A atenção mediática tem colocado o arquipélago no topo das preferências dos destinos turísticos nacionais, e até internacionais, vendido como uma preciosidade em bruto e a descobrir (antes da chegada da uniformização turística).
A sazonalidade já não é o que era, a época baixa (pelo menos em São Miguel) passou a estar concentrada de novembro a março, passamos a ter um período intermédio (entre abril/maio e outubro) e a época alta aumentou o seu ciclo temporal (de junho a setembro).
Como já aqui referi, o impacto da actividade turística não acontece de forma homogénea pelo todo arquipelágico, existem ilhas que têm, inevitavelmente, um maior capital de procura e uma diversidade na oferta, a qual não é, não pode, nem deve ser, replicável por todas as outras (como alguns agentes pretendem que seja).
Por intermédio de uma reportagem da RTP-Açores tomamos conhecimento dos lamentos de um operador turístico (do grupo central) pela indisponibilidade de lugares (de avião) para aquelas ilhas. Não há muito (tempo) tínhamos a mesma reportagem a referir que não existiam passageiros. Agora a questão coloca-se de forma diametralmente oposta, o constrangimento não está na escassez mas no excesso da procura. E se não há lugares nos aviões, será que existem táxis, viaturas de aluguer, alojamento (legal) e restaurantes com capacidade de resposta para estes novos fluxos (turísticos)?
Este é um pequeno (grande) detalhe do qual pouco se ouve falar. Na resposta ao ímpeto turístico o défice na qualidade da resposta é significativo, e falta (ainda) muito por onde melhorar, da animação turística (qualificada) aos transportes públicos. Até porque se o destino é de natureza, existem muitos turistas que não estão disponíveis para alugar um carro e muitos são compelidos a fazê-lo porque, simplesmente, não há alternativa.
O Açoriano Oriental, na sua edição de 13 julho, fazia a seguinte manchete - “Turistas insatisfeitos com transportes públicos”, em cujo desenvolvimento podíamos ler: “O turista que visitou os Açores no Inverno IATA 2018-2019 está, de uma forma geral, muito satisfeito com a oferta do destino, mas apresenta níveis mais baixos de satisfação quando estão em causa os horários dos transportes públicos, a sinalização turística das estradas e a divulgação dos eventos socioculturais.”
Esta não é uma questão nova, está amplamente sinalizada mas carece da atenção devida. Numa região em que o transporte público é depreciado e observado (transversalmente) como se de um estigma se tratasse.
Mas se queremos o retorno económico da actividade turística, será que desejamos, assim tanto, os turistas que aqui aportam? Será que todas os ilhéus têm essa vocação, será que estes querem abdicar do seu modo de vida ou será que este é apenas o intento de alguns (poucos)?
Nos Açores, a história diz-nos que a economia é feita de ciclos (e de monoculturas), sendo certo que (hoje, tal como em outros períodos do passado) o turismo não pode ser o (único) eixo sobre o qual assenta a nossa economia. No entanto, ninguém ignora que, neste últimos anos, tem sido este o motor do (nosso) crescimento económico.
O mimetismo empresarial (em curso) é perigoso e pode ser tremendamente pernicioso numa inevitável normalização da procura, na medida em que não será possível continuar a crescer a dois dígitos, pois “os ciclos são os ciclos” e será “mais importante” a forma como saímos do ciclo e o modo como vamos “à procura do novo ciclo” (Pedro Costa Ferreira/APAVT, 17/07/19).
Regulação, diversificação e qualificação são medidas imprescindíveis para que possamos melhorar a experiência turística e o rendimento de todos os que trabalham neste sector.
É uma frase feita, muitas vezes repetida, mas importa, mais do nunca, saber como aplicamos a fórmula “menos é mais”.
* Publicado na edição de 22/07/19 do Açoriano Oriental
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