terça-feira, 21 de julho de 2009

A liberdade que se impõe


[foto] Mário Correia

O Parlamento Açoriano foi invadido na última sessão plenária por uma onda de choque que pretende colocar de "quarentena" a liberdade de expressão.

Insinuar que comentários, entenda-se, e não insultos (como têm sido amplamente difundidos pelos media), efectuados online em plenário são condenáveis e que o "transgressor" se escondia por detrás do teclado, sem fazer uso da palavra, são factos que não correspondem à verdade. Primeiro: as intervenções em plenário não são efectuadas em canal aberto e são determinadas pelo regimento, pelo tempo, bem como pela estratégia partidária, isto para clarificar a primeira falácia; segundo, os ditos comentários em nada atentaram contra o bom nome dos parlamentares "visados", apenas constituíram a minha interpretação dos acontecimentos, estando obviando os envolvidos no seu direito de discordar, como eu discordo da forma e do modo como foi exteriorizada a sua "indignação". Em plenário insinuar de forma depreciativa que alguém é "vendedor de ananases" (profissão meritória e que num dos "incidentes" foi utilizada em tom jocoso) é uma "boa prática". Comentar online, como o fiz, que tal referência é um "insulto" já não é. Bizarro, no mínimo. Nunca me escusei ao debate, outros há que ignoram alguns temas propostos e abandonam, sistematicamente, a sala por um café ou um cigarro (e com isto não quero atentar contra a liberdade individual de ninguém, em particular, quero aqui apenas representar o quão chocante é a "personificação" do "insulto" e o processo de "moralização" subsequente)... Adiante.

As novas tecnologias acarretam vantagens e desvantagens, é certo. Pressupor que a "solução" para determinados "abusos" reside na sua "delimitação" ou "controle" é algo que refuto liminarmente e com o qual não posso estar de acordo. Não considero que comentar em plenário - via Twitter ou qualquer outra plataforma - seja descabido, sendo que esta é uma forma de aproximação com os eleitores e é, a meu ver, perfeitamente coabitável com a actividade parlamentar, desde que efectuada com ponderação e bom senso. Neste sentido, qual será então a razão pela qual a Assembleia da República fez, no último debate da nação, convites a diversos Twitters para “comentarem” os trabalhos plenários em directo?! Alguém arrisca um comentário?!


* Publicado na edição de 14/07/09 do AO (revisto e aumentado)
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