«(...) Não existe nada que provoque tanta concordância hoje como a ecologia. O problema é as mistificações que se produzem na abordagem às questões ecológicas, transformando-as em formas ilusórias de olhar a realidade.Um episódio recorrente, destes dias que supostamente correm, e que sinteticamente reflecte os antagonismos com que nos defrontamos nesta correria diária.
(...)
O homem contemporâneo parece necessitar da âncora do medo. É uma forma de não andar à deriva, mas as catástrofes naturais fazem parte da vida. Não têm de ter um significado. Não são boas nem más. São o que são.
Não quer dizer que, em alguns casos, os homens não pudessem ter feito mais, prevenção, ou menos, interferência. Mas, de repente, no meio da gritaria parece que nos esquecemos de uma verdade primária: a natureza é, intrinsecamente, violenta. Expele, vomita e retorce-se.
(...)
Foram estes os meus argumentos. Mas, claro, enquanto os enumerava já ninguém me ouvia. Mandaram-me ir, simpaticamente, lixar. Devíamos ir todos. Não há autoclismo, reciclagem ou discurso ecológico que faça desaparecer o lixo, devolvendo-nos uma natureza em estado puro. Amar a terra não é idealizá-la. É amá-la com as fragilidades, no seu todo. É descobrir alguma poesia no meio do lixo.»
Para ler na íntegra a crónica mista de Vítor Belanciano ao Público de hoje.
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