sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2013, o ano de todas as (in)certezas



A leitura do ano que agora termina diz-nos que o pior ainda não passou e aquele que seria o ano de "crescimento" arrisca-se a ser um dos períodos mais dolorosos da história recente da democracia portuguesa.

Apesar das dificuldades e da enorme carga de incertezas com que o país está confrontado em 2013, o Primeiro-Ministro, Passos Coelho, confia que haverá "uma viragem algures no próximo ano". Gosto particularmente do rigor desta previsibilidade e de fazer um paralelismo se as mesmas declarações fossem proferidas pelo anterior titular. Onde é que pára a intelligentsia política e financeira nacional?!

Portugal está imobilizado. O país, a par com o seu Presidente, age sem reacção, espera pela inevitabilidade ou sonha com uma hipotética salvação. A questão é a de que não estamos sós nesta missão. A crise é do mundo ocidental ou do modelo vigente nas sociedades contemporâneas. O consumo, como fim em si mesmo, esgotou-se. A espiral especulativa gorou-se e sem economia real tudo se esfumou. Muito embora haja quem continue a enriquecer com a pobreza alheia e com os países sob intervenção internacional, como é o caso de Portugal.

Enganem-se aqueles que julgam que tudo será como dantes. Estamos num estádio transitório e caminhamos no sentido de um tempo novo. As certezas de outrora deram lugar a um sem número de imprevisibilidades. Continuamos a dar respostas antigas a uma realidade cuja abordagem passa, inexoravelmente, por sair da nossa zona de conforto e olhar, sem tabus, para questões que nos pareciam definitivas e inquestionáveis.

Com isto, não faço a apologia ideológica deste Governo da República e do Primeiro-Ministro que pediu aos portugueses, através da rede que agora se diz social, "orgulho" nos "sacrifícios" que estão a fazer. Esta forma de amizade encapotada não cola, nem me parece particularmente feliz a fórmula encontrada pelos assessores de Passos Coelho em tentar explicar, por estar via, a sua mensagem de Natal que, uma vez mais, se tornou incompreensível à maioria dos portugueses.

A veia obsessiva e completamente desfasada da realidade do país leva a que este Primeiro-Ministro seja, muito provavelmente, o mais impreparado a desempenhar este cargo, levando-o, inclusivamente, a afirmar o que disse no discurso de encerramento da XXII Congresso da Juventude Social-Democrata (JSD): "Hoje, há algumas pessoas que se queixam do esforço que lhes estamos a pedir para que possam ajudar o país a ultrapassar a situação em que ficou", referindo-se a todos os que em Portugal “descontaram para ter reformas, mas não para terem estas reformas", que "não correspondem ao valor dos descontos que essas pessoas fizeram". Insensibilidade social?! Não me parece. Estas afirmações, como outras que têm surgido ao longo deste último ano, quer na chamada "refundação" do Estado, quer nos avanços e recuos de medidas e nas privatizações, não são, na minha opinião, fruto de indefinição. São sim, movimentos orquestrados e trabalhados até ao ínfimo pormenor. Estamos perante uma acção e um discurso governativo sinuoso, egoísta e sem olhar a meios para atingir os fins em que acredita. Como já aqui escrevi, múltiplas e repetidas vezes, este é um tempo perigoso e de todos os perigos.

Para 2013, faço minhas as palavras do coreógrafo Paulo Ribeiro: "O melhor que se pode esperar de 2013 é que seja igual a 2012". Pode parecer uma contradição mas este foi um ano de resistência e de sobrevivência. A questão, "porque não se vê nada" para o próximo ano e que ele muito bem coloca, é – quem nos devolve a "esperança" e quando é que começamos a "viver"?!

* Publicado na edição de 31/12/12 do AO
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