlandês.
«Portugal’s government has just fallen in a dispute over austerity proposals. Irish bond yields have topped 10 percent for the first time. And the British government has just marked its economic forecast down and its deficit forecast up. What do these events have in common? They’re all evidence that slashing spending in the face of high unemployment is a mistake. (...)»Mais uma voz que condena a cegueira europeia em torno do défice.
Infografia daqui
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Fitch corta ‘rating’ após chumbo do PEC e demissão de Sócrates
"Foi uma tragédia o que aconteceu em Portugal"
Graffiti, Ponta Delgada, Mar'11
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«(...) No meu modesto entender, só uma pessoa, neste momento, tem possibilidade de intervir, ser ouvido e impedir a catástrofe anunciada: o Senhor Presidente da República. Tem ainda um ou dois dias para intervir. Conhece bem a realidade nacional e europeia e, ainda por cima, é economista. Por isso, não pode - nem deve - sacudir a água do capote e deixar correr. Como se não pudesse intervir no Parlamento - enviando uma mensagem ou chamando os partidos a Belém - quando estão em jogo, talvez como nunca, "os superiores interesses nacionais". Tanto mais que, durante a campanha eleitoral para a Presidência, prometeu exercer uma magistratura de influência activa. Não pode assim permitir, sem que se oiça a sua voz, que os partidos reclamem insensatamente eleições, que paralisarão, nos próximos dois meses cruciais, a vida nacional, em perigo iminente de bancarrota.O apelo de Mário Soares. Será atendível?!
Se não intervier agora, quando será o momento para se pronunciar? É uma responsabilidade que necessariamente ficará a pesar-lhe. Por isso - e com o devido respeito - lhe dirijo este apelo angustiado, quebrando um silêncio que sempre tenho mantido em relação ao exercício das funções dos meus sucessores, no alto cargo de Presidente da República. (...)»
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
«O governo apresentou novas medidas de austeridade. O PSD diz que vai rejeitar o novo PEC. Qual é a saída para esta situação?
Eu concordo com a necessidade de eleições antecipadas. Isso parece-me claro. Defendi durante muito tempo uma solução no actual quadro parlamentar, uma espécie de governo de concentração nacional com o apoio de uma maioria na Assembleia da República que conseguisse levar a legislatura até ao fim. Mas os partidos não estão ainda disponíveis para isso.
Ainda?
Digo ainda porque estou convencido que vamos acabar com um governo de concentração nacional, perante as dificuldades que vão surgir. O que indica a apresentação do pacote das medidas de austeridade é que o governo quer, consciente ou inconscientemente, marcar a data das eleições sem tomar a responsabilidade da abertura da crise política, e esta atitude não está isenta de racionalidade. Já se percebeu que o PSD quer queimar este governo em lume brando.
Já não é possível conseguir um consenso?
Nada disto é fácil e não é fácil uma solução. Vai ser cada vez mais difícil governar o país. Desse ponto de vista, quem conseguir passar dos conceitos de consenso, pacto ou compromisso para a realidade é um grande talento político. Provavelmente nem esse consenso ou esse pacto pode ser feito dentro daquilo que as pessoas pensam. Será, se calhar, uma coisa diferente. As pessoas quando falam em compromissos estão a pensar numa aliança entre o PS e o PSD, mas eu acho que seria uma solução fraca. Em todo o caso no quadro actual do parlamento nenhum dos dois partidos está disponível para o fazer. Daí a necessidade de novas eleições.
Já?
Já, porque já se percebeu que um possível governo de concentração nacional, no actual quadro parlamentar, que permitisse que a legislatura fosse até ao fim, não é possível. Em grande parte pela posição pouco activa do Presidente da República, porque ele quer que a crise política seja gerida na própria Assembleia da República. (...)»Para ler, reflectir e conferir muito do que hoje experienciamos.
Governo aprova pacote para incentivar reabilitação e arrendamentoUma medida que faz(ia) falta ao continente e às ilhas. Só posso aplaudir a iniciativa.
«Na conferência que deu, na segunda-feira, na Faculdade de Economia de Coimbra, disse que, actualmente, há "uma grande tentação de ter um zelo intransigente" quanto à disciplina orçamental, naquilo que caracteriza como uma abordagem de "sangue, suor e lágrimas". Acha que aqueles países europeus, como Portugal, que estão a impor pacotes de austeridade, estão a seguir no caminho errado?
Não estava particularmente a falar de Portugal. Não sei o suficiente a esse nível. Mas há uma visão a nível europeu de que não só a dívida pública deve ser eliminada - ou, pelo menos, reduzida drasticamente -, mas também que isso deve ser feito imediatamente. É muito difícil para cada país afastar-se desta visão europeia geral, até porque os mercados estão a pedir isso. Os países não terão, por isso, grande possibilidade de escolha. Mas esta ideia [de austeridade] não é inteiramente correcta. As reduções de défices gigantes que ocorreram no passado, como por exemplo a dívida contraída por vários países europeus junto da América durante a Segunda Guerra Mundial, foram possíveis apenas numa situação de grande crescimento económico, que é sempre uma altura propícia à redução da dívida. Do mesmo modo, quando Bill Clinton se tornou Presidente dos EUA, o país estava com um elevado nível de dívida e, quando ele deixou de ser Presidente, já não tinha, o que se deveu a um crescimento económico elevado. (...)»[?] Amartya Sen
«(...) 2. Não somos, ao contrário do que alguns pensam e dizem, um país pequeno, sem recursos e condenado à decadência. Temos uma história gloriosa, com altos e baixos, é certo, mas que nos demonstra o contrário. Em alguns períodos não temos sabido governar-nos. É verdade. Mas é útil, para o futuro, aprender a distinguir o trigo do joio, os honestos dos pecadores e não nos deixarmos cair no derrotismo masoquista, em que alguns se comprazem. Criticar é fácil e protestar, mais ainda. É legítimo, aliás, em democracia, criticar e protestar, desde que o façam pacificamente. Mas agir, desinteressada e conscientemente, é melhor, desde que seja em função de uma alternativa, coerente, eficaz e estruturada, tendo uma visão do futuro, inserida num mundo em mudança. É o caminho para podermos sair do atoleiro em que nos encontramos.
É preciso informar completamente os portugueses da situação em que estamos, para os poder mobilizar. O que não tem sido feito suficientemente pelos responsáveis. O Presidente da República, no seu discurso de posse, insistiu neste ponto. Mas omitiu que a crise portuguesa actual foi causada e continua a ser, altamente influenciada, pela crise internacional e, em especial, pela europeia. Ora isso constituiu uma falha inaceitável, mesmo que não tenha sido voluntária.
O primeiro-ministro tem-se esforçado, na resolução da crise, com um zelo patriótico e uma energia pessoal absolutamente excepcionais. Mas cometeu erros graves: não tem informado, pedagogicamente, os portugueses, quanto às medidas tomadas e à situação real do País. Nos últimos dias, negociou o PEC IV sem informar o Presidente da República, o Parlamento e os Parceiros Sociais. Foram esquecimentos imperdoáveis ou actos inúteis, que irão custar-lhe caro. Avisou tão só o líder da Oposição, após a reunião de Bruxelas, pelo telefone. A resposta pública foi-lhe dada no discurso que Passos Coelho proferiu, em Viana do Castelo, muito didáctico, e foi negativa: "Não conte com o PSD para aceitar as novas medidas (negociadas/impostas?) pelos líderes da Zona Euro, reunidos no dia 11 de Março, em Bruxelas." Assim se abre, ao que parece, uma crise política, a juntar às outras que a precederam: financeira, económica (estamos a entrar em recessão), social, ambiental e de valores.
E agora? Ao invés do que parece, tudo ainda pode acontecer. Porque os Partidos da Oposição - todos - não querem ir para o Governo, nem assumir responsabilidades, numa situação que não é agradável para ninguém. O Presidente da República, perante o impasse criado, vai dissolver o Parlamento e provocar eleições? Para cairmos, no pior momento, numa campanha eleitoral, como a última presidencial, com as culpas atiradas uns aos outros, sem tratarmos dos problemas nacionais? E para quê? Para chegarmos, talvez, a resultados, mais ou menos, idênticos? Mas se o não fizer, deixa que o Governo - e o PS, o que é mais grave - fiquem a fritar em lume brando? Com que vantagem para o futuro?
As informações (poucas) que me chegaram da reunião de Bruxelas indicam que houve pela parte da União dos Estados da Zona Euro um pequeno passo em frente, incluindo, obviamente, a Senhora Merkel. Mesmo implicando as questões laborais, dadas as pressões dos Sindicatos europeus. Sócrates, entre os seus pares, foi dos que mais combateram quanto ao alargamento das competências do futuro Fundo Europeu. Foi importante e positivo. Mas tudo ficou em carteira, adiado, para debater ainda na próxima reunião dos dias 24 e 25 do corrente mês. Zapatero escreveu uma carta de aceitação prévia e, ao que me disseram - vale o que vale -, ficou bastante calado na reunião. Quando o que seria importante era que os dois Estados ibéricos exigissem uma política europeia convergente e falassem no mesmo sentido. Dar-lhes-ia, em termos europeus, uma importância redobrada. Temos connosco a Comunidade Ibero-Americana e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Não é pequena coisa, em termos europeus.
Veremos o que se passará nas duas próximas semanas, que serão decisivas para a União Europeia e, seguramente, também, para Portugal. (...)»Leitura atenta do Chá Verde.
Japan radiation leaks feared as nuclear experts point to possible cover-up
«(...) Compreendo a insatisfação do Presidente, mas acho que, tendo feito este discurso, o Presidente tem que tirar as consequências. Não pode agora falar outra vez em estabilidade quando o próprio discurso é um factor de instabilidade»Será este o tal "sobressalto cívico" de que falou o PR?!
«O discurso de posse do sr. Cavaco foi a repetição do que a direita, nomeadamente Paulo Portas, tem dito. [...] Cavaco chega tarde. Ou, mais precisamente, depois de sacrificar o primeiro mandato à reeleição, como disse com perfídia e justiça o dr. Jaime Gama.
Falta o resto. O Presidente da República apresentou um programa, mas com certeza se esqueceu que a Constituição não lhe permite executar qualquer espécie de programa. [...] Apesar do tom tonitruante, o discurso de ontem na Assembleia foi uma manifestação de fraqueza. Lisonjeando a direita e hostilizando a esquerda, continua paralisado.
[...] O que pretende Cavaco, episodicamente mascarado de tribuno do povo, incitando Portugal a protestar contra o Governo da República? Pretende popularidade e tanta popularidade que o transforme no autêntico chefe da oposição. Nessa altura, se conseguir, dissolverá a Assembleia a favor de uma maioria que lhe obedeça. E ele é, como se sabe, desde 1985, um exímio demagogo.»@ Da Literatura
Fotografia Mário Nelson Medeiros |