A exibição de cinema já foi uma realidade em todos os concelhos da ilha de São Miguel, e são muitos os que, ainda, recordam as soirées ao sábado, as matinés de domingo e o cinema ao ar livre. Até ao início das emissões regulares da televisão pública na região (50 anos completados a 10 Agosto), as notícias chegavam na ida ao cinema, onde eram exibidas (e criteriosamente editadas) as novidades do “mundo português”.
Por estes dias, os filmes estão disponíveis em tempo real e
as estreias são globais, e os Açores já não são colocados à margem, sendo que
os novos formatos digitais, nomeadamente, o DCP - Digital Cinema Package,
possibilitam uma maior fluidez na circulação dos filmes, tornando menos onerosa
a sua distribuição, se comparada com as famosas “latas” de 35mm que antes
percorriam as muitas salas da(s) ilha(s), com a inerente deterioração da
qualidade da película e, consequentemente, da qualidade de imagem.
Vem esta entrada a propósito do regresso à exibição regular
de cinema no Cineteatro Lagoense Francisco d'Amaral Almeida, promovida pelo
município, cuja iniciativa e investimento (com recurso a financiamento
comunitário) possibilitou dotar a cidade e o concelho com um dos mais modernos
equipamentos da ilha.
A qualidade técnica não vale por si, mas é um importante
contributo para melhor justificar a saída do público do conforto do seu sofá e
vir experienciar os filmes e as estreias mais recentes que já não ficam
circunscritas a Ponta Delgada, e estão, desde março, ao dispor da população do
concelho da Lagoa.
A programação regular de um equipamento cultural é
fundamental para fidelizar público, reaprender novas rotinas e hábitos de
fruição cultural, tornar normal aquilo que, vezes demais, é encarado como
excepcional.
Para além do mais, importa dotar o centro da cidade da Lagoa
de equipamentos que consigam atrair a população (residentes e turistas), como
forma de dinamização de outras infraestruturas e como catalisadores económicos
e geradores de novos empregos, sobretudo, junto das camadas mais jovens da
população.
Esta é a prova concreta de como o investimento em cultura
constitui uma aposta acertada, tanto na componente social (cultural, económica
e educativa) e na sua afirmação como um pólo de modernização e desenvolvimento,
numa cidade (e num concelho) em franca expansão populacional e transformação da
sua paisagem urbana.
O imaginário associado ao cinema perdura para quem o
vivenciou, pelo que importa passá-lo aos mais novos, tal como refere José
Castelo Borges: “Há crianças que não sabem o que é um cinema, não imaginam que
ver um cinema não é igual a ver televisão, cinema é sempre cinema” (Diário da
Lagoa, Julho 2021).
A Mulher que Morreu de Pé é o novo filme de Rosa Coutinho Cabral que teve estreia nacional a 11 setembro. Um "ensaio
cinematográfico” onde a realizadora revisita a vida e obra de Natália Correia,
em toda a sua complexidade e contradições, (ainda) a tempo de a celebrar no
centenário do seu nascimento. Curiosamente, ou não, a única região do país onde
o filme não estreou foi aquela onde se passa uma parte significativa da acção,
os Açores. Algo que devia convocar à reflexão colectiva, num momento onde a
letargia aparenta ser o denominador comum, e o “deixa andar” passou a ser norma.
A 5 Outubro é exibido, numa sessão especial, no Cineteatro Lagoense com a
presença da realizadora e do actor João Cabral.
Metrobus a proposta para a criação de uma rede de
metrobus por parte das candidaturas autárquicas do partido socialista aos
municípios da Ribeira Grande, Lagoa e Ponta Delgada é, muito provavelmente, uma
das iniciativas mais inovadores desta campanha eleitoral e que visa, muito
simplesmente, dar resposta a um problema real e que tem sido profusamente
negligenciado: os transportes públicos. Esta é uma medida que procura responder
às ineficiências de mobilidade no eixo onde está concentrada a maior densidade populacional
da ilha. Estão previstos fundos comunitários para corporizar esta iniciativa,
fica (aqui) dado o impulso para transformar a coesão interna e melhorar
(efectivamente) a qualidade de vida da população residente. 
[+] publicado na edição de 30 Setembro 2025 do Açoriano Oriental

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