domingo, 2 de novembro de 2025

Lagoa (com Futuro)













A exibição de cinema já foi uma realidade em todos os concelhos da ilha de São Miguel, e são muitos os que, ainda, recordam as soirées ao sábado, as matinés de domingo e o cinema ao ar livre. Até ao início das emissões regulares da televisão pública na região (50 anos completados a 10 Agosto), as notícias chegavam na ida ao cinema, onde eram exibidas (e criteriosamente editadas) as novidades do “mundo português”.

Por estes dias, os filmes estão disponíveis em tempo real e as estreias são globais, e os Açores já não são colocados à margem, sendo que os novos formatos digitais, nomeadamente, o DCP - Digital Cinema Package, possibilitam uma maior fluidez na circulação dos filmes, tornando menos onerosa a sua distribuição, se comparada com as famosas “latas” de 35mm que antes percorriam as muitas salas da(s) ilha(s), com a inerente deterioração da qualidade da película e, consequentemente, da qualidade de imagem.

Vem esta entrada a propósito do regresso à exibição regular de cinema no Cineteatro Lagoense Francisco d'Amaral Almeida, promovida pelo município, cuja iniciativa e investimento (com recurso a financiamento comunitário) possibilitou dotar a cidade e o concelho com um dos mais modernos equipamentos da ilha.

A qualidade técnica não vale por si, mas é um importante contributo para melhor justificar a saída do público do conforto do seu sofá e vir experienciar os filmes e as estreias mais recentes que já não ficam circunscritas a Ponta Delgada, e estão, desde março, ao dispor da população do concelho da Lagoa.

A programação regular de um equipamento cultural é fundamental para fidelizar público, reaprender novas rotinas e hábitos de fruição cultural, tornar normal aquilo que, vezes demais, é encarado como excepcional.

Para além do mais, importa dotar o centro da cidade da Lagoa de equipamentos que consigam atrair a população (residentes e turistas), como forma de dinamização de outras infraestruturas e como catalisadores económicos e geradores de novos empregos, sobretudo, junto das camadas mais jovens da população.

Esta é a prova concreta de como o investimento em cultura constitui uma aposta acertada, tanto na componente social (cultural, económica e educativa) e na sua afirmação como um pólo de modernização e desenvolvimento, numa cidade (e num concelho) em franca expansão populacional e transformação da sua paisagem urbana.

O imaginário associado ao cinema perdura para quem o vivenciou, pelo que importa passá-lo aos mais novos, tal como refere José Castelo Borges: “Há crianças que não sabem o que é um cinema, não imaginam que ver um cinema não é igual a ver televisão, cinema é sempre cinema” (Diário da Lagoa, Julho 2021).

A Mulher que Morreu de Pé é o novo filme de Rosa Coutinho Cabral que teve estreia nacional a 11 setembro. Um "ensaio cinematográfico” onde a realizadora revisita a vida e obra de Natália Correia, em toda a sua complexidade e contradições, (ainda) a tempo de a celebrar no centenário do seu nascimento. Curiosamente, ou não, a única região do país onde o filme não estreou foi aquela onde se passa uma parte significativa da acção, os Açores. Algo que devia convocar à reflexão colectiva, num momento onde a letargia aparenta ser o denominador comum, e o “deixa andar” passou a ser norma. A 5 Outubro é exibido, numa sessão especial, no Cineteatro Lagoense com a presença da realizadora e do actor João Cabral.

Metrobus a proposta para a criação de uma rede de metrobus por parte das candidaturas autárquicas do partido socialista aos municípios da Ribeira Grande, Lagoa e Ponta Delgada é, muito provavelmente, uma das iniciativas mais inovadores desta campanha eleitoral e que visa, muito simplesmente, dar resposta a um problema real e que tem sido profusamente negligenciado: os transportes públicos. Esta é uma medida que procura responder às ineficiências de mobilidade no eixo onde está concentrada a maior densidade populacional da ilha. Estão previstos fundos comunitários para corporizar esta iniciativa, fica (aqui) dado o impulso para transformar a coesão interna e melhorar (efectivamente) a qualidade de vida da população residente. 

[+] publicado na edição de 30 Setembro 2025 do Açoriano Oriental

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