A crise veio para ficar, dirão alguns. O certo é que ela tem permanecido mais do que seria desejável e irá continuar a condicionar o nosso quotidiano até final do corrente ano e, muito provavelmente, durante o próximo.
Para o distinto economista Daniel Bessa só agora é que estamos a chegar aos "momentos mais duros". Ainda mais?! A questão que se coloca é: qual o corte que se segue?!
Para fazer cumprir as metas estabelecidas e com a derrapagem na receita fiscal a gorar as previsões do Estado, o grau de exigência irá aumentar. Não existindo um aumento do prazo de ajustamento, terá de ser tudo aplicado e conseguido durante o próximo ano. E, neste processo de consolidação, será muito difícil a economia crescer (nas palavras 'insuspeitas' de Manuela Ferreira Leite) e será utópica a ideia de que as exportações são o único motor de alavancagem de toda a economia nacional. Apesar de ser o sector que melhor desempenho tem tido, a sua intensidade já foi menor no 1º trimestre deste ano, fruto do desaceleramento de toda a economia europeia e sobretudo dos países para os quais exportamos, que, salvo a Alemanha (e não será por muito tempo), estagnaram.
O erro alemão (para não dizer europeu) passou por considerar "que a crise era apenas dos outros, dos gregos, dos portugueses, dos espanhóis e dos italianos". Por esta hora, isso "já não é uma opção", pela simples razão de que hoje, "a política económica não pode fazer-se nos limites exclusivos das fronteiras nacionais" (in Spiegel Online).
Mas a (in)tranquilidade alemã fez despertar a Europa. E o discurso da 'austeridade absoluta' passou a dar lugar à receita do 'crescimento obrigatório'. Somam-se os planos para reduzir os assustadores números do desemprego e devolver (!) a confiança aos consumidores. Mas tal não se vislumbra tarefa fácil e agora são também aqueles que mais induziram ao consumo os que mais sofrem com ele - os bancos. E são, também eles, os que mais desconfianças geram no sector financeiro, que é quem, no fundo, balança todo o sistema económico onde nos inserimos.
Enquanto escrevo estas linhas discute-se se irá haver ou não resgaste à Espanha, a maioria parlamentar na Assembleia da República chumba a descida do IVA na restauração, comenta-se a perda dos feriados nos próximos anos e o quão absurdo esta decisão é (pelo menos nos propósitos que consubstanciam esta interrupção) e Batista Bastos assinala com a sua habitual acutilância a 'miséria moral' das declarações de António Borges, conselheiro do governo da República para as privatizações, ao afirmar sem dó nem complacência que "a diminuição de salários, em Portugal, não é uma política, é uma urgência e uma emergência." A indignação foi a que foi e teve a anuência e patrocínio do 1º Ministro, cuja acção irracional está, nas palavras do Prof. Viriato Soromenho-Marques, «a rasgar todos os limites» da nossa dignidade.
E antes mesmo de terminar, a agência de notação financeira Fitch lança um relatório (mais um!) onde 'acredita' que a Europa vai sair da actual crise, mas, para isso, precisa de mais medidas de austeridade. Os cenários são mais ou menos catastróficos e incluem 5 possibilidades para um futuro próximo: "a saída da Grécia; uma quase-união orçamental; um euro-marco (onde os países mais fortes, como a Alemanha, deixariam o euro); uns Estados Unidos da Europa; o fim da união monetária" (in Agência Financeira).
Nada que faça perder a tranquilidade de um país à beira de um campeonato europeu de futebol. Por cá, os tempos não são menos conturbados, mas assistimos à renovação e à projecção do futuro e do património comum com responsabilidade e confiança.
* Publicado na edição de 11/06/12 do AO
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quinta-feira, 14 de junho de 2012
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