Caminhamos para o final do ano e de um tempo (que é novo) mas que ninguém sabe, verdadeiramente, qual será.
Os sinais (do planeta) nunca foram tão evidentes, como agora, quanto num passado recente pareceriam saídos de um filme de ficção.
Como já o testemunhamos, vezes sem conta, a realidade tem suplantado a ficção. O que antes parecia ser uma leitura apocalíptica passou, agora, a ser plausível.
Nos Açores, os efeitos meteorológicos sempre foram vividos de forma intensa. Pelo que encarar os efeitos da passagem do Furacão Lorenzo, em particular, no grupo ocidental do arquipélago, apenas como um problema logístico e de abastecimento é estar a ignorar, ostensivamente, a raiz de uma questão mais abrangente e de contornos imprevisíveis.
O Programa Regional para as Alterações Climáticas (PRAC) foi publicado, recentemente, em Diário da República.
A importância da sua entrada em vigor é algo que não deve ser depreciado por ninguém, muito menos, por quem tem responsabilidades na vida pública e económica das ilhas, afirmando que esta problemática é uma questão de “fanatismo” e um “desatino”.
O combate às causas e aos efeitos das alterações climáticas é uma questão que não exclui ninguém, porquanto as suas consequências não têm um carácter selectivo.
Este plano regula a Estratégia Regional para as Alterações Climáticas, sobretudo, na mitigação e redução das emissões dos gases com efeito de estufa, consubstanciado na intenção de investir “na descarbonização e no aumento da eficiência da economia, tornando-a menos dependente dos recursos energéticos externos” e em “medidas que protejam os bens, os recursos e as pessoas” da acção das alterações climáticas (GACS, 29/11/19).
Na semana que terminou, ao mesmo tempo que os ingleses votavam, esmagadoramente, a favor do Brexit, foi apresentado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, “O Pacto Ecológico Europeu” assente em dez pilares que propõem 50 iniciativas para converter o combate às alterações climáticas no novo modelo de crescimento económico (do velho continente).
Os Açores não podem ficar fora desta discussão e, apesar de existirem sinais positivos para a construção de um futuro (verdadeiramente) sustentável, não podem existir dúvidas, nem posições titubeantes no caminho que temos de seguir.
O populismo ganha terreno (e por cá adeptos não faltam) numa sociedade “enraivecida e polarizada”, exercido por inúmeros “especialistas” com direito a opinião e com recurso a um processo de “vitimização” permanente, o qual leva “as pessoas a pensar que a vida deveria ser uma utopia perfeita concebida à medida das suas sensibilidade frágeis e específicas, encorajando-as a manterem-se crianças para sempre, vivendo num conto de fadas cheio de boas intensões.” (Bret Easton Ellis, 2019).
A leitura destes dias podia ser resumida por esta passagem: “Obcecados com números, indicadores, pontuações, rankings, ratings ou likes, já nem nos damos ao trabalho de pensar. O nosso espaço mental é uma tabuada. Consumimos percentagens como se fossem ansiolíticos. Vivemos em cálculo permanente. Desiste-se de elucidar, de reflectir ou persuadir.” Vitor Belanciano, 15/12/19).
Os Açores não são o paraíso que, por vezes, se lê por aí. Mas também não são a desgraça (colectiva) que se pretende veicular por alguns círculos.
Negar as evidências de uma urgência climática (e a tentativa de “silenciar o indivíduo” que a expõe) será, muito provavelmente, o maior crime deste “novo mundo”.
* Publicado na edição de 16/12/19 do Açoriano Oriental
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