Este Verão o tópico mais debatido na mesa de amigos terá sido a chuva de Agosto (e o turista rent-a-car).
Vivemos num antagonismo permanente, se antes tínhamos a reivindicação pela intensificação da actividade turística (para justificar os investimentos e para melhorar a rentabilidade do sector), assistimos, por estes dias, à perplexidade do residente perante a enchente de visitantes que percorre a ilha.
Como já aqui referi, a intensidade deste fenómeno não é vivenciada de forma idêntica por todas as ilhas, existindo, dentro de cada uma delas, locais cujo impacto é sentido de forma mais intensa.
Nestes últimos dias foi notícia um alerta da população das Furnas para o “caos” que se vive na freguesia, devido ao “excesso de viaturas e de turistas” (Açoriano Oriental, 23/08/19).
As Furnas são um espaço extraordinário que o tornam um local de visita obrigatória, a quem vem a São Miguel, os constrangimentos não são de agora mas o aumento do volume de trânsito, dos últimos anos, agudizou o problema.
Pela importância que tem e pelo equilíbrio que se pretende obter, entre economia e natureza, as Furnas há muito que deviam ter um plano de pormenor onde estivessem estipuladas, com rigor e clareza, as regras de ocupação de um território tão sensível quanto este.
Simultaneamente, este é um dado paradoxal, sobretudo, numa economia que vive, em larga medida, do turismo (e dos veraneantes).
É necessário olhar com outra atenção para esta realidade, sendo que mais vale tarde que nunca.
O Plano Estratégico e de Marketing para o Turismo dos Açores defende uma “Cultura de Turismo nos Açores” e a integração de temas sobre o setor do turismo na Disciplina de Cidadania (1º e 2º ciclos), como forma de “Educar para o Turismo”.
Em que ponto é que estamos na implementação deste plano?
As histórias que nos contam chegam de quase todas as ilhas e revelam a necessidade premente de aprender a lidar com uma nova realidade que interfere, inevitavelmente, com o nosso quotidiano.
Não vale a pena escamoteá-lo, nem ignorar que temos problemas (neste crescimento abrupto), eles não vão desaparecer (e é bom que não desapareçam).
A economia gerada pelo aumento do fluxo turístico é fundamental para a melhoria da qualidade de vida (de muitos açorianos), temos de nos adaptar e corrigir o que não está bem, para que esta seja uma coabitação pacífica.
Para além do roteiro que todos fazem, a ilha não está o “inferno” que se ouve por aí.
Não questiono a necessidade de melhorar as condições de visitação (estacionamento, sanitários ou centros interpretativos) aos locais de maior procura mas temos de ter presente, a bem da sustentabilidade ambiental e de uma boa prática no usufruto do território, que é urgente tomar medidas mais restritivas no acesso de pessoas (e veículos) a lugares sensíveis.
Para que isto seja possível, importa diversificar os pontos de atração turística e introduzir novos roteiros, para mitigar a pressão pelos existentes, os quais já não conseguem absorver o volume e a carga da procura actual.
Para quem (ainda) não tenha percebido, a influência da actividade turística no território não é virtual, assim como o residente insular não é um mero figurante (num cenário idílico).
O desenvolvimento desta matriz (identitária e de autenticidade) exige um enorme compromisso de todos nós.
Convém sublinhá-lo.
* Publicado na edição de 02/09/19 do Açoriano Oriental
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