terça-feira, 5 de março de 2013

Não havia necessidade



A espuma destes dias é um manancial de recursos para os humoristas nacionais e para as cadeias da indignação viral em formato virtual. Que o diga Ricardo Araújo Pereira na sua última Boca do Inferno para a Revista Visão - Do cu enquanto agente político. A dita começa assim: "A entrada fulgurante do cu na vida política portuguesa valoriza simultaneamente o cu e a vida política portuguesa. Francisco José Viegas, antigo secretário de Estado da Cultura, disse que, na eventualidade de ser abordado por um desses novos fiscais das facturas, lhe pediria «para ir tomar no cu»". O início era aliciante e cumpriu ao concluir que: "(…) Há mais poesia no cu de Viegas do que no cu de Botto. O eu em que Viegas manda tomar é um cu simbólico. Trata-se de um eu que é metonímia de outro cu. Viegas não ignora que, acima do cu do fiscal das facturas há outros cus, bastante mais poderosos - e, acima desses, outros cus ainda. Essa hierarquia de cus culmina num cu-mor, responsável último pela ideia da fiscalização de facturas". Entretanto a realidade arrependeu-se. E Francisco José Viegas acabou por dar o dito por não dito ao referir, numa entrevista à TSF, que "não se trata de uma crítica a este Governo em particular", mas sim à máquina do Estado, considerando um "absurdo" a possibilidade das pessoas serem notificadas por esta questão. E acrescentou: "Obviamente que há uma cadeia de solidariedade que é necessário manter", afirmou referindo-se aos seus ex-colegas de Governo. "Sinto na mesma uma relação de solidariedade", ainda que, admita, "a linguagem possa não ser institucional". Aquilo que parecia ser um acto de lucidez do Francisco no seu regresso à vida pública, acabou num mea culpa em torno do vocábulo utilizado.

(...)

* Publicado na edição de 25/02/13 do AO
** Email X
*** Blog X
**** Twitter X

Sem comentários: