«Passos vai ser primeiro-ministro só não sabe é quando»A tentação para a analogia, local e regional, é grande.
Mas não o faço.
Ainda...
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«Passos vai ser primeiro-ministro só não sabe é quando»A tentação para a analogia, local e regional, é grande.
Fotografia António Barreto * Ilha de São Miguel (há + de 20 anos) |
Rua de Lisboa, Ponta Delgada, Set'10
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Tarifas promocionais abaixo dos 100 euros com luz verde de BruxelasNos termos legais, estas alterações entram em vigor 60 dias depois da sua publicação no Jornal Oficial das Comunidades Europeias, o que significa que as tarifas promocionais inferiores a € 100, nas ligações entre os Açores e o continente, devem estar disponíveis, ainda, durante o mês de Dezembro.
Já toda a gente pediu a Pedro Passos Coelho que desista da ideia perigosa e aberrante de rejeitar o Orçamento. Do dr. Durão Barroso até (anteontem) um grupo de banqueiros com Ricardo Salgado e Artur Santos Silva à frente. Mas no meio deste espectáculo o Presidente da República brilha pela sua ausência. É verdade que de quando em quando deixa cair uma frase prudente e sibilina, que entusiasma muito a televisão e os jornais. Não devia entusiasmar ninguém, porque o Presidente da República não está a cumprir a sua obrigação mais básica: prevenir solenemente o país de que a atitude de Passos Coelho (e a correspondente fita, que já dura há mais de seis semanas) prejudica o futuro dos portugueses. O silêncio de Cavaco é um acto grave de cumplicidade e de oportunismo.
É um acto de cumplicidade, porque manifestamente encoraja um desvario, que nos vai trazer mais miséria e pobreza; e também porque ajuda Passos Coelho a conseguir que o partido aceite sem tugir nem mugir a sua extravagância e a sua inacreditável estupidez. Nunca o Presidente deveria dar o seu consentimento tácito a um exercício de irresponsabilidade, que põe em risco a vida já difícil da maioria da população e o próprio prestígio da República. E, em segundo lugar, o silêncio de Cavaco é um acto de puro oportunismo, porque se destina antes de mais nada a não hostilizar o eleitorado do PSD de que ele precisa para a eleição presidencial. O homem não quer entrar em guerra aberta com Passos Coelho, mesmo para evitar uma catástrofe, para não perder um voto do seu putativo eleitorado, um alto objectivo que a Pátria com certeza lhe agradecerá.
O pior é que esta subtileza de saloia nem sequer o levará a parte alguma. O português comum acha hoje Cavaco responsável pela questão do Orçamento e a sua reserva sem desculpa. As bandeirinhas que, segundo Alegre, ele distribui pela criançada não compensam o gesto de autoridade (e censura) que lhe cabia imperativamente fazer. O que parece muito hábil agora será um peso, provavelmente mortal, em 23 de Janeiro, caso Passos Coelho acabe, como ele promete, por empurrar Portugal para a impotência e o caos político. Se Cavaco se opusesse a tempo às manobras do PSD, valeria a pena um esforço para o repor em Belém. A neutralidade professoral, inteiramente inútil, que ele adoptou não o recomenda para coisa nenhuma e, muito em particular, para Presidente.
* Vasco Pulido Valente, in Público de 15 Out'10
«Carlos César anuncia suspensão dos aumentos em creches, amas, jardins de infância e ATLs»Uma decisão que (re)introduz justiça social perante as dificuldades impostas às famílias pelos 'cortes' das medidas de austeridade contidas na proposta de OE para 2011.
«(...) Was minimalism the last absurd, exhausted spasm of neophilia, the cult of the new that so defined modern taste? Or is it still, and will it remain, the ultimate refinement of aesthetic sensibility: the place we go when we have been everywhere else? The answer to both questions is yes. (...)»Recomendação de leitura para um sábado de Outono que mais parece de Inverno.
Maqueta Menos é Mais |
Fotografia Francisco Botelho
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Parque do Peru, Ponta Delgada, Out'10
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Fotografia Público |
Jazz Transatlântico
No primeiro dia, cumprindo a tradição, apresentou-se a Orquestra Angrajazz, desta vez com a participação especial do trombonista Luís Cunha. Dirigida, como habitual, por Claus Nymark e Pedro Moreira, a orquestra, integrada por jovens músicos residentes na Terceira, interpretou um repertório dedicado essencialmente à obra de Wayne Shorter.
Com alguma desenvoltura instrumental e boas intervenções por parte de Nymark (trombone) e Moreira (saxofone), destacou-se sobretudo a excepcional clareza e foco do trombone de Luís Cunha, a quem falta apenas um pouco mais de arrojo nas improvisações. Estranhou-se o facto de não ter acontecido uma única intervenção solista por parte dos músicos locais, factor que vem subverter toda a lógica que presidiu à criação da orquestra.
Actuou de seguida a Mingus Dinasty, banda que se dedica, há anos, a divulgar e interpretar o repertório do contrabaixista e compositor Charles Mingus. Formada por Wayne Escoffery ("sax"-tenor), Abraham Burton ("sax"-tenor), Alex Sipiagin (trompete), Frank "Ku-umba" Lacy (voz, trombone), Boris Kozlov (contrabaixo), Kenny Drew Jr (piano), e Donald Edwards (bateria), destilou um hard-bop extremamente eficaz, em que se destacaram as improvisações de Burton, contidas mas com enorme direcção, Lacy, brilhante no trombone mas um pouco excessivo nas intervenções vocais, e particularmente Kenny Drew Jr, sendo este quem melhor soube evocar o espírito de Mingus.
No segundo dia, o pianista Stefano Bollani entrou em cena como um furacão, fazendo antever o melhor. Com uma técnica prodigiosa e um drive rítmico bastante mais poderoso do que no seu último registo para a ECM, Bollani fez a música cantar e dançar, brincando com os tempos e intercalando sucessivas explosões harmónicas que potenciavam cada novo segmento das canções. A secção rítmica, formada por Jesper Bodilsen e Morten Lund, cumpriu, sem estar, no entanto, à altura da exuberância criativa de Bollani. Infelizmente, sucessivas tiradas de um humor igualmente exuberante, por parte de Bollani, interromperam o fluxo musical e acabaram por desconcentrar músicos e assistência.
Na segunda parte, a cantora Paula Oliveira apresentou o seu novo disco, Raça. Reunindo o trio - Leo Tardin, Bernardo Moreira e Bruno Pedroso - a um quarteto de trombones liderado por Lars Arens - com Claus Nymark, Luís Cunha e Rui Bandeira - Oliveira alinhou uma ambiciosa selecção de temas, entre originais e standards, e procurou um som novo e original. Com os trombones a marcar os melhores momentos do espectáculo - destaque para a versão de Cão - revelaram-se, no entanto, alguma falta de ensaios e, sobretudo, fragilidades da voz e postura em palco de Oliveira.
No último dia, após uma actuação da Orchestre National de Jazz que teve demasiado estilo e pouca substância, algures entre o pop cabaret dos Pink Martini e um lounge-rock estafado com pretenções vanguardistas (salvando-se, ainda assim, o carácter de entertainment da coisa e um jovem saxofonista e clarinetista, Rémi Dumoulin), seguiu-se aquele que foi o grande concerto do festival, o Transatlantik Quartet do contrabaixista Henri Texier.
Com Joe Lovano (saxofone), Steve Swallow (baixo eléctrico), e Aldo Romano (bateria), o concerto revelou quatro mestres absolutos nos seus respectivos instrumentos, a tocar com a inspiração, rigor e vitalidade que lhes garantiram já um lugar cativo na história do jazz. É um enorme prazer observar a forma como abordam os seus instrumentos, como trabalham sequências harmónicas injectando-lhes pequenos detalhes de uma enorme criatividade que transportam a música para um nível superior de comunicação. Exemplos máximos terão sido os solos absolutos de Swallow e de Romano, bem como toda a actuação, explosiva, de Lovano, que tirou proveito de um set enérgico e vibrante. Certeira foi também a combinação de timbres dada pelo contrabaixo e pelo baixo eléctrico. Surpreendente e inspirador.
Rodrigo Amado, Y/Público de 8 Out'10#
Rua de Lisboa, Set'10
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«(...) Parece que a Iª República cometeu o grande pecado de ser uma balbúrdia, - mas por oposição a quê? Pelos vistos, deve haver quem ache que o resto do mundo era, naquele primeiro quartel do século XX, uma espécie de pacífico jardim.
Não era; desde ocupantes de cargos eleitos a cabeças coroadas, do primeiro-ministro de Espanha ao arquiduque da Áustria, houve homicídios para todos os gostos naquela época. Não excederam, contudo, a morte massificada da gente comum; entre os anos de 1914-1918 - não tinha a nossa República quatro anos - houve simplesmente uma Guerra Mundial, neste continente e nas suas colónias. Quando essa Grande Guerra e a sua estúpida e inútil mortandade acabou, tinham acabado também vastos impérios: o dos Czares, varrido por duas revoluções e desmembrado; o Austro-Húngaro, despedaçado; e pouco tempo depois o Império Otomano. No culminar desse processo, fez-se o ensaio geral aos genocídios que seriam levados às maiores consequências nos meados do século XX europeu. A República Portuguesa lá aguentou, mas entre a Iª e a IIª Guerra Mundial nasceram o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, e regimes seus aparentados - como a ditadura nacional em Portugal - um pouco por toda a Europa. Desfez-se o sonho da Sociedade das Nações. Como eloquentemente diz a historiadora Zara Steiner, esta foi a época em que - por quase todo o mundo e sobretudo na Europa - “as luzes falharam”.
Perante isto, - ou melhor, esquecendo isto - há gente que faz da leitura da Iª República uma única lenga-lenga sobre como os líderes políticos portugueses da época eram defeituosos. Pois eram. Sem querer ser preciosista, esse é exatamente o sentido da República: sermos governados por gente imperfeita. Precisamente porque não existe gente perfeita, nem gente que herde a predisposição para governar vitaliciamente um país, o princípio republicano é o de que nem o nascimento nem a classe social devem vedar alguém de eleger e ser temporariamente eleito. Isto é uma coisa boa, e uma coisa simples. Às vezes há coisas assim. É pueril alegar que ser governado pelo filho do rei da Casa de Bragança tivesse sido melhor do que ter sido governado pelos Srs. Teófilo Braga ou Bernardino Machado, mas quer o sentimento anti-progressista que rasguemos as vestes por cada vez que este país deu um salto político. Pelo grande gozo que é “irritar a esquerda”, pratica-se o contorcionismo da mioleira. Mesmo assim, o liberalismo continua a ser melhor do que o absolutismo; e a república melhor do que a monarquia, a democracia melhor do que a ditadura. Melhores porque regimes mais livres e mais iguais, mais próximos do princípio de que a sociedade se pode - e deve - auto-governar. (...)»Leitura obrigatória para esta crónica (e todas as outras) do Rui Tavares, publicada ontem com o Público, sobre aqueles que, em ano de Centenário, 'depreciam' a República e 'suspiram', quiçá, por tempos idos.